Entrevistamos o editor-chefe da Super Prumo, Rodrigo Sias, um reformador do mercado de quadrinhos nacionais, reintroduzindo nossa história e cultura, além de expandir espaço d’outros grandes nomes, que merecem todo o prestígio
Conheci o Rodrigo Sias durante um evento de lançamento do livro “Línguas de Fogo”, no Rio de Janeiro (RJ). Convermos bastante naquela ocasião, trocamos contatos e continuamos a conversar desde então sobre cultura, educação, política, história, comunicação, geopolítica, filosofia etc. Numa dessas conversas, o estalo: “Rodrigo, me concede uma entrevista? Quero divulgar o seu trabalho e a Super Prumo!”. Não titubeou e eis o excelente resultado, que espero que agrade ao leitor, mas tanto como me agrada as conversas com um amigo. Que por acaso – descobrimos há pouco tempo – escrevia ao Diário do Comércio, na sessão de Opinião, na mesma época que eu e… o saudoso Olavo de Carvalho. Mas esta história… fica para uma próxima.

Qual parte da sua história considera a mais importante para lhe trazer até aqui? Como começou?
Rodrigo Sias: A parte mais importante, sem duvida, eh a minha paixão por livros e particularmente, por quadrinhos. Sempre gostei de ler. Isso sempre foi um passatempo/hobby importante da minha vida. Comecei lendo Turma da Monica do Mauricio de Souza, O Pequeno Ninja do Tony Fernandes, depois fui indo para os super-heróis, X-men em especial e Batman. Depois comecei a curtir anti-heróis, Wolverine e Justiceiro.
No caso dos livros, acho que os primeiros foram Robison Crusoé, O Genio do Crime e o Escaravelho do Diabo. Mais velho, fui indo para Machado de Assis. E depois, passei a ler sobre historia, filosofia e politica, os meus interesses mais consistentes. Particularmente, sempre gostei de ler sobre a Segunda Guerra Mundial. Li muita coisa ainda bem jovem. Os primeiros foram o “Zero” e “Afrikacorps”. Depois não parei mais.
Entrei no mundo editorial quase por acaso, quando virei sócio do Luciano Cunha, em 2020 – criador do Doutrinador e Destro, para fomentar quadrinhos nacionais. Depois de mais de 30 anos gastando dinheiro com HQs, me pareceu que tava na hora de eu recuperar o dinheiro hahaha.
Depois a sociedade foi desfeita, mas a editora permaneceu firme e forte. E seguimos lançando livros e HQs.
Como essa paixão influencia no seu trabalho?
Rodrigo Sias: Quando você tem paixão pelo que faz, naturalmente o resultado será melhor. O fato de eu gostar de quadrinhos, de ser eu mesmo um consumidor, melhora a qualidade do que produzo. Pois tenho o olhar mais atento. Porque, quando o resultado final é adequado, o meu lado colecionador e consumidor de quadrinhos também é atendido.
De onde surgiu a ideia da editora Super Prumo e por que produzir quadrinhos com temática histórica?
A ideia da Super Prumo surgiu com o meu ex-sócio, Luciano Cunha, que precisava de um investidor para levantar o projeto e ser a nova casa do Doutrinador. E com o o meu desejo de um dia entrar nesse mercado de quadrinhos e mercado editorial como um todo.
A ideia de produzir quadrinhos históricos veio primeiramente com o bicentenário da independência em 2022. Pois queríamos contar a verdadeira história, e não aquelas porcarias que apareciam na midia.
Por outro, queríamos que essa história – nossa história como povo – chegasse para todos os públicos. O quadrinho é a mídia que tornou isso possível. Para isso, reunimos um baita contador de histórias e competente historiador – Laudelino de Oliveira Lima. Assim como o maior desenhista brasileiro da atualidade (e um dos melhores do mundo) – Joe Bennett. Além de outros artistas.
Terminamos a saga que conta a história de D. PedroI e do nascimento do Brasil independente. Todavia, “Pelo meu sangue” terá 5 tomos, sendo que lançamos apenas o primeiro. Queremos contar outros episódios da história brasileira, como a atuação da FEB na segunda guerra, Guerra do Paraguai, dentre outros.
Quadrinhos como O Doutrinador, Destro e de D. Pedro I, tiveram boa aceitação? A reação do público aconteceu dentro do esperado, Rodrigo?
Rodrigo Sias: Doutrinador já tem um público formado. É um personagem que tem mais de 10 anos e virou filme e série na TV né. Então, sim, ele mantém parte desse público. Destro idem. Pois nesse ambiente de polarização política, o Destro faz muito sucesso. Claro, dentro desse nicho de quadrinhos nacionais que é bem pequeno. Mas tá indo bem. Tudo dentro do esperado.
Com D. Pedro I, passamos a vender para um público que não é o nosso habitualmente. E muitos compradores do D. Pedro não são consumidores usuais de quadrinhos. Por conta da temática, atraiu um público diferente do usual pra gente. Portanto, algo muito bom. Ademais, além de ter esse novo público, aqueles consumidores de quadrinhos usuais também embarcaram no projeto. O que foi muito bom.
O mercado editorial brasileiro aparentemente teve uma queda nos últimos 2 anos, enquanto os preços dos papéis só agora começaram a cair, com a redução do dólar frente ao real e as tarifas na exportação, que obrigou grandes produtores a olharem mais ao mercado interno. Como esses acontecimentos afetaram a Super Prumo? Se prepararam para uma situação assim?
