A ofensiva pública do Estado francês através das associações de esquerda visa levar os títulos de imprensa considerados ‘perigosos’ à clandestinidade
A ofensiva de censura do Estado francês — e, por ele, de organizações de esquerda — contra qualquer expressão pública com visões de direita mira não somente no audiovisual, mas também na imprensa. Assim como os ataques ao canal conservador CNews, levaram a ter sua licença de transmissão na televisão digital terrestre cassada. Agora é a vez d’uma revista satírica de direita, La Furia, ter sua licença de mídia impressa revogada.
La Furia
Fundaram a revista La Furia, em 2022, quatro figuras da direita nacional francesa
- O ensaísta Laurent Obertone, autor do aclamado ensaio La France Orange Mécanique (França: Laranja Mecânica), publicado em 2013;
- o YouTuber Papacito;
- o cartunista de imprensa Marsault; e
- a editora Laura Magné, conhecida em particular pelo ensaio Transmania sobre os estragos do lobby transgênero.
Seu tom deliberadamente provocativo rende-lhe ataques frequentes de esquerdistas — tanto de associações quanto de pessoas anônimas. Mas, por enquanto, a justiça arquivou todas as queixas contra a revista.
Desde a sua criação, a revista satírica obteve aprovação da Comissão Conjunta de Imprensa (CPPAP). Ademais, aprovação renovada no final de 2024. Na França, tal acreditação é praticamente indispensável para qualquer veículo de comunicação que pretenda ter circulação nacional e atingir um público amplo. Pois oferece tarifas preferenciais para entrega postal e colocação obrigatória do título em bancas. Isto é, uma garantia de visibilidade que, d’outra forma, deixaria a distribuição a critério ideológico dos vendedores.
Perseguição à Liberdade de Imprensa pela Esquerda em França
As associações de ativistas de esquerda SOS Homophobie e SOS Racisme, financiadas em grande parte com dinheiro público, acharam por bem denunciar La Furia ao presidente do CPPAP. Porém, este apressou-se em retirar o credenciamento do jornal.
Acusaram La Furia de conteúdo “suscetível de causar ofensa”, ou “constitui uma ofensa”, ou “levanta a questão da discriminação”. Logo, cuntado-lhe seu status de “interesse público” e levando à revogação da licença de imprensa.
Decisão tomada durante o verão. Entretanto, os editores de La Furia não comunicaram a censura antes, na esperança de dialogar com as autoridades e fazê-las reverter a decisão. Em vão. Laurent Obertone publicou um artigo de opinião no Le Journal du Dimanche esta semana para chamar a atenção para a injustiça contínua. Conquanto trata-se d’uma decisão “totalmente sem precedentes” tomada “em pleno verão. Portanto, sem qualquer debate, sem o menor aviso”.
Corte de Visibilidade
La Furia não precisa temer o fim dos subsídios públicos à imprensa concedidos pelo CPPAP. Pois sempre os recusou para permanecer livre e dependente apenas do apoio de seus leitores. Por outro lado, o fim da obrigação de exibir a revista é verdadeiro golpe. Pois levará um número considerável de varejistas a deixar de vender La Furia voluntariamente em suas prateleiras. É a questão da visibilidade no espaço público d’uma voz alternativa à dominante em jogo aqui. Como explica Obertone:
Graças à notável mobilização de nossos leitores — ou simplesmente defensores de nossa liberdade — La Furia consiguirá manter-se. Todavia, perderá gradualmente todo o contato com o público sob a pressão de informantes vigilantes. Desaparecerá da paisagem e será reduzida à clandestinidade.
A França voltou aos dias em que jornais alvos de censura oficial eram impressos na Holanda e circulavam na clandestinidade. Dever-se-ia garantir a liberdade de imprensa por um arsenal de leis aprovadas durante a Terceira República. Mas a mesma desaparece gradualmente.
Como Obertone aponta, o absurdo reina supremo neste caso. Todas as queixas contra La Furia foram rejeitadas no passado. O CPPAP justifica suas ações explicando que não precisa esperar por uma decisão judicial para agir. Mas está agindo com base em uma infração que só os tribunais podem qualificar e que nunca moveu contra La Furia.
Vigilância e Ministérios da Verdade
Este episódio não é anedótico. Pois associações por trás da denúncia agora integram um consórcio oficial de vigilância contra “discurso de ódio”. Criado pelo governo francês há alguns meses para rastrear qualquer conteúdo considerado desviante. Sua suposta expertise recebeu o selo de serviço público — com o financiamento que a acompanha.
Erik Tegnér, editor-chefe da revista investigativa conservadora Frontière, também regularmente alvo de processos judiciais, apoiou La Furia. Sendo assim, denuncia um clima de censura do qual ele próprio é vítima — incluindo agressões físicas. Porém, enquanto vozes da esquerda pedem quedestitua-se a Frontières do credenciamento oficial. Ou seja, que concede aos seus jornalistas cartões de imprensa — e, com eles, os direitos e proteção conferidos aos membros da imprensa.
O que acontece aqui é uma guerra de atrito: “É claro que a justiça prevalecerá no final. Em dois anos. Tempo suficiente para morrer dez vezes mais”, esbraveja Obertone.
Enquanto isso, o Estado continuará sua busca por conteúdo “chocante”, graças ao generoso apoio financeiro aos seus ministros da verdade. Afinal, não esqueçamos que o país do Charlie Hebdo também é dos déficits recordes de gastos públicos. Assim como a polícia do pensamento sempre recebeu generosas verbas públicas.
Publicado originalmente em The European Conservative, intitulado “France: Satirical Right-Wing Paper Stripped of Its Press Rights“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.
