Esquerda e Direita se diferenciam em diversos aspectos, mas é na cegueira ideológica que mais se distanciam
Como todos sabem, “esquerda” e “direita” passam a existir com essa nomenclatura na Assembleia Francesa de 1789. O que os diferenciava então? Em uma primeira leitura, pode-se ver na esquerda um pendor à oclocracia; na direita, à aristocracia. Naquele momento, era o que saltava aos olhos, mas não é aplicável à evolução histórica do conflito esquerda x direita.
Esquerda (Aristocrata) e Direita (Oclocrata)
A esquerda espanhola em 1936, em importantes aspectos, é aristocrática. Mesmo mantendo o apelo à mobilização das massas. Do outro lado, requetés e falangistas eram massas, ainda que os primeiros fossem carlistas.
No confronto atual entre Trump “MAGA” e o Partido Democrata, não apenas as lideranças, mas os votos do segundo situam-se maciçamente na aristocracia. Enquanto o MAGA se apresenta com apelos oclocratas.
O socialismo, como sabemos, é uma ficção, uma fé sem evidências. Sendo assim, o máximo que o crente conseguirá é ver o triunfo d’um capitalismo de Estado. Aliás, mais cruel e, geralmente (nem sempre), menos eficiente. Portanto, não se trata de oclocracia x aristocracia ou de socialismo x capitalismo. Trata-se de as pessoas acreditarem nessas oposições clássicas.
Anticristãos
Voltando a 1936 e a 1789. Há outra oposição: cristãos x contestadores do cristianismo. Nesses dois momentos, sim, direita marcadamente cristã, esquerda marcadamente anticristãs.
Todavia, cumpre esclarecer que o esquerdista típico não é pobre e não tem pena dos pobres. Tampouco sentindo-se culpado pelos pobres serem tão pobres. O esquerdista sente-se culpado pelo que vê como “perverso”. Logo, daí repetirem esse termo em dez de cada dez parágrafos de seus artigos e teses acadêmicos.
Ora, essa culpa é cristã. O Evangelho a criou originalmente. Poder-se-ia falar então num “cristianismo sem Deus” ou, pelo menos, “sem Igreja”. Mas aí veio o Papa Francisco e…
Pobre e de Direita
Os pobres de verdade votam à direita não apenas nos Estados Unidos. Votam e votaram alhures. E votam à direita por motivos oclocratas, tal lhes pareçam esses aristocratas de esquerda “bonzinhos” uns hipócritas, para dizer o mínimo.
O que me parece diferenciar esquerda e direita desde 1789 e numa constante imutável é ceticismo x idealismo. A direita, mesmo quando reativa, não se permite ser sonhática, recusa as utopias. Somos o que somos. Afinal, a política não tem o poder de nos transformar. Embora possa nos disciplinar, punindo exemplarmente aos transgressores disruptivos.
A redenção, sublime, está ao alcance de Deus. Portanto, não do homem em relação a outro homem ou da sociedade em relação ao indivíduo. Conquanto a esmola, no Evangelho, não redime o agraciado. Ela pode ajudar na redenção do esmoler. Ou seja, redenção perante Deus pela esmola com recursos próprios. Não o às custas do Estado ou “dos ricos”.
Fé e Ceticismo
As fés no Estado ou na “ciência” ou na filosofia iluminista de vertente kantiana são quimeras. Quem acredita nelas, talvez se sinta melhor à esquerda, essa fábrica de utopias, de não lugares. Pois a tudo isso respondo com profundo ceticismo.
Creio em Deus. Em mais nada. Por isso me sinto tão à direita.