Conceito de Grande Monarca de Nostradamus e a Terceira Roma como bases do expansionismo continental russo através de seu messianismo
O conceito do Grande Monarca está relacionado com a noção de Terceira Roma e traz uma ligação com o conceito escatológico de katechon, uma palavra grega que significa “aquele que restringe”, interpretada como significando aquele que restringe a vinda do Anticristo.
O fim do mundo é inevitável. Embora o homem tenha obtido a verdade de Cristo, devido à sua natureza pecaminosa, ele caiu em apostasia, resultando na vinda do Anticristo. Entretanto, com base na Segunda Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses, no Livro do Apocalipse e no Livro de Daniel, Santo Agostinho e São Jerônimo desenvolveram o conceito da Roma Cristã, como um “mundo metafísico cuja missão é guardar a Verdade de Cristo”.
A Terceira Roma
Uma influência importante na conceituação do Terceiro Reich, de van den Bruck, foram as obras do escritor russo Fyodor Dostoevsky sobre a tradição milenar russa da Terceira Roma.

O Grande Monarca seria um hipotético sucessor do legado da Roma Antiga; a “primeira Roma”, seguida pela “Segunda Roma”, geralmente referindo-se a Constantinopla, a capital do Império Bizantino, sede original da Igreja Ortodoxa Oriental, chamada não oficialmente de “Nova Roma”.
Embora o versículo de 2 Tessalonicenses tenha sido tradicionalmente interpretado como se referindo ao Império Romano, alguns entendem o katechon como o Grande Monarca ou um novo Imperador Ortodoxo, e alguns como o renascimento do Sacro Império Romano.
O Último Imperador Romano, Último Imperador Mundial ou Imperador dos Últimos Dias, é uma figura da lenda medieval europeia, que se desenvolveu como um aspecto da escatologia na Igreja Católica. A lenda prevê que no fim dos tempos, um último imperador apareceria na Terra para restabelecer o Sacro Império Romano e assumir a sua função como katechon bíblico que impede a vinda do Anticristo.
A influência de Nostradamus
Joaquim de Fiore e Savonarola – frade excomungado por heresia e sedição; um protoprotestante que foi uma das referências de Lutero – e outros foram fontes importantes para as profecias de Nostradamus. Essas profecias moldaram a expectativa para a vinda do Grande Monarca e da Terceira Roma. Os fundamentos bíblicos para o conceito do Grande Monarca podem ser encontrados, também, no Antigo Testamento em Isaías, Jeremias, Daniel e Zacarias, e no Novo Testamento.
O conceito do Grande Rei tem sido comumente associado em revelações místicas. No século XVI, Nostradamus era conhecido por ter profetizado que “um grande e terrível líder surgiria do céu” no sétimo mês de 1999 “para ressuscitar o grande Rei de Angoumois”.
Contexto histórico das ideias de Nostradamus
Antes de prosseguir com a exposição da influência das ideias da Terceira Roma sobre a Rússia, é necessário fazer uma ambientação histórica para explicar as influências que Nostradamus teve e que ajudam a explicar seu pensamento.

Nostradamus nasceu em 14 ou 21 de dezembro de 1503 em Saint-Remy-de-Provence, Provença, França. Foi batizado Michel. Era um dos pelo menos nove filhos do notário Jaume (ou Jacques) de Nostredame e Reynière. Sua mãe era neta de Pierre de Saint-Rémy, que trabalhava como médico em Saint-Rémy.
A família de Jaume era originalmente judia. Mas seu pai, Cresquas, comerciante de grãos e empréstimos com sede em Avignon, converteu-se ao catolicismo entre 1459 e 1460. Cresquas adotou o nome cristão “Pierre” e o sobrenome “Nostredame” (Nossa Senhora); santa em cujo dia sua conversão foi solenizada.
Vale relembrar que Avignon foi sede do Antipapa Católico durante o Cisma do Ocidente. Havia dois Papas, um em Avignon e outro em Roma. Cisma resolvido posteriormente pelo Concílio de Constança, em 1417.
Em 1589, o conceito da Terceira Roma ressurgiu no documento fundador do patriarcado russo. Nele se afirmava que os governantes da Rússia garantiam a fé não apenas do seu país, mas do mundo inteiro. Os Velhos Crentes, cristãos ortodoxos orientais que mantêm as práticas litúrgicas e rituais da Igreja Ortodoxa Oriental, tal como existiam antes das reformas do Patriarca Nikon, de Moscou, entre 1652 e 1666, continuaram a empregar a doutrina da Terceira Roma nos séculos XVIII e XIX. O conceito ganhou ascendência no início do século XX com a ascensão do comunismo na Rússia.
Apocalipticismo Cristão na Literatura Russa

