Papagaios, Prostitutas, Trouxas e… Taylor Swift? O que toda essa papagaiada não têm a ver com a modéstia, ou os costumes, ou princípios, ou….

Quando os jesuítas vieram para o Brasil, estavam dispostos a negociar costumes, mas não os princípios. É o que relata Edgar Leite em “Predadores: Repensando o Brasil nos seus fundamentos morais“. Era por essa postura (não por modéstia) que os jesuítas procuravam catequizar os indígenas usando o idioma deles.

Isso não significa que os jesuítas não introduziram novos costumes, como novas técnicas agrárias para que os índios tivessem melhor qualidade de vida. E também não significa que não combateram costumes como o canibalismo. Mas significa que estavam dispostos a dar tempo para os índios converterem-se em seus costumes menos danosos (tolerando-nos). Afinal, princípios demoram para serem enraizados numa sociedade e, conforme eles são enraizados, fica mais e mais fácil ensinar as próximas gerações.

Costumes e Princípios… Mas não Modéstia

Não só, os costumes não necessariamente levam aos princípios. Porém, os princípios trazem costumes. Além disso, os costumes são fáceis e rápidos de serem ensinados, enquanto elucidar um princípio a partir de um costume pode ser o trabalho de uma vida.

Para os que quiserem se aprofundar, basta a leitura de “Os Jogos da Vida“, de Eric Berne. Porém, em resumo, as pessoas aprendem costumes por imitação e, não raro, muitos dos costumes são simplesmente consequência do meio social. Evidente que, exatamente por isso, as pessoas podem usar dos costumes sem possuir os mesmos princípios.

O Papagaio, a Prostituta e o Trouxa

Um papagaio pode aprender a Odisseia e nem por isso será inteligente, mesmo que recite em grego clássico. Uma prostituta pode se vestir com modéstia para um evento, e nem por isso será casta. Aprender a retirar os princípios do exterior pelo qual uma pessoa se apresenta faz parte da maturidade. E os incapazes de fazer isso são chamados de “trouxas”. Inclusive, tal ensino faz parte da educação (do “trazer para fora”, como alguns gostam de definir “educação”).

Não raro, os trouxas também são rigorosos, acreditando que um sinal só pode significar uma coisa. Porém, confundem sinais humanos com sinais de trânsito e cruzam mais sinais vermelhos que ambulâncias socorrendo vítimas.

Um detalhe interessante é que o trouxa é rigoroso com os costumes exatamente porque é incapaz de inteligência, só de percepção. Ou seja, ele vê o costume, não o que o hábito da pessoa revela sobre ela.

Para ilustrar, é fácil um exemplo. Qualquer um que lidou com jovens apaixonados sabe que, às vezes, atitudes de ódio simbolizam atração. E não há porque questionar a lógica disso. É igual à diplomacia Klingon: primeiro se vence eles na porrada, depois eles aceitam negociar uma aliança. Se tentar o contrário, só haverá guerra.

Rigorosos Puritanos

Evidente que o classificado acima como rigoroso consiste em alguém que confunde o essencial com o acessório. E, no afã de realizar o essencial, despende muitos esforços no acessório de modo que o essencial se perde.

Não raro, o caminho contrário, que parece mais demorado, é o mais breve. O que é praticamente dizer que é mais fácil uma pessoa virar casta após casar que o contrário, mas o argumento não é esse. Esse equívoco merece um esclarecimento oportuno, mas não será agora.

O que se quer dizer é que, no afã de realizar a castidade, o rigorista puritano apela à modéstia em tal demasia que o resultado é a hipocrisia. E, porque as pessoas preferem a sinceridade à mentira, as virgens continuarão imodestas.

Qualquer homem apaixonado sabe que a modéstia é incapaz de refrear os desejos dele. Nem sempre, inclusive, ajuda. Às vezes, exatamente por exaltar a beleza da moça, atiça-no mais.

Repolhos apaixonados não sabem o que é isso e, daí, a pérola de questionarem a algum guru de internet se podem ver a moça nua antes do casamento para saber se vão gostar do que virem. Alguém assim deveria nem namorar, mas passar um ano no deserto (ou na Amazônia), longe da civilização.

E mesmo vale para alguém que vê maldade em qualquer pessoa, sem suspeitar de ignorância. Ser criança não é uma questão de idade (somente) e uma das características da infantilidade do comportamento é a incapacidade de perceber-se como desejado (ou desejada) sexualmente, assim como desejar outro.

Também por isso a primeira paixão pode ser traumática.

Dito de outra forma, um discurso sobre modéstia que não se ocupa da virgindade (que começa pelo exemplo) é vazio. E um discurso sobre modéstia que, além de não se ocupar da virgindade, reduz o matrimônio a uma fábrica de filhos é, inclusive, contrário ao desígnio divino.

