Em meio a ditames verdes desastrosos e cortes devastadores nos meios de subsistência dos agricultores, as elites ambientalistas desconectadas da realidade em Bruxelas parecem ter esquecido de onde vem sua comida
Esta tarde, agricultores da União Europeia reuniram-se em frente ao Parlamento Europeu e marcharam até o Berlaymont, a sede da Comissão Europeia. Realizada pela COPA-COGECA, a organização reúne 22 milhões de agricultores europeus. Logo, a manifestação deveria, por direito próprio, servir de alerta para a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Os sindicatos entregaram uma petição assinada por 6.335 organizações. Ademais, juntamente com um par simbólico de botas. Um protesto simbólico contra os planos da UE de dividir a Política Agrícola Comum (PAC) e cortar os subsídios agrícolas.
O orçamento, anunciado hoje, inclui a consolidação da PAC em um único envelope de gastos nacionais. Mas também a redução dos subsídios em 20% a 25%. Ou seja, um corte entre €80 bilhões e €100 bilhões em termos reais. Porém, propõe um teto de €100.000 ao pagamento que qualquer fazenda pode receber.
Por fim, os Estados-membros com dificuldades financeiras recebem margem de manobra para saquear o dinheiro dos agricultores. Tudo em prol de outras prioridades, como defesa e política industrial.
Marcha contra os Eurocratas Ambientalistas
A marcha de hoje é somente a mais recente erupção d’uma longa revolta de agricultores contra os eurocratas ambientalistas. Pois em maio, agricultores poloneses reuniram-se na cidade de Szczecin, no noroeste do país, e expressaram sua indignação com a política agrícola da UE.
Entre outras preocupações, exigiram que o governo polonês revogue as restrições regulatórias autoritárias recém-impostas. Mas, também, recusar as exigências ambientais da UE.
Em muitos aspectos, isso continuou os protestos de 2024. Quando a Solidariedade Rural, o maior sindicato de agricultores da Polônia, organizou vários protestos e comboios contra o Pacto Ecológico Europeu. Bem como contra as importações de grãos da Ucrânia.
A Guerra dos Ambientalistas contas os Agricultores
Alguns dos maiores protestos de agricultores começaram na Holanda em 2019. Mas depois que o Conselho de Estado, o mais alto tribunal administrativo do país, decidiu que o país estava em uma chamada crise de nitrogênio. Ademais, acusou o governo holandês de não reduzir adequadamente as emissões de nitrogênio aos níveis aprovados pela UE.
O governo, alertou, teria que tomar “medidas drásticas” e reduzir as emissões, especialmente no setor agrícola. Para isso, o governo planejou comprar as fazendas mais poluentes e fechá-las. Cerca de metade do gado do país também seria abatido.
Em resposta, fazendeiros furiosos tomaram as estradas. Em outubro de 2019, milhares de tratores aglomeraram nas rodovias holandesas na direção de Haia. Portanto, causaram os piores engarrafamentos da história do país. Mas isso era somente o começo. As manifestações continuaram ao longo dos anos.
Manifestações e Insatisfações
Comboios de tratores estacionaram em centros de distribuição de supermercados e bloquearam portos de balsas. Portanto, vários Agricultores despejaram montanhas de esterco e queimaram fardos de feno nas principais rodovias. Incrivelmente, o governo holandês se recusou a recuar.
Em 2022, revelaram que fechariam cerca de um terço das fazendas holandesas para cumprir as metas impostas pela UE. E em 2023, o governo produziu uma lista de aproximadamente 3.000 fazendas “poluidoras de pico” fechariam à força.
Protestos semelhantes, embora menos dramáticos, ocorreram na Irlanda em 2023. Pois na época o ministro da Agricultura admitiu que, para cumprir as metas estabelecidas no Pacto Ecológico Europeu, forcariam os agricultores a abater cerca de 200.000 vacas. Uma das poucas opções realistas para a Irlanda atingir a meta e reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 55% até 2030.
N’outras palavras, o governo irlandês considerou seriamente abater desnecessariamente animais para “salvar o planeta”. Felizmente, meses depois, o governo admitiu que não tinha planos de realmente levar isso adiante, e que se tratava apenas de um cenário hipotético.
Ataque dos Ambientalistas da UE
Tudo isso é só uma parte do ataque mais amplo da UE aos agricultores. Sendo assim, o programa “Do Prado ao Prato” de 2020 ordenou que os estados-membros, até 2030, reservassem 10% das terras agrícolas ä natureza. Mas também convertessem ao menos 25% das propriedades em produtos orgânicos.
Também exigem redução no uso de fertilizantes em 20% e pela metade o uso de pesticidas químicos. Porém, descartaram este último eventualmente.
Governos Subservientes às Agendas
É simplesmente desconcertante que os governos se sintam encorajados a tratar os agricultores dessa maneira, sob o comando da UE. Afinal, a agricultura é vital às economias de muitas dessas nações. A Holanda é, na verdade, o segundo maior exportador de alimentos do mundo. E alimentos, bebidas e produtos hortícolas representam quase 10% do total das exportações de bens da Irlanda — muito à frente de qualquer outro setor. Embora a agricultura represente cerca de 3% da produção total da Polônia, emprega 1,2 milhão de pessoas.
Na UE como um bloco, quase nove milhões de pessoas — ou 4% de toda a força de trabalho — ganham a vida diretamente de uma fazenda. Ou seja, quaisquer mudanças impostas pela UE ao setor agrícola, sejam resultado do Net Zero ou de mudanças orçamentárias, são potencialmente catastróficas aos agricultores no continente.
Presumivelmente, é difícil entender a importância do trabalho sujo e manual, do anoitecer ao amanhecer. Principalmente quando a única coisa que se tem de contato com a terra são os vasos de plantas em seu escritório climatizado em Bruxelas.
No entanto, as decisões elaboradas por eurocratas desinformados podem destruir não apenas meios de subsistência, mas gerações de legados familiares. Num sentido mais prático, o tratamento descuidado da UE aos agricultores também ameaça a segurança alimentar do continente.
Segurança Alimentar
D’onde a UE acha que virá o jantar, se expulsaram do mercado ou fecharam as fazendas europeias à força? O bloco já importa €171,8 bilhões em alimentos e produtos agrícolas por ano — um aumento de 8% em relação ao ano passado. Se a UE expulsar os agricultores restantes de suas terras, trocará produtos locais por longas e frágeis cadeias de suprimentos. Ademais, que podem romper-se numa única estação de seca ou início d’uma guerra. Como muitos dos cartazes de agricultores em protesto nos lembram:
Sem agricultores, sem comida, sem futuro
Ideologia Verde
Por que as elites europeias se recusam a ouvir? Por que insistem em perseguir implacavelmente as pessoas que colocam comida nos nossos — e nos deles — pratos? Grande parte disso é explicado pela adesão fanática do establishment europeu à ideologia verde dos ambientalistas.
Mas, no que diz respeito à recente reestruturação orçamentária, talvez as elites urbanas estejam realmente muito distantes de como o mundo real funciona e as pessoas reais vivem. Muitos, sem dúvida, convenceram-se de que seu presunto cru e couve orgânica vêm do supermercado, e não da terra. Tampouco do trabalho árduo de pessoas que provavelmente votam em partidos assustadores de “extrema direita”.
Tomara que o protesto de hoje em Bruxelas force nossas elites arrogantes a prestar atenção à situação dos agricultores, antes que as prateleiras vazias o façam. A UE precisa ouvir. Ou a Europa passará fome.
Artigo originalmente publicado no European Conservative, sob o título “The EU’s War on Farmers“. Imagem de Javier Villamor. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.