O retorno do Complexo de Vira-Lata no velório da “Pátria de Chuteiras”

Nelson Rodrigues cunhou a expressão “complexo de vira-lata” para o sentimento pela perda da Copa de 1950. Porém, completaria depois com a célebre “o brasileiro não tem motivos pessoais ou históricos para a autoestima”, extensiva a outras sentidas deficiências. 

No futebol, a geração de Pelé, depois a de Zico (para não ficar citando muitos nomes), a de Romário e de Ronaldo, redimiram as qualidades pátrias. Pois na ausência de um Nobel ou de sucesso econômico, passou-se a se falar na “pátria de chuteiras”, espécie de consolação pelo resto. 

Lendo os comentários no Globo Esporte, centenas deles, após rotineiro fracasso do time da CBF, notei o quanto anda vibrante o sentido original da expressão de Nelson, o grande filósofo da brasilidade. Restrita aos azares das interações entre pés, cabeças e uma bola. Do resto, não mais se fala, muda-se de assunto. Não é mais “o país do futuro”, pois ficou velho antes de ficar rico.

Depois de velho… 

Não é que eu goste de futebol, chega a ser chato, mas tenho visto a Eurocopa. Tanto talento combinado à organização e uma garra, digamos, uruguaia, até melhor na verdade. Fico pensando que os jogadores do Brasil jogam nos mesmos clubes que Lamine Yamal, Bruno Fernandes e Xavi Simons. Em times de níveis acima até do que o de Nico Williams. 

Eu não ligo para a seleção. Tampouco para o Nobel. Porém, o sucesso econômico seria bem-vindo. Entretanto, parece cada vez mais distante. Só fiquei triste esta noite, pois sou Flamengo e a derrota da seleção brasileira adiou a volta dos uruguaios ao time de Tite . Estão fazendo falta. Empatamos com o Cuiabá no Maracanã. Que falta nos faz Arrascaeta. Aquela disposição, digamos, uruguaia. 

Vira-lata? Não se fala mais nisso a não ser para o futebol. Meu livro a respeito1 vendeu bem na primeira edição, em 2012. Na última, em 2020, fracassou. Como o time da CBF.

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  1. ver SCHOMMER, Aurélio; História do Brasil Vira-Lata: Razões Históricas da Tradição Autodepreciativa Brasileira, LDM Editora, 2ª edição revista e ampliada, Salvador, BA, 2020. Para adquirir seu exemplar na Amazon clique aqui. ↩︎

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By Aurélio Schommer

Escritor, historiador e professor. Membro Titular no Conselho Curador na empresa Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb). Membro no Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Produtor de conteúdo no Canal Enciclopédia de História (Youtube) - https://www.youtube.com/c/EnciclopédiadeHistória

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