Críticos Woke mais uma vez denunciam “O Senhor dos Anéis” de J R. R. Tolkien como propaganda racista e de extrema direita
Pobre J.R.R. Tolkien. Este titã da literatura inglesa e peso-pesado da alta fantasia dificilmente consegue passar cinco minutos sem ser rotulado de racista. Assim como de extrema direita ou de algum jeito ‘maligno’. Os suspeitos de sempre acusam rotineiramente a franquia O Senhor dos Anéis de Tolkien de promover o extremismo de direita e o radicalismo cristão. Mas até ameaçando excluí-la do cânone da fantasia.
O ataque mais recente a Tolkien vem da Universidade de Nottingham, mais especificamente num curso intitulado “Descolonizando Tolkien e outros”. Conquanto o módulo, liderado pela historiador e escritor Dra. Onyeka Nubia, visa desvendar supostos preconceitos raciais nos clássicos de fantasia de Tolkien e C.S. Lewis. Mas também pretende instruir os alunos sobre como “repovoar” o cânone literário britânico. Todavia, Nubia tenta alcançar esse objetivo ensinando aos jovens que Tolkien demoniza “pessoas de cor” em seus livros.
Um dos textos principais do curso argumenta que orcs — aqueles capangas horríveis e vilões criados por Tolkien — e outras criaturas malignas de pele escura resultam de “chauvinismo étnico”. O Dr. Nubia também afirma que Tolkien retrata as raças orientais da Terra Média — orientais, sulistas e homens de Harad — como tendo a pele mais escura porque queria que os víssemos como menos morais e virtuosos. Principalmente em comparação aos homens de pele clara, elfos e anões do Ocidente. Segundo o Dr. Nubia, tudo participa d’uma antiga “antipatia antiafricana” no cânone ocidental. Ademais, no qual retratariam os africanos como “o inimigo natural do homem branco”.
Loucura: Sim ou Sim?
Se você acha que parece loucura, é porque é. Mas o que mais esperariamos do Dr. Nubia? Afinal, este é o mesmo homem que escreveu para a BBC afirmando que a Inglaterra medieval “tinha populações diversas e africanos viviam lá”. Mas que a literatura da época mantinha um “chauvinismo étnico”, como em Paraíso Perdido, de John Milton. Assim como tem queixa semelhante com as obras de William Shakespeare, que acredita ter propagado a ideia d’um “passado inglês fictício e monoétnico”. Por causa de suas peças “sem referências diretas aos africanos que viviam na Inglaterra”.
Presumivelmente, nunca ocorreu ao Bardo que, centenas de anos após sua morte, as pessoas o acusariam de racista por não mencionar explicitamente todos os grupos étnicos minoritários. E por mais insignificantes em relação à maioria dos que viviam na Inglaterra na época de sua escrita.
Nem o primo mais infantil de “O Senhor dos Anéis“, “As Crônicas de Nárnia“, de CS Lewis, escapa da sombra da tal descolonização. De acordo com o curso do Dr. Nubia, esse conto de fantasia confuso sobre magia e animais falantes também jaz repleto de racismo. O módulo critica os fictícios “Calormen” por perpetuarem estereótipos prejudiciais. Pois tal raça fictícia de humanos é descrita como pessoas “cruéis” com “barbas longas” e “turbantes cor de laranja”.
Ataques à CS Lewis
Assim como seu amigo Tolkien, Lewis é frequentemente vítima de tédios woke, com seu trabalho regularmente criticado como reacionário e extremista. Georgina Mumford, de Spiked, lembra-nos que o Prevent, o programa antiterrorista do Reino Unido, certa vez incluiu as obras de Lewis e Tolkien numa lista de livros que podem encorajar a radicalização.
E Philip Pullman, autor d’uma série explicitamente ateísta “His Dark Materials”, não mede palavras ao chamar as “Crônicas de Nárnia” de “uma das coisas mais feias e venenosas que já li”. Mas tamvém de “propaganda religiosa”, “racista”, “misógina”, “vil”, “que odeia a vida”, “uma bobagem nauseante”, “repugnante”, “nojenta”. Ademais, “tão hedionda e cruel que mal consigo me conter quando penso nisso”. Ele fala, não vamos esquecer, d’uma série de livros infantis sobre escapar para uma terra mágica através de um guarda-roupa.
Intolerância Racial e Anticristã contra Tolkien e Lewis
Por que os mundos fantásticos de Tolkien e Lewis inspiram tanta raiva e ódio entre nossa elite cultural? Parte disso, certamente, deve-se à reação impulsiva contra qualquer coisa produzida por esses autores tão “masculinos, pálidos e antiquados” d’outrora. Pois vemos constantemente como que as nossas instituições, antes consagradas, agora tendem a opor-se ao cânone britânico tradicional. Já tido por antiquado, desatualizado, incompreensível.
E a substituí-lo por qualquer bobagem que encontre-se escrita por hijabis não binários, deficientes e poliamorosos (modernos, inclusivos, eminentemente identificáveis). Isso explica, em parte, as acusações bizarras e, francamente, bem infundadas de racismo tão frequentemente lançadas contra Tolkien e Lewis.
É claro que, quando trata-se especificamente de Tolkien e Lewis, o conteúdo de suas obras também desempenha um papel. Ou seja, sua fé cristã está no cerne das histórias que contam. Mmais evidente em Nárnia, onde Aslan, o leão, assume o papel de Cristo, sendo morto e, posteriormente, ressuscitado. E em “O Senhor dos Anéis“, os temas de redenção, tentação e bem versus mal dominam. Por conseguinte, o próprio Tolkien a descreveu como “claro, uma obra fundamentalmente religiosa e católica; inconscientemente no início, mas conscientemente na revisão”.
As fortes mensagens morais de Nárnia e “O Senhor dos Anéis” não estariam mais deslocadas no gênero de fantasia moderna. Repleto de obras como essa militantemente ateísta “His Dark Materials“, de Pullman, e a cínica e “corajosa” série “As Crônicas de Gelo e Fogo“, de George RR Martin.
O Patriotismo ‘Desavergonhado’
Mas Tolkien e Lewis cometem outro pecado ainda maior: o patriotismo desavergonhado. Lewis, nascido na Irlanda do Norte, prezava uma Grã-Bretanha de “cerveja, chá, lareiras, trens com compartimentos, uma força policial desarmada e todo o resto”. Tolkien captura de forma semelhante o charme e o calor do interior da Inglaterra nas tocas de hobbit. Assim como na erva-de-fumo e nos segundos cafés da manhã do Condado.
Hoje, confundimos esse elogio ao local com ódio ao mundo exterior. Na mentalidade moderna, é impossível amar o próprio país sem odiar o de outra pessoa. Mas isso não é verdade, obviamente. Contudo, as obras de Tolkien e Lewis remontam a uma época anterior à migração em massa e ao globalismo. Isto é, quando este país era mais tranquilo, mais seguro e mais confiável — uma ideia que hoje é tão boa quanto fantasia.
Não podemos deixar que os críticos escrupulosos e descolados manchem alguns dos maiores autores britânicos. O Senhor dos Anéis não é racista, e Nárnia não é de extrema direita e o que Tolkien e Lewis oferecem não é extremismo. Mas, sim, boa arte com bons princípios morais. A única radicalização possível aqui é contra a feiura de nossas elites culturais.
Publicado originalmente em The European Conservative, institulado “Why They Hate Tolkien“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.