O que traz ao problema final: muitos dos rigorosos puritanos advém de um passado promíscuo e, incapazes de se controlar, colocam o fardo sobre os outros. Isso quando não são trouxas.

Oriente e Ocidente

Enquanto o Ocidente pode ser acusado de liberal nos costumes, o Oriente tende a ser visto como ideal. Porém, trata-se de um rigorismo, um abuso. Tomar a burca como ideal de veste feminina quando os homens seguem o modelo de um pedófilo é um evidente problema. Afinal, é uma visão que a maldade só está na mulher, não no homem.

E o problema de muitos dos rigorosos é serem cegos à própria maldade. Logo, ao ignorar que a perversidade pode estar nos olhos, ignora-se que ela pode estar no excesso de roupas. Ou seja, aqui, não precisa se referir a uma burca, basta lembrar que o sexo é antes algo sinestésico que visual (um virgem pode saber disso).

Mas o que isso tem a ver? A reposta é simples: assumir-se como isento de erros é orgulho. E a humildade começa no reconhecimento dos próprios pecados e fraquezas, não na afirmação da malícia alheia. Inclusive, é próprio do orgulhoso culpar os outros antes que a si.

A Tradição da Libertação

É exatamente porque ambos os grupos antepõem os costumes aos princípios que os tradicionalistas concordam com a Teologia da Libertação. Aqui, entenda-se que “tradicionalista” são os seguidores de De Maistre, especificamente, os que defendem que todas as religiões são derivação de uma revelação completa a Adão.

Deste modo, tanto tradicionalistas como TLs ficam dias em grandes elucubrações sobre como todas as religiões, de algum modo, defendem os 10 mandamentos.

Nenhum deles fala do fato da Ressurreição. Isso para não entrar em outras diferenças substanciais e principiológicas que perpassam as várias religiões “tradicionais” que defendem “não matar” e “bons modos ao se vestir”.

O irônico é que ambos os grupos antagônicos falam do “simbolismo” da Ressurreição como se pudesse haver algum simbolismo sem o fato.

O simbólico esvaziado do literal não é simbólico.

Um Conto de Duas Cidades

Quem observar a carreira de Taylor Swift consegue ver como a cantora passou da estética da princesa para a estética de ********** (quem adivinhar a palavra, será por conta e risco). Alguns dirão que é o “perigo do sentimentalismo” e defenderão coisas como um casamento tão pragmático que, de tão desprovido de paixão, gera uma situação tipo os irmãos Lannister. Para os que acham a tese absurda, basta pesquisar sobre a história da dinastia Habsburgo.

Tome-se um outro exemplo de cidade, Diários de uma Apotecária. Na história, a protagonista precisa disfarçar a beleza por crescer próxima a um prostíbulo (a palavra correta não é essa, mas é uma tradução razoável). Parte do drama da narrativa está na descoberta que ela se maquia com sardas para disfarçar a própria beleza e evitar um estupro.

Noutro episódio do mesmo anime, comenta-se de uma prostituta que era virgem e, tal era sua fama, que vender a virgindade dela era melhor (financeiramente) para o prostíbulo que cobrar por noite. Porém, ela se apaixonou e, para reduzir o próprio preço, seduziu o homem por quem se apaixonara para engravidar dele. Assim, o casal poderia ficar junto porque só ele teria interesse em comprar a prostituta com a criança e, para o prostíbulo, seria até melhor pagar para ele pelo inconveniente que era.

Evidente que tais casos, por seu extremismo, servem de pouca referência para o cotidiano. Porém, ilustram como a fidelidade a princípios deve se antepor aos costumes e como esta fidelidade leva a extremos.

E pode-se ver que uma prostituta perdeu a virgindade por fidelidade a princípios e uma atriz mudou de estética também por fidelidade a princípios. Por isso, reforça-se: o importante dos costumes são o que eles revelam de princípios. E a hipocrisia também pode ser um princípio.

Se há uma conclusão

É impossível ensinar modéstia sem convencer a moça que ela é bonita. E ensinar que uma moça é bonita significa dizer que outros homens sentirão atração sexual por ela. Porém, como ela irá entender o que é atração sexual sem que ela sinta?

Alguns podem ter a resposta na pura obrigação. Outros conseguem entender o dilema e, por isso, serão tolerantes com certos costumes dos jovens. Há uma clara diferença entre a imodéstia por ignorância, fraqueza e malícia. Assim como há repolhos e cavaleiros.

Não há como fazer plena justiça sem misericórdia. E não há como obter misericórdia sem que haja justiça.


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By Henrique Inácio Weizenmann

Psicopedagogo, mestre em comunicação, estudante de cultura, imaginário e controle social.

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