Como as leis trabalhistas levam a títulos vazios: o caso da multiplicação de ‘gestores’ na América
Já reparou que parece haver muitos gestores hoje em dia? Não é só você. Pois professores da Harvard Business Review estimam um gestor para cada 4,7 funcionários, afirmando que esse excesso de burocratas leva a um prejuízo total de US$ 3 trilhões por ano nos EUA.
Prejuízo Real?
Essa quantidade de desperdício é impressionante! Mas, como economista, sou bastante cético em relação a isso pois o objetivo dos empresários é ganhar dinheiro. Embora seja possível que existam outras motivações no mercado, o interesse próprio de buscar lucros maiores é a motivação mais básica para os negócios. Então, por que os empresários desperdiçariam trilhões de dólares por ano com gestores supérfluos?
Alguns podem argumentar que são incompetentes, mas também parece improvável. Se as empresas estivessem desperdiçando tanto dinheiro, qualquer um que percebesse seria capaz de dominar um setor reduzindo a gestão. Ademais, desperdício é incompatível com sucesso num mercado livre.
Em vez disso, artigo recente do National Bureau of Economic Research, de Lauren Cohen, Umit Gurun e N. Bugra Ozel, oferece uma explicação mais plausível. O número impressionante de gestores em nossa economia não é evidência de desperdício no setor privado. Porém, uma resposta à interferência do setor público no mercado de trabalho.
Das nove às cinco… Ou então
O argumento do artigo foca na Lei Federal de Normas Trabalhistas (FSLA), que regulamenta diversos setores do mercado de trabalho, incluindo a lei de horas extras. Se você já trabalhou num emprego básico das nove às cinco, provavelmente precisou fazer horas extras.
Sendo assim, horas extras envolve receber por trabalhar mais de 40 horas programadas por semana. De acordo com a FSLA, os empregadores devem pagar aos trabalhadores um mínimo de 50% a mais para cada hora acima de 40. N’outras palavras, recompensa-se os funcionários ”uma vez e meia” por todo o tempo trabalhado.
Então, se seu salário normal é US$ 20 por hora e você trabalha uma hora extra, receberá uma hora inteira (US$ 20) e meia hora extra (US$ 10) de pagamento por essa hora extra.vNo entanto, há um problema óbvio com a FSLA, pois simplesmente não faz sentido para alguns empregos. A quantidade de trabalho necessário em uma semana não é exatamente a mesma todas as semanas. Por exemplo, alguns empregos podem exigir 50 horas de trabalho numa semana e 30 horas na outra.
Empregos extremamente voláteis, com horários amplamente variáveis, seriam difíceis de planejar para as empresas. Uma regulamentação única para todos é simplesmente ineficaz demais e inviável. Os reguladores, reconhecendo isso, permitiram algumas exceções a essa exigência, co o de gestores chamados “gerentes assalariados”.
Especificamente, desde que os trabalhadores recebam US$ 455 por semana e tenham cargo gerencial, podem receber salário isento dessa regra de horas extras.
Gestores e Margens de Ajuste Múltiplas
Bem! Sempre que os reguladores governamentais criam regulamentações rígidas sobre empresas que utilizam medidas arbitrárias, incentivam as empresas a realizarem pequenas mudanças para evitá-las. Os economistas chamariam essas pequenas mudanças de diferentes margens de ajuste .
Quando os políticos aprovam leis sobre horas extras, esperam uma de duas mudanças: ou não exigirão trabalhos acima de 40 horas ou pagarão a uma hora e meia para cada hora extra. Mas os empregadores podem cumprir a FSLA de maneiras não intencionais.
Imagine que você trabalha como merceeiro e ganha US$ 11 por hora. Logo, numa semana de 40 horas, você ganha US$ 440, e tem tarefas no caixa e na limpeza. Agora, imagine que as sextas-feiras à noite na loja são sempre movimentadas e você sempre sai uma hora atrasado.
Sem as leis da FSLA, imagine que você aceitaria trabalhar a hora extra por US$ 12. Portanto, receberia US$ 452 por semana. Alternativamente, se recebesse uma hora e meia pela hora extra devida à FSLA, receberia US$ 440 + US$ 16,50 (US$ 11 x 1,5), totalizando US$ 456,50.
Mas esta não é a única opção. A loja poderia mudar seu cargo de merceeiro para “gerente de supermercado” e pagar um salário de US$ 455 por semana. Por conseguinte, economizaria US$ 1,50 ou potencialmente mais se você trabalhasse mais de uma hora extra. É exatamente isso que o artigo do NBER conclui. Os autores afirmam:
Documentamos muitas evidências generalizadas e sistemáticas de empresas que exploram a disposição da FLSA que permite-lhes isenção do pagamento de horas extras caso um funcionário tenha “cargo gerencial” e receba salário acima d’um limite definido. Documentamos aumento acentuado no uso de cargos de gestores (especialmente cargos suspeitos) por empresas logo acima desse limite.
Então, o capitalismo criou uma classe de gestores inchada que desperdiça trilhões de dólares por ano? É duvidoso. Em vez disso, parece que o uso crescente de cargos vazios é, pelo menos em parte, uma resposta a regulamentações mal escritas.
Publicado originalmente em FEE, sob o título “Has Capitalism Created a Wasteful Excess of Managers?“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.