OTAN | Cúpula em Haia: Nova Fase para Aliança Atlântica

Tensões reabriram velhas feridas e expuseram a dificuldade de conciliar as capacidades dos Estados-Membros no cumprimento de metas comuns da OTAN

A Cúpula da OTAN em Haia, em 24 de junho, teve um prólogo turbulento antes mesmo de sua abertura oficial. O presidente Donald Trump, durante sua viagem à Holanda a bordo do Air Force One, abalou o equilíbrio da Aliança. Comentando o Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte — o princípio cardinal da defesa coletiva — Trump insinuou que sua aplicação poderia ser “interpretável”. Portanto, lançou dúvidas sobre um dos fundamentos mais estáveis ​​da OTAN.

O Artigo 5, parte integrante do Tratado de Washington de 1949, estabelece que um ataque armado contra um ou mais membros será considerado um ataque contra todos. Invocaram-no somente uma vez na história da Aliança, após os ataques de 11 de setembro de 2001. Todavia, a explosão de Trump provocou uma onda de preocupação entre os aliados. Logo, ele corrigiu parcialmente suas palavras, admitindo que o Air Force One não era o lugar certo para esclarecimentos tão delicados.

Novas Metas de Gastos e Persuasão Moral dos EUA

Os EUA propuseram aumentar os gastos com defesa para 5% do PIB nacional de cada país-membro até 2035. Um dos temas centrais. Sendo assim, dividiriam esse valor entre 3,5%, destinados à defesa em sentido estrito, e 1,5%, a gastos com infraestrutura relacionada. No entanto, essa proposta provocou reações mistas.

O Comissário Europeu para o Comércio, Valdis Dombrovskis, alertou ao risco de “lavagem de defesa”. Ou seja, a tendência de incluir itens de despesa que não são estritamente relevantes na categoria de defesa. Nesse sentido, a persuasão moral de Trump mostrou-se generalizada e divisiva. Logo, trouxe à tona as tensões internas na Aliança, sobre quais são as prioridades e os critérios para avaliar o comprometimento de cada Estado.

As Posições dos Principais Líderes Europeus

No contexto da cúpula, um eixo entre França, Alemanha e Reino Unido foi formado buscando orientar a discussão. O primeiro-ministro britânico Keir Starmer confirmou o compromisso do Reino Unido em atingir a meta de gastos de 5%, usando um sistema de cálculo que soma o orçamento de defesa e o orçamento de segurança nacional. O chanceler alemão Friedrich Merz chamou a cúpula de “histórica”, sublinhando a disposição de Berlim de investir substancialmente na defesa comum.

Em um editorial conjunto com o presidente francês Emmanuel Macron, publicado no Financial Times, os dois líderes destacaram como a principal ameaça à segurança europeia vem de uma “Rússia revisionista”, reiterando a importância da dissuasão nuclear e do aumento do investimento militar. França e Alemanha, atualmente gastando mais de 2% do PIB em defesa, disseram que pretendem aumentar para 3,5%, adicionando mais 1,5% para gastos mais amplos.

Um Equilíbrio Frágil entre a Pressão Americana e a Coesão Europeia

O retorno de Trump à cena trouxe à tona tensões entre os Estados Unidos e alguns parceiros europeus. Especialmente em relação à divisão do fardo financeiro dentro da Aliança. Trump reivindicou veementemente o papel que desempenhou durante sua administração anterior no aumento das contribuições dos aliados. Pois argumentou que a OTAN está “à beira do fracasso” e afirmou que o limite de 5% representa um valor adequado para garantir o poder e a funcionalidade da Aliança.

Enquanto isso, Macron buscou uma reaproximação, encontrando-se com Trump num contexto mais informal durante um jantar. Enquanto o Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, tentou mediar. Portanto, elogiou Trump numa mensagem privada, posteriormente tornada pública. No entanto, esse gesto não foi bem recebido por algumas chancelarias europeias, que veem concessões unilaterais aos Estados Unidos com desconfiança.

Divisões Internas na OTAN e o Papel da Rússia

A cúpula ocorreu em meio ao prolongado conflito na Ucrânia e à renovada assertividade da Rússia no espaço eurasiano. Rutte solicitou a adoção d’um comunicado final em apoio a Kiev, e os Estados Unidos retomaram o compartilhamento de informações de inteligência com outros membros, um importante sinal de coesão e solidariedade. No entanto, as divisões internas persistem. Por exemplo, enquanto os países nórdicos apoiam o aumento dos gastos, a Espanha expressou forte oposição à meta de 5%, considerando-a insustentável. Esse contraste reflete a dificuldade de conciliar as diferentes capacidades econômicas e prioridades políticas dos 32 Estados-Membros.

Uma Aliança que Busca Nova Coesão

A cúpula da OTAN em Haia marcou um passo crucial ao futuro da Aliança Atlântica. Por um lado, a reunião destacou a determinação de alguns países no fortalecimento da capacidade defensiva. Por outro, na crescente complexidade de manter uma frente unida diante de desafios internos e externos. Contudo, as palavras e propostas de Trump reabriram antigas fraturas. Mas também forçaram a Aliança a confrontar abertamente o problema da sustentabilidade econômica e estratégica da defesa coletiva.

Num contexto geopolítico instável, a OTAN depara-se com a necessidade de reformular seu papel, tornando-se mais coerente em seus meios e fins. Sendo assim, a Cúpula de Haia não resolveu todas as contradições, mas deixou claro que o equilíbrio da Aliança não poderá mais basear-se somente em automatismos e hábitos. É hora de escolhas políticas concretas e compartilhadas.

Tradução de Roberto Lacerda Barricelli do artigo “NATO Summit in The Hague: A New Phase for the Atlantic Alliance“, publicado originalmente em The Conservative.



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