A Social Democracia Brasileira é o Robin Hood ao Contrário

Como a Social Democracia funciona no Brasil: tira dos pobres e dá aos ricos

Diz-se que a Social Democracia é uma economia harmoniosamente mista com intervenção de mercado e estatal. Mas a experiência brasileira mostrou que pode ser uma aliança confortável (entre poderosos empresários e estadistas) criada para tornar os ricos mais ricos. Disseram aos brasileiros que para reduzir a pobreza e conter a desigualdade social precisavam ampliar o papel do governo na economia, por meio da expansão de serviços e obras públicas. Mas eles acreditaram! Pois a Social Democracia trazia a esperança d’um futuro melhor.

Três presidentes Social Democratas foram reeleitos consecutivamente: Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Cujos mandatos consecutivos totalizaram 22 anos (1995-2016). Pois a promessa deles era construir uma sociedade próspera e igualitária através da intervenção estatal.

Então uma bomba explodiu.

Em 2015, descobriram o maior escândalo de corrupção da história brasileira. Transformando-se numa grande operação nacional anticorrupção com o codinome Lava Jato. que revelou um esquema chocante de pagamentos ilegais envolvendo importantes políticos e grandes executivos corporativos que haviam lucrado bilhões em contratos públicos superfaturados e propinas.

Como se viu, longe de proporcionar o progresso socioeconômico prometido. O governo Social Democrata abriu espaço para um Leviatã que agia como um Robin Hood ao contrário, tirando dos pobres e dando aos ricos .

Como o Esquema (o Dreno) Funcionou

Os defensores da Social Democracia afirmam que os governos devem ser responsáveis ​​pela prestação de serviços públicos (saúde, educação, gás, água, esgoto, telefonia, transporte, etc.). Todavia, esse modelo levanta uma questão sobre as compras públicas. Afinal, quem o governo contratará para fazer o que o Estado deve fazer (entregar bens; construir estradas, pontes, casas; prestar serviços)? A legislação brasileira afirma que será por meio de licitação pública. Então, em teoria, os licitantes competirão e o melhor (mais barato) preço vencerá.

Na verdade.

Para escapar da concorrência, aumentar seus lucros e garantir contratos públicos, as grandes empresas formaram uma espécie de “clube“. Ou seja, uma irmandade que substituiu a concorrência real pela concorrência aparente (falsa). As propostas eram previamente acertadas em reuniões secretas, nas quais os empresário decidiam quem ficava com o contrato (acredite ou não, por meio d’uma espécie de bingo) e qual o preço (superfaturado).

Assim, os empreiteiros garantiam negócios em termos excessivamente lucrativos. Mas roubavam o governo, não é mesmo? Sim, mas não estavam sozinhos. Pois seria impossível fazer isso completamente às escondidas (os preços eram claramente exorbitantes). Para viabilizar o esquema, os empreendedores concordaram em canalizar uma parcela entre 1% e 5% de cada negócio para fundos secretos. E distribuíam esse dinheiro aos políticos no poder.

O mecanismo da Social Democracia no Brasil

Viu? Isso é a redistribuição de riqueza!

Por mais de uma década, o esquema desviava dinheiro dos contribuintes e redirecionava aos poderosos empresários e políticos. Os valores sob investigação somam nada menos que impressionantes US$4,2 trilhões.

Um país em eterno desenvolvimento (e suas desigualdades)

Em um relatório co-dirigido por Thomas Piketty, o World Wealth and Income Database apontou um fato interessante. Em 2001, os ultrarricos brasileiros (0,1% da população) capturaram 11% do PIB nacional. Esse percentual subiu para 14,4% em 2015.

Quem está surpreso? As sete maiores construtoras brasileiras estavam envolvidas na intrincada rede de extorsão política e corporativa exposta em 2015. Logo, é previsível que esses executivos tenham enriquecido.

Alguns podem considerar um prêmio de consolação que, no mesmo período (2001-2015), o número de brasileiros vivendo em pobreza absoluta (renda abaixo da linha internacional de pobreza de US$ 1,90 por dia) tenha caído de 27,31% para 10%. Entretanto, significa que a Social Democracia é eficiente na redução da desigualdade social? De jeito nenhum.

Uma espécie de Robin Hood (peculiar)

Assim, após décadas de intervenção estatal, o Brasil ainda é um país de baixa renda. Mas isso não reduz a voracidade tributária Social Democrata. Ademais, um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) concluiu que, em 1995, os brasileiros precisavam trabalhar 106 dias (três meses e 16 dias por ano) para pagar seus impostos. Em 2015, subiu para 151 dias (cinco meses). Ou seja, aumentou 42,45% em 10 anos.

Estadistas argumentam que impostos altos são necessários para bancar as transferências de renda destinadas a reduzir a desigualdade social. Bem, hoje o Brasil tem o mesmo coeficiente de Gini, que mede a concentração de renda, de 1960: 0,53. Mas a carga tributária era 17% e agora é 35% do PIB. Portanto, hoje Brasil tem o mesmo grau de desigualdade. Embora o governo consuma mais do que o dobro de recursos. Como é possível? É simples.

Menos de um terço dessas transferências (“rotatividade de impostos e bem-estar social”) chega de fato aos relativamente pobres. De fato, pessoas de baixa renda pagam proporcionalmente mais impostos devido ao sistema regressivo. Baseado em impostos indiretos (que representam 53% da receita tributária) incidentes sobre os gastos de consumo em bens e serviços. Ou seja, quanto menor a renda total d’uma família, maior a parcela que gastam com consumo. Consequentemente, mais impostos pagam em relação aos seus recursos. Um relatório da Oxfam mostrou que os brasileiros na faixa de renda mais baixa gastam 32% de sua renda em impostos, enquanto as pessoas na faixa mais alta gastam apenas 21%.

Distribuição da carga tributária entre pobres e ricos em relação à sua renda

Resumindo, o governo tira dos relativamente pobres (impostos) e  (1) fortunas aos ricos (subornos a políticos e contratos públicos a alguns empresários). E (2) esmolas aos extremamente pobres (pequenas transferências de dinheiro ou benefícios em espécie).

Os números nunca mentem.

Entre 2003 e 2015, gastou-se US$ 59,6 bilhões com o Bolsa Família. Um programa social de redistribuição de renda que oferece um auxílio mensal (de até US$ 62) e anualmente benefícios a cerca de 14 milhões de famílias de baixa renda (46 milhões de pessoas ou 21% da população). É muito dinheiro, sem dúvida.

Acontece que só com a Petrobras, o total desviado (exposto pela Operação Lava Jato) pode chegar a US$ 14 bilhões. Ou seja, entregaram uma fortuna a alguns poucos membros d’um seleto grupo de políticos e empresários desonestos (menos de 0,01% da população).

A lacuna entre a fala e a realidade na Social Democracia

Assim sendo, a experiência brasileira confirmou que a Social Democracia, como qualquer outro governo (mas com mais meios para isso), é um grupo de indivíduos egoístas que tentam maximizar seus próprios interesses, extraindo dinheiro sem se importar com o bem social.

Não admira-se que quando o papel do governo é ampliado, supostamente para resolver as desigualdades sociais, a casta dominante que opera o aparato público (e seus amigos que não querem mais competir em um mercado justo) rapidamente encontra uma maneira de sobrecarregar os pobres. Como aconteceu — e ainda acontece — no Brasil.

Tradução de Roberto Lacerda Barricelli do artigo “Social Democracy in Brazil Is Robin Hood in Reverse“. Publicado originalmente na FEE.



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