Anexação do Essequibo por Nicolás Maduro vai além das reservas de petróleo da Guiana
Ainda neste ano, o então presidente da Venezuela, Nicolás Maduro promulgou uma lei que prevê a anexação do Essequibo, região atualmente pertencente à Guiana (não a Francesa). O tema, contudo, já era pauta de discussão internacional antes das eleições de 2022.
Em meio às tensões, o Reino Unido enviou um navio de guerra para a Guiana, como sinalização de que tem interesse em que os planos de Maduro não prosperem. Como único país sul-americano com idioma oficial inglês, não se trata de algo insignificante. A capital da Guiana, para se ter uma ideia, chama-se Georgetown.
O principal motivo levantado para a disputa são as reservas de Petróleo na região. Porém, é estranho afirmar que a Venezuela disputaria o Essequibo, um território maior do que a Inglaterra, só por petróleo.
Entenda-se, o petróleo, por si, não tem valor. É preciso extraí-lo, processá-lo e vender os produtos derivados de petróleo. E não é razoável supor que a Venezuela esteja em condições de, tendo mais reservas, imediatamente explorá-las.
O que significa que não se trata simplesmente de a Venezuela ter o petróleo, mas trata-se de alguém não o ter. Principalmente no Essequibo.
A real disputa
Poder. É isso que se disputa ao brigar por extração e processamento de petróleo. O dinheiro é um subproduto. Por mais que muito se fale em carros elétricos, a tendência é que a moda passe e os combustíveis fósseis permaneçam.
E a Europa sobrevivendo ao corte do fornecimento do gás russo sinaliza uma menor influência russa neste sentido hoje. Porém, não se pode negar a influência da invasão da Ucrânia e o interesse em manter a Rússia forte na negociação com a Europa, como um motivo para reacender a disputa histórica pela região.
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A questão é entender qual o outro jogador no ramo do petróleo: os países árabes. E, se há um interesse em ter o controle das reservas de petŕoleo da Venezuela (assim como o gás natural ucraniano) é ter poder de barganha com os países árabes.
Entenda-se: não se trata de extrair e processar petróleo, trata-se de deter o controle de quem, como, quando o fará e a quem serão destinados os produtos e os ganhos. E aquele que detiver o controle das reservas da Venezuela terá um bom poder de barganha frente aos principais fornecedores do mercado mundial: os países árabes.
Os “Big Five“
Neste sentido, há cinco países cujos movimentos são os mais importantes a serem considerados: Estados Unidos da América, Reino Unido, França, Rússia e China. A saber, são os que compõem permanentemente o Comitê de Segurança da ONU. Posição que os permite “motivar” os demais para ação ou inação.
Como o órgão foi criado após o final da Segunda Guerra Mundial, é fácil entender porque países como Alemanha e Itália não o compõe. E não é sem motivo que a Ucrânia pleiteou o assento da Rússia. E Taiwan pode pleitear o da China, pois esta recebeu quando era governado pelo grupo que se exilou na Ilha Formosa).
A criação da União Europeia, na prática, permitiu que a Alemanha, por procuração, tivesse uma influência maior na ONU, através da França.
E, se há algo evidente, é que a disputa na Venezuela é uma guerra por procuração. Porém, com Trump afirmando que não assinará uma proibição nacional do aborto e a defesa da legalização ser um requisito para o candidato democrata, é provável que não haja lado “bom” nessa história. O isolacionismo da direita americana pode levar à manutenção de Maduro no poder.
O papel do Brasil
Por mais que muito se critique o Brasil e o acuse de fraco, ele é a potência mais proeminente na América Latina, ainda que muitos pensem que isso deva-se em grande parte à reserva. Fato é que a indústria militar nacional tem uma sobrevida que confere vantagens ao Brasil num confronto regional.
Não que isso seja o suficiente para se falar em um “cenário otimista” ou que um “conflito regional” seja tão somente regional. Não entrando no mérito das guerras passadas, um conflito, hoje, não é um mero movimento de tropas.
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Por sua posição, o Brasil entra como negociador, motivo que explica o não alinhamento automático de Lula com Maduro. Se for necessária alguma ação armada, o apoio brasileiro é importante para a logística, talvez com excesso dos Estados Unidos.
Perceba-se, porém, o papel da imprensa para impedir um apoio direto de Lula a Maduro. É uma das evidências de que o Estado Brasileiro é fraco, ainda que grande (enquanto os EUA mantém um Estado Forte, ainda que pequeno). É pela fraqueza do estado que ele é aparelhado por famílias através de um nepotismo cruzado, onde políticos diferentes empregam pessoas da família dos amigos.
Também por isso, muitos negócios são feitos via estado. Ou seja, os políticos da vez usam da máquina pública para fazer negócios e enriquecerem particularmente, algo diferente dos EUA onde as instituições públicas e privadas mantém negócios independente dos governos (daí a figura do “deep state”).
Para Encerrar
Quando da invasão da Ucrânia, dois fatos foram fundamentais para o envio do apoio ocidental para Zelensky. Primeiro, que as forças armadas nacionais ficaram ao lado do presidente e, em segundo lugar, eles obtiveram algumas vitórias pontuais que fizeram a opinião pública exigir dos governantes o envio de auxílio à Ucrânia.
A situação da Venezuela não é a mesma, pois os militares estão alinhados a Maduro.

Não é a primeira vez que uma oposição tentou uma insurreição, com Juan Guaidó sendo o exemplo anterior mais conhecido, mas há outro caso em 2017 que terminou em conflito, mas não derrubou Nicolás Maduro.
Ou seja, não há razão para imaginar que Nicolás Maduro será derrubado desta vez. Se acontecer, os jogadores envolvidos devem advir dos Big Five. Porém, os EUA estão ocupados com o Oriente Médio e a Ucrânia. A China e a Rússia não parecem ter interesse na queda de Maduro. Restam a França e o Reino Unido.
Por sinal, ambas as nações possuem procurações na região: Guiana e Guiana Francesa. Se algo de fato acontecer dentro da Venezuela, é razoável supor que esses dois países assumam uma posição similar à polonesa em relação à Ucrânia.
Seria uma ótima hora para o Brasil oferecer apoio em troca de uma real parceria econômica com a União Europeia. Porém, é difícil imaginar.
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