Há Teorias ‘Acadêmicas’ impulsionando o ‘fetiche por selvageria’, criando uma esquerda identitária violenta e perigosa, que destrói as noções básicas sobre liberdade individual
Muitas pessoas se chocaram ao ver como a esquerda identitária explodiu numa grande comemoração macabra com a notícia do assassinato de Charlie Kirk. Estudantes que desprezavam as visões políticas de Kirk gritavam: “Acertamos o Charlie no pescoço”. Porém, o sociólogo britânico Frank Furedi argumenta que esses estudantes não confinam-se a ala radical desequilibrada. Tampouco representam meramente “os atos de alguns idiotas”, como muitos supõem. Mas a necessidade de violência da esquerda identitária.
Fetiche pela Selvageria
Em vez disso, as celebrações refletem um “fetiche pela selvageria” mais amplo da chamada esquerda identitária. Todavia, impulsionado por teorias acadêmicas que tratam a violência como “um ato de autocuidado” para membros de grupos identitários venerados. Furedi alerta que “reações como essas não tratam-se meramente de ações d’alguns indivíduos infantis ou ‘só’ radicalizados. Pois impregnadas na visão de mundo esquerdista moderna”.
A esquerda tornou-se tão preocupada com seu próprio senso de fervor moral que: “O esquerdismo – especialmente em sua forma identitária e pós-colonial – é uma ideologia explicitamente violenta”. Ou seja, a esquerda identitária considera a violência uma “força purificadora”. Isto é, que a ajudará a expurgar os erros do colonialismo, do capitalismo e da injustiça histórica, contra as quais os acadêmicos modernos manifestam-se. Furedi explica:
Eles internalizaram a sensibilidade à vitimização e, a partir dessa perspectiva identitária, consideram as chamadas vítimas do sistema plenamente justificadas em abraçar a política da violência. Basta observar a reação deles à crueldade insensível do assassinato de Kirk e observar como relegaram o ativista conservador ao papel d’uma não-pessoa. Assim como outros tonaram-se fáceis de serem alvos.
Individualismo Libertário vs Esquerda Identitária
Os porta-estandartes ideológicos da esquerda rebaixam-se a endossar abertamente a morte dos oponentes e a destruição da considerada civilização opressora. Por isso, torna-se cada vez mais difícil aos libertários defenderem a doutrina da liberdade individual sem lançarem-nos no mesmo campo ideológico dos identitários. Mas o individualismo da esquerda identitária do “eu, eu, eu” ajudou a impulsionar a venenosa filosofia na qual “mudança de gênero é violência”, “racismo é violência” e “silêncio é violência”.
De qualquer forma, os conservadores sempre viram o termo “individualismo” com cautela, devido às conotações que sugerem egoísmo e arrogância. Assim como o aparente desrespeito pelas normas sociais e valores tradicionais. Todavia, só piora quando a esquerda obcecada por si mesma endossa a violência contra qualquer pessoa que perceba como conservadora. Nesse contexto, defender a liberdade individual parecerá a muitos observadores conservadores nada menos que suicida. Pois parece exigir que “tolerem” os valores e estilos de vida dos comunistas, cujo objetivo é destruir a civilização ocidental. Alguns conservadores já expressam dúvidas quanto ao valor de proteger a liberdade de expressão quando estende-se aos fantasmas que regozijam-se com o assassinato de Kirk.
A noção de individualismo manchou-se por suas associações com grupos identitários egoístas e violentos a representando. Portanto, desafio ao libertarianismo moderno, especialmente porque a liberdade individual, com suas doutrinas de liberdade de expressão e liberdade do controle estatal, está no cerne do credo libertário.
O Novo Credo Libertário
Em seu artigo de opinião de 1971, no New York Times, “O Novo Credo Libertário“, Murray Rothbard caracterizou o libertarianismo como “A tradição que outrora estabeleceu a América como o orgulhoso farol da liberdade. De Jefferson, Paine, Jackson e Garrison”. O subtítulo dizia: “Uma fé renovada no indivíduo é a base da nova doutrina”.
Ademais, descreveu esse foco na liberdade individual como “uma crescente cisão na direita”. À medida que os neoconservadores tornavam-se cada vez mais preocupados com “militarismo e império”. Hoje, a cisão na direita aprofunda-se, à medida que os conservadores nacionalistas lançam campanha para impor “consequências” aos seus oponentes macabros. Ou seja, fazendo com que os empregdores os demitam. Nesse contexto, têm pouca paciência para as doutrinas da liberdade individual.
