O motivo pelo qual o mercado de madeira tornou-se indicador tão importante da economia americana é o reflexo do setor de construção
O mercado madeireiro tornou-se uma montanha-russa nos últimos anos. Para quem opera empresas de logística, ou madeireiras e serrarias, ou empreiteiros e proprietários de imóveis buscando substituir algumas tábuas do deck. Não saber para que lado o mercado de madeira mover-se-á é estressante. De acordo com um relatório do Wall Street Journal:
Os mercados de madeira mostram-se afetados ultimamente pela incerteza comercial e deterioração do mercado imobiliário. Ademais, os contratos futuros caíram cerca de 25% desde que atingiram a máxima de três anos no início de agosto. Agora, são negociados na segunda-feira a cerca de US$ 522 por mil pés-tábua.
A queda de preço seria maior, mas duas das maiores serrarias da América do Norte disseram na semana passada que reduziriam a produção, desacelerando o declínio.
A queda nos preços da madeira é preocupante porque tornou-se um indicador confiável da direção do mercado imobiliário, bem como da atividade econômica em geral.
Mercado de Construção
Historicamente, na maior parte dos EUA, a madeira tornou-se um material local e acessível para a construção de casas. Pois desde os primeiros colonizadores europeus, as florestas de madeira de lei que cobriam grande parte do continente foram fonte abundante de material. Principalmente para casas, navios, móveis e tudo o mais — e uma importante commodity de exportação.
Mas sua contínua ubiquidade como material de construção faz com que os preços da madeira sejam bom indicador para a economia da construção. Aliás, as moradias nos Estados Unidos da América são predominantemente de madeira. Estima-se que acima de 90% das novas construções residenciais nos EUA sejam de madeira, comparando com a Europa, onde as casas tendem à alvenaria. Mas com muitas variações regionais (a Noruega, com muitas árvores, prefere a madeira para moradias).
N’outras partes da Europa, as casas pré-fabricadas também representam uma fatia muito maior do mercado. Por conseguinte, partindo d’uma estimativa de 25% na Alemanha a impressionantes 80% na Suécia. Embora isso talvez não seja surpreendente no caso da IKEA.
No entanto, conforme a Associação Nacional de Construtores de Moradias, as casas pré-fabricadas representavam apenas 3% do mercado americano em 2023. Uma base pequena, mas que cresce. A moda das “casas minúsculas” e de opções alternativas e sustentáveis levou mais potenciais proprietários a considerar as opções modulares.
História das Casas Pré-Fabricadas de Madeira nos EUA
Cem anos atrás, casas pré-fabricadas eram mais comuns nos EUA. Vendidas pela Sears, Montgomery Ward e outras empresas locais, os compradores recebiam as plantas e as peças da casa e montavam eles mesmos. Portanto, as economias de escala tornaram essas casas opção viável para quem buscava construir nos subúrbios em expansão.

O catálogo da Sears Modern Homes de 1914 mostra três casas por US$ 656 cada (nas letras miúdas, admitem que o investimento total seria de cerca de US$ 1.250. Pois haveria tijolo, cimento, gesso — que não fornecem — e mão de obra. Todavia, entregariam a casa pronta por trem. E geralmente, presumia-se que os moradores seriam habilidosos o suficiente (ou saberiam quem contratar) para montar tudo a partir das plantas fornecidas.
De acordo com relatório de 1930 do National Bureau of Economic Research, “National Income and Its Purchasing Power”, em 1914, o funcionário médio ganhava US$ 1.000, e um gerente de fábrica, US$ 2.300. Ou seja, casas estavam ao alcance de muitas pessoas — especialmente considerando que os custos do terreno em muitas cidades também eram relativamente baixos. Em Chicago, lotes a menos de 8 km do centro da cidade estavam disponíveis por menos de 50 centavos de dólar por pé quadrado em 1914.
Estilos
Essas casas pré-fabricadas incluíam madeira, metal e vidro. Assim como refletiam tanto o gosto dos consumidores quanto as economias da produção em massa. Os vários estilos do catálogo ao longo dos anos incluíam o artesanal, o colonial holandês, o federal e o cottage. Contanto, estilos que continuaram populares na arquitetura residencial dos EUA.
O catálogo da Sears de 1936 afirma: “É a era da eficiência moderna. Mãos humanas não podem mais competir com a precisão e a produção das máquinas. Por isso, ‘velocidade com precisão’ é o lema em qualquer departamento de nossas grandes fábricas”. Contudo, para os curiosos sobre essas casas, os fãs das casas pré-fabricadas da Sears montaram listas de exemplos que continuam de pé.
Mercado Contemporâneo
As casas pré-fabricadas atuais incluem diferentes produtos — nas casas pré-fabricadas europeias, utiliza-se concreto, vidro, metal e materiais sintéticos em metade dos trabalhos — com as mesmas economias da produção em massa. Mas as casas com estrutura de madeira continuam a dominar o mercado americano.
Se o mercado imobiliário enfraquecer, o que aparentemente acontece, a demanda por madeira diminuirá e os preços cairão. Segundo o WSJ , “os alvarás de construção residencial caíram em julho para taxa anual ajustada sazonalmente de 1,4 milhão de unidades. Ou seja, o menor número desde junho de 2020”.
Isso não é bom presságio para vendedores de madeira. Entretanto, construtores em potencial também podem procurar por materiais alternativos.
Publicado originalmente na FEE, sob o título “How Much Wood“. Traduzido por João Pedro Moscatti.