O apocalipticismo cristão, de acordo com Yaacov Yadgar, autor de Mysticism in 20th Century Hebrew Literature
“é uma das características proeminentes da literatura e do pensamento teológico e político russo durante o primeiro quarto do século XX. Ao contrário do cristianismo ortodoxo russo, a literatura apocalíptica russa enfatizou o aspecto coletivo-nacional, sendo o herói da narrativa o povo russo.”
As raízes do apocalipticismo, explica Yadgar, são mais profundas e ricas na literatura religiosa russa do que na literatura da Europa Ocidental. Uma possível explicação é o elevado valor do sofrimento na cultura russa. O pensamento apocalíptico é encontrado na literatura russa do século XIX, por escritores que desejavam reviver a tradição não europeia da Rússia. Como Nikolay Gogol, Fiodor Dostoiévski, Vladimir Solovyov e Konstantin Leontiev. Por exemplo, a redenção dependia da superação do Ocidente pelo Oriente, o que colocava em perigo o espírito oriental original da Rússia.
Ascensão do Comunismo e do Expansionismo
Muitos identificaram o comunismo com a caracterização de Nikolai Berdyaev da Terceira Roma. Ele acreditava ser o “messianismo russo”, que diferenciava os russos de todos os outros povos e definia a sua missão histórica. Este fato permitiu que pensadores centrais, como Berdyaev, vissem o comunismo como redenção messiânica, e a Revolução Bolchevique como guerra apocalíptica de Gog e Magog. Entre o Bem e o Mal.

Conforme observado por Konstantin Burmistrov e Maria Endel – referindo-se à tradição que remonta a Nikolay Novikov, que trouxe o Rosacruzianismo para a Rússia – as visões religiosas e políticas dos Rosacruzes Russos exerceram grande influência no desenvolvimento da Rússia. Filosofia romântica e utopismo social na primeira metade do século XIX, bem como do movimento eslavófilo, que influenciou a filosofia religiosa russa de Vladimir Solovyov e Berdyaev.
Assim, concluem os autores, “como componente da perspectiva maçónica, a Cabala tornou-se um fator importante na história e cultura russas”. De acordo com E.D. Kuskova, uma proeminente jornalista russa, ela e seu marido, juntamente com Berdyaev, foram membros fundadores da organização política maçônica que se originou logo após a virada do século, e que posteriormente fundou a União de Libertação, a organização que os liberais e radicais russos usaram para provocar a Revolução de 1905, conhecida como a Primeira Revolução Russa.
A Terceira Roma tornou-se a Terceira Internacional de Lenin. Stalin usou a Terceira Roma como um símbolo da grandeza russa e da independência das potências imperialistas hostis. Após uma série de decretos na década de 1930, esperava-se que os historiadores reconhecessem o papel “progressista” que a Rússia desempenhou, ao colocar os povos não-russos sob o jugo daquele que se tornaria o primeiro estado comunista do mundo.
Durante a Guerra Fria, os observadores ocidentais interpretaram a adoção da doutrina da Terceira Roma como prova das ambições continentais do “Expansionismo Soviético”.
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