São José de Anchieta e o legado dos jesuítas poderiam evitar o relativismo. Mas, no caminho havia um Pombal
Canonizado em 2014 pelo Papa Francisco, São José de Anchieta chegou ao Brasil em 1553 com a missão de catequizar os índios. Dirigiu-se à capitania de São Vicente, onde foi um dos fundadores da cidade de São Paulo.
O Apóstolo do Brasil deixou como herança a “Gramática da Língua Brasília” e o primeiro “Vocabulário Tupi-Guarani”, livros sobre o idioma dos indígenas que habitavam o Brasil durante o período da colonização portuguesa. Escreveu poemas, sendo o mais conhecido o Poema à Virgem Maria, que redigiu durante o cativeiro, crônicas sobre a vida colonial e peças de teatro.
Neste dia de lançamento do site do Instituto Visconde Cairú, aproveita-se para pedir a intercessão daquele que é um dos padroeiros do país. Intercessão para perceber o Brasil como ele é e, a partir disso, buscar as melhores soluções para os problemas.
Uma outra história era possível
O principal desafio para qualquer pessoa entender a história é evitar o anacronismo, que significa pensar o passado com os termos e conhecimentos de hoje, como se no passado soubessem disso. É um problema que afeta a direita e à esquerda, porque não se trata de ideologia tanto quanto de analfabetismo, funcional ou não.
Assim, uma explicação rápida para entender os motivos da catequização dos indígenas e o conflito que ela representou entre os grupos sociais era que se tratava de uma aposta. Havia dois grupos, um que acreditava que os índios eram animais parecidos com os humanos e outro que os tinha como humanos. Se fossem capazes de ter Fé, seriam humanos, se não fossem, seriam animais.
Essa explicação não anula outros motivos, sequer é propriamente uma explicação. É uma representação metafórica de um dos conflitos que se manifestavam na catequização dos índios. E, acima de tudo, mostra que se trata de um conflito espiritual sobre o conceito de ser humano.
Deste modo, o ódio aos jesuítas por parte dos escravocratas deriva de provarem que os índios eram humanos. Porém, sendo os professores dos brasileiros, eles tinham um papel importantíssimo na educação e na extinção de superstições. Pois onde há superstição, não pode haver verdadeira civilização.

Acontece que, hoje, pensa-se que a Inquisição foi criada para perseguir as bruxas e espalhar superstições. Na verdade, a Inquisição foi criada para proteger as pessoas acusadas de bruxaria e dar-lhes o devido processo, evitando linchamentos. Muitas das penas que são retratadas como dadas a bruxas sequer podiam partir de um tribunal da Inquisição, que evitou muitas condenações por bruxaria ao exigir provas das acusações.
Dito isso, com a expulsão dos jesuítas em 1759, o Brasil ficou sem professores e, acima de tudo, refém das superstições dos iluminados de plantão.
O caso mais icônico que ilustra o efeito da expulsão dos jesuítas deve ser a prisão de Dom Vital, preso por se opor à maçonaria e defender a Igreja. Como uma nação de vocação e espírito católico poderia ter um bispo preso por obedecer a Igreja?
A única explicação razoável é afirmar que, ainda que houvesse algo de católico na nação, ele já estava em declínio.
Da abolição da Escravidão aos dias atuais
Com a abolição da Escravidão, em 1888, a Princesa Isabel foi avisada que perderia o trono e respondido “mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria”[1]. No ano seguinte, aconteceu o golpe da República e a conclusão é que ele foi executado e apoiado pela elite escravocrata insatisfeita com o regime imperial.
Como resultado, uma onda de instabilidade marca a história do Brasil com diversas constituições, como a do Estado Novo [2] e do Regime de 64, servindo de marcos separadores. Porém, se há um elemento estável em tudo isso, é a superstição que se manifesta mais e mais à direita e à esquerda.
A religião oficial do Brasil é a superstição, única explicação possível para a forte presença do espiritismo, ainda que as próprias irmãs que tinham contato com os tais espíritos tenham relatado que tudo era um truque. Espiritismo esse que possui raiz no iluminismo pombalino.

Crer na eficácia da magia é uma marca da supersticiosidade do Brasil. Afinal, como um país “iluminado” não tem levantamentos técnicos pormenorizados dos cientistas e pesquisadores de plantão, apoiados pela CAPES, para saber qual a eficácia das superstições? Dom Boaventura Kloppenburg tem elas enumeradas a falta de tal lista é um problema.
Destaca-se que entre “crer na eficácia da magia” e “crer na ação demoníaca através da magia” são coisas distintas. Um católico consegue crer na eficácia da ação demoníaca até nas outras denominações cristãs na medida em que são “erro” e “mentira” e o demônio é o Pai da Mentira. E a mentira não possui substância, mas é subtração desta.
O próprio Dom Boaventura Kloppenburg relata a diferença. E resta a pergunta: qual o motivo de Deus permitir um fiel que sofra ação demoníaca por uma magia jogada contra ele? Em muitos casos, além do mal sofrido, há o mal da soberba que atinge o fiel “vencedor”.
Na prática, há uma confusão entre correlação e causalidade derivada de relatos de segunda mão, ou seja, alguém relata o que aconteceu com outra pessoa, não consigo. É como perceber que a mudança de estação é acompanhada de aumento de gripes e propor que se crie um jeito que as estações não mudem.
Dirigindo-se aos católicos
Em 1959, Dom Boaventura escreveu o Nossas Superstições, publicação do secretariado Nacional de Defesa da Fé, onde enumerou diversas superstições dos brasileiros. E, por ser um documento anterior ao Concílio Vaticano II, pode-se imaginar que este não é culpado pelo problema.

Em todos os casos, a questão é que há católicos que acreditam na eficácia dos feitiços, talismãs e rituais de outras religiões até mais do que na eficácia dos sacramentos. Isso sem falar no problema do espiritismo e das religiões afro como “novas revelações” para “corrigir Cristo”.
O sincretismo (para um católico) é acreditar que o ritual de uma outra religião é eficaz como um sacramento. Quando o fiel acredita que o sacramento foi instituído por Deus, faz diálogo inter-religioso. Quando acredita que foi instituído pelo demônio, vira maniqueísta.
E a situação atual é devedora da expulsão dos jesuítas que vieram, dentre outras coisas, para acabar com as superstições e erros maniqueístas. Hoje, ao invés, elas são fontes de doutrina (à esquerda e à direita).
Tal falta de educação do país não é um problema que pode ser resolvido para ontem. E, acima de tudo, não é um problema que pode ser resolvido se o educador não focar em se curar da doença da própria estupidez.

Qualquer um que olhe os dados dos vestibulares percebe que os melhores alunos se dirigem para os cursos mais concorridos e as licenciaturas estão com as piores notas.
Se a herança jesuíta seria a Terra de Santa Cruz, a herança de Pombal é a Terra do Sincretismo. E, hoje, a religião oficial do Brasil, quer goste-se ou não, é esta.
Neste site, o objetivo é reunir textos fruto dos esforços dos próprios autores de curar a própria estupidez, na esperança de que ajudem outros brasileiros a ficarem mais próximos da verdade.
Que Nossa Senhora Aparecida do Brasil e São José de Anchieta intercedam pela nação.
[1] A princesa Isabel teria proferido essas palavras ao Barão de Cotegipe.
[2] Essa foi apelidada de Constituição Polaca, pois foi baseada na Constituição da Polônia, em 1936.
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