Rothbard concluiu seu “Novo Credo Libertário” com um ponto importante que pode ajudar a explicar por que a noção de liberdade individual desviou-se tão desastrosamente. Ele explicou que o objetivo do libertarianismo era “elevar os padrões de liberdade e razão sobre os quais fundaram este país”. Sendo asism, sua ênfase no direito do indivíduo à autopropriedade explicitamente liga-se a esses padrões fundamentais.
Quando a liberdade individual afasta-se da razão, ela torna-se grotesca, uma paródia sinistra de si mesma. Assim, alimenta a noção mortal de que jutifica-se a violência se alguém sente que seus oponentes ideológicos “desrespeitam” a sua individualidade. Esta é agora a marca registrada da esquerda identitária: deixar de respeitar seus pronomes declarados, ou seus legados de opressão e pagar-lhes suas “reparações”, equivale a “apagá-los”. Portanto, justifica sua violência.
Histórico de Ataques por ‘uma causa’ nos EUA
A história revela que esse problema tem raízes profundas. William Lloyd Garrison — que Rothbard admirava pelo seu comprometimento com o abolicionismo — sofreu ataques violentos por multidões indignadas com sua declaração contra a Constituição. “O arranjo mais sangrento e ousado já feito pelos homens para a continuidade e proteção de um sistema da mais atroz vilania já exibida na Terra”. Ou seja, a escravidão. Considerou-se a denúncia de Garrison à constituição ultrajante, pois desafiava a crença de que a América é uma nação fundada no ideal de liberdade. Consequentemente, os abolicionistas eram com frequência submetidos a ataques violentos.
Mas muitos abolicionistas, por sua vez, também abraçaram a violência agressiva como um meio justificado de avançar sua causa. Por exemplo, John Brown cometeu assassinato a sangue frio pela causa do abolicionismo. Para tnato, recebeu financiamento de intelectuais liberais da Nova Inglaterra, um dos quais era amigo de Henry David Thoreau e Ralph Waldo Emerson. Pois acreditavam que a violência contra os estados do Sul era necessária para promover a causa da justiça.
Até mesmo o libertário pacifista Lysander Spooner, em seu panfleto de 1858, “Um Plano para a Abolição da Escravatura e para os Não-Escravistas do Sul”, defendeu o direito dos escravos de confiscar a propriedade de seus senhores “por estratagema ou força”. Os guerreiros da justiça social de hoje acreditam que a violência da causa abolicionista aplica-se com igual justificativa aos próprios ideais antirracistas. Pois educados em teorias raciais críticas que tratam a “escravidão” como sinônimo de “racismo”.
Esquerda Identitária não pratica a Legítima Defesa
Fica claro a partir desses exemplos históricos que a violência que permeia a causa da liberdade não é novidade. Mas, como Rothbard explica em A Ética da Liberdade, a violência só justifica-se em legítima defesa. A confusão surgiu porque a fronteira entre agressão e defesa tornou-se turva por teorias da esquerda identitária. Muito complicadas e nas quais multidões violentas acreditam lutar em “defesa” contra agressores.
Como veem, se a violência só justifica-se em legítima defesa, abre-se deixa para vestir o manto de guerreiros da justiça social lutando contra a tirania. Porém, ignorando o fato de que eles que cometem atos agressivos contra os outros. Esse problema da violência aplica-se a todos os grupos identitários que acreditam lutar pelo direito de “viver como são”. Assim como pelo direito de trazer “seu verdadeiro eu” onde quer que vão. Eles querem ser vistos, ouvidos, afirmados, celebrados e até mesmo adorados por todos que têm o infortúnio de cruzar seu caminho. Ou então…
Autopropriedade e Deveres
Os libertários concordariam que cada pessoa tem o direito à autopropriedade. A viver sua vida como desejar, sem interferência do governo ou de qualquer outra pessoa. Como disse Rothbard: “Todo indivíduo, como uma entidade atuante independente, possui o direito absoluto de ‘autopropriedade’. Isto é, de possuir sua própria pessoa sem ser molestado por terceiros.”
Mas os problemas começam quando identitários, muitos dos quais identificam-se como liberais ou libertários de esquerda e afirmam defender a liberdade individual, esquecem que o direito de não ser molestado por outros também implica o dever de não molestar os outros. Sendo asism, exigem agressivamente que “respeitem” sua individualidade e emitem decretos e ultimatos sobre o que exigem dos outros como sinal de respeito. Sob pena de consequências violentas em caso de descumprimento. É difícil imaginar um afastamento mais perverso dos “padrões de liberdade e razão sobre os quais fundaram este país” do que uma cultura de individualismo enraizada na violência contra os oponentes ideológicos.
Publicado originalmente no Mises Wire, via Mises Institute, intitulado “Individualism and the Violence of the Identitarian Left”. Traduzido por João Pedro Moscatti.