Rodrigo Sias: A nossa operação é bem pequena e bem enxuta. E o nosso mercado é de nicho. Então, a gente conseguiu passar bem por esses períodos ruins. De qualquer forma, a gente sentiu queda nas vendas. E no auge da crise, a gente segurou alguns lançamentos. Mas a verdade é que o mercado editorial brasileiro é muito pequeno comparado com países com mesma população. Somos pouco leitores no Brasil.
No caso dos quadrinhos, o auge foi os anos 1990, quando a editora Abril tinha uma tiragem mensal de quase 900 mil exemplares por mês do saudoso Espada Selvagem de Conan. Hoje, esse mercado deve ser 2% ou 3% disso. A garotada de hoje consome pouco quadrinho. Prefere youtube e Instagram, eu imagino rsrs. Nosso público hoje é o mesmo público que consumia quadrinhos na década de 90, ou seja, maioria é público masculino 40+.
Quando diz que há poucos leitores no Brasil, Rodigo, você fala em proporção ao tamanho do país e de sua população? Por exemplo, um mercado consumidor de ‘leitura’ de 10% abarcaria 21,2 milhões de leitores. Mas em relação a outros países, entendo estar clara a comparação proporcional. Pois um país como a Argentina, com um território e uma população significativamente menores, possui um mercado editorial muito mais aquecido e pujante. Seria isso?
Rodrigo Sias: Exatamente isso. Na verdade, o Brasil tem algo como 15% de leitores (ou seja, alguém que comprou ao menos 1 livro nos últimos 12 meses). Algo como 30 milhões de leitores. Mas como consumidor recorrente, o número é muito menor. Talvez um sexto disso, ou seja, aquela pessoa que está sempre comprando e lendo livros. Nos EUA, por exemplo, a estimativa é inversa: 85% comprou um livro no último ano. Ou seja, mais de 280 milhões de leitores no último ano. E olha que o mercado lá teve uma grande queda recente.
Enquanto homem de letras e editor, como pensa que possamos reverter esse cenário e trazer os brasileiros para o mercado consumidor de leitura?
Rodrigo Sias: Aí dependeria de uma grande mudança cultural e de hábitos. A “cultura brasileira” média tem horror ao conhecimento, e só lê por obrigação. Nao sei como mudar isso. Apenas no microcosmo, incentivando a sede do saber mesmo. Mas…eu incentivaria a leitura de quadrinhos na escola, principalmente para os meninos.
Hoje, a maior parte do público leitor e comprador de livros é composto por mulheres. E isso ocorre porque a grade curricular no ensino fundamental e médio só recomenda livros mais pensativos e romances. Logo, isso desperta alguma curiosidade nas meninas. Mas zero nos meninos.
Aí numa sociedade que já tem pouco hábito de leitura, você alija metade dela por desinteresse.
Meninos em idade escolar gostam do clássico “tiro, porrada e bomba”. Ação, Aventura, luta. E os quadrinhos podem trazer isso de forma mais fácil para esse público. Ai enquanto tão lendo gibi, passam a adquirir, até sem perceber, o hábito de leitura, a cadência da leitura. E você vai moldando ali o futuro leitor de livros e, claro, quadrinhos mais densos, adultos.
O analfabetismo funcional é uma barreira? Como esse trabalho com quadrinhos pode ajudar?
Rodrigo Sias: Não sei dizer. Mas imagino que qualquer coisa que incentive a leitura ajudará a diminuir o analfabetismo funcional.
Olavo de Carvalho dizia que o brasileiro até lê muito, mas lê porcaria. Seus quadrinhos parecem se enquadrar no conceito que ele defendia de Alta Cultura, Rodrigo. Tiveram esse objetivo também?
Rodrigo Sias: Com certeza. O objetivo era trazer a verdadeira história brasileira, resgatar nossas raízes, trazer orgulho da nossa história, no caso dos quadrinhos “Pelo meu sangue”. E outros que vamos fazer sobre a nossa historia.
Em quadrinhos como Doutrinador, Destro etc, nosso objetivo é trazer a realidade brasileira, problemas brasileiros, cenário brasileiro. Registrar a corrupção, a ameaça do coletivismo dentre outros. A gente sentia a falta da realidade brasileira nos quadrinhos vendidos aqui. Ou tinha muita ideologia ou eram realidades gringas.
Quais os próximos passos da Super Prumo nessa luta pela nossa história e cultura?
Rodrigo Sias: A nossa ideia é fechar a pentalogia “Pelo Meu Sangue“, contando toda a história da independência e do nosso primeiro Imperador, Dom Pedro I. Estamos buscando patrocínio para acelerar a produção e podermos ter o Joe Bennett full time com a gente. Aprovamos o projeto de Dom Pedro na Lei Rouanet. Quem quiser patrocinar, basta entrar em contato via site (superprumo.com/), e-mail (superprumo@gmail.com) ou whatsapp (21-97883-7670).
Paralelamente, também trabalhamos no quadrinho da FEB. Queremos honrar nossos heróis simples e anônimos que são venerados na Itália e esquecidos no Brasil. Por fim, lançaremos um novo personagem no ano que vem, cuja historia se passará em pleno Brasil colonial, com todas as suas lendas, guerras indígenas e superstições.