Uma crítica, sem a postura morna e canalha do ‘isentão’, à compreensão política reducionista de Direita e Esquerda

A contemporaneidade tem uma péssima compreensão política na medida em que tudo precisa ser distinguido como “direita” ou “esquerda” e nada mais que isso. O problema é que são termos relativos e subjetivos utilizados para descrever coisas como que objetivamente.

Entenda-se: para aquele que encara o norte, o Sol nasce à direita; para aquele que encara o sul, o nascente está à esquerda. Isso não significa que o Sol nasce num lugar determinado subjetivamente. Por isso, “direita” e “esquerda” não são bons termos para precisar a posição de algo, mas a posição do sujeito em relação a algo ou deste algo em relação ao sujeito.

Ao puxar de um saco todas as ideologias e distribuí-las entre “direita” e “esquerda”, o erro é proporcional à capacidade de precisar as ideologias. O que é outro desafio, visto que muitos reduzem todas as ideologias a uma dualidade que, para tosca, precisaria de muito desenvolvimento.

Só com essa introdução fica evidente porque quase ninguém entende o que é o nazismo, uma das tantas ideologias que encontra adeptos e opositores à direita e à esquerda. Logo, este exemplo por si, já permite classificar quatro grupos de pessoas. Se contar os posicionamentos de centro, sobe-se para seis.

Isso numa análise geral. Pois ao entrar em especificidades, a coisa é mais confusa na medida em que aumenta a quantidade de estupidez.

Direita vs Academia

Seja como for, a maioria só usa “direita” e “esquerda” para designar sua posição frente ao nazismo e não para, objetivamente, descrever tal ideologia. E isso se aplica a praticamente todos os outros posicionamentos, sejam eles políticos ou sobre a alfabetização de crianças.

Agrave-se o problema no caso da direita por ela sabotar a própria capacidade de compreensão quando afirma que a academia está cheia de esquerdistas burros ao mesmo tempo em que diz que a autoridade deriva de livros. Se a academia é a maior produtora de livros e sua autoridade não é válida para a direita, por serem escritos por “esquerdistas burros”, o resultado é que não há livros a serem consultados.

Ou, pior, todos consultarão os mesmissimos livros ad nauseam e cuja datação, por melhor que sejam os livros, ignora eventos ocorridos após o falecimento dos respectivos autores, e novas informações. Para piorar, basta recordar que cada liderança intelectual terá uma interpretação diferente do livro, gerando discussões ridículas em que citações da mesma obra suportam uma posição e o contraditório.

Destaque-se, porém, que tanto centristas quanto esquerdistas possuem seus equivalentes. A batalha, neste caso, é antes pela sanidade. Porque é irrazoável supor que alguém insano está certo, salvo por sorte.

Resuma-se considerando que um autor não deve ser lido por ser um acadêmico prestigiado, ele deve ser prestigiado academicamente por ser um bom autor.

A Política como Religião

Para que este texto não fique sem falar do assunto após a provocação, o nazismo é melhor compreendido como um fenômeno antes religioso que político. Pode-se dizer que é antes uma religião política que uma ideologia. Porém, dizer isso não basta.

Traçando os antecedentes nazistas, é possível perceber que ele se relaciona com movimentos como o Volkisch e o Lebensphilosophie. Esses movimentos, basicamente, tinham elementos que buscavam resgatar uma religião nacional para a Alemanha em substituição ao cristiniasmo.

A Kulturkampf contribuiu para isso de alguma forma na medida em que a guerra cultural era para separar o Estado da autoridade da Igreja. Com as devidas ressalvas, pode-se dizer que, com o final do Anel dos Nibelungos, Wagner quis sinalizar que morriam os deuses (ou Deus) de uma época para que outra iniciasse.

Para tanto, alguns autores procuraram resgatar as religiões pagãs e nacionais, daí a relação com o movimento Volkisch. Para se ter uma melhor compreensão do que se trata, basta compreender que “folclore”, em alemão, seria mais adequadamente escrito “volklore”, porque o “v” tem um som de “f”.

Guerra Cultural e Ascensão ‘Religiosa’ do Nazismo

E, neste contexto de guerra cultural, o nazismo surge da influência da religião iraniana dos povos arianos, dos quais os nazistas seriam descendentes.

Ou seja, para além de questões políticas e econômicas, o nazismo trava uma disputa religiosa. A política é aquilo que mais aparece da discussão que beira o ocultismo (a ambiguidade do termo “ocultismo”, neste caso). Não sem motivo, “o século do iluminismo também foi o século das sombras”, como destaca James Webb em The Occult Underground.

Porém, o problema é que o nazismo é uma metonímia e praticamente todas as ideologias têm um fundo mais religioso que político ou filosófico.

Por isso, ao sair da mandala política, é possível perceber que, no fundo, quem associa-se ao nazismo e o rechaça pode ter comportamentos classificáveis como “nazistas”. O “nacionalismo” não é monopólio de uma ideologia.

Claro que isso não significa dizer que todos os autores que estavam na batalha religiosa e, de alguma forma, contribuíram para a formulação do nazismo concordem com ele. Assim como não se pode dizer que aqueles que discordem do nazismo não concordem com algo mais profundo a nível religioso.

Tudo depende, novamente, do que se designa pela palavra. Resta somente que a descrição como “direita” ou “esquerda” fala mais da pessoa que do movimento.


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By Henrique Inácio Weizenmann

Psicopedagogo, mestre em comunicação, estudante de cultura, imaginário e controle social.

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