Como desenvolver a atenção e a memória podem elevar a inteligência das próximas gerações

Hugo de São Victor no seu Opúsculo sobre o Modo de Aprender elenca as qualidades que devem ser adquiridas por bons alunos, ou, dito de outra forma, por aqueles que buscam a vida intelectual, e o desenvolvimento da inteligência. Algumas podem ser trabalhadas mesmo com crianças de 4 e 6 anos. Mais que isso, não só podem, como devem.

Duas estão profundamente esquecidas na contemporaneidade, como se a pessoa as possuísse de maneira inata e não tivesse de as adquirir. O resultado é o declínio da inteligência, pois se esqueceu que há habilidades prévias ao estudo ou à vida intelectual propriamente, mas que perpassam a vida humana e precisam ser ensinadas.

Fala-se muito de humildade (que deve ser dirigida à verdade, não a pessoas). Mas pouco sobre atenção e memória.

Indústria da Destruição

O mais relevante é que não é algo novo ou desconhecido, antes é algo “ocultado” por uma indústria que insiste em colocar telas de celulares, tablets e computadores para crianças de 4 anos. Com a propaganda que elas aprenderão melhor se estiverem mais distraídas e conectadas.

Truques de mágica têm na sua base de sua execução a habilidade do mágico em desviar a atenção ou ocultar o segredo da atenção do público. Basta ver o filme Truque de Mestre para ter esse conhecimento. E o que se faz é exatamente isso: ocultar a causa da estupidificação massiva, com a apresentação de soluções que pioram o problema

O segundo passo é criar uma série de subempregos que legitimam a educação disponibilizada. Pode-se citar outros exemplos históricos da importância da atenção e da memória e seu desenvolvimento.

A importância da Atenção

Durante a Segunda Guerra Mundial, sabendo da importância da atenção, o Exército Aliado usou um Exército Fantasma para enganar as forças do Eixo. Aníbal, o grande adversário de Roma, em sua campanha pela Itália, conseguiu enganar os romanos, pois usava da atenção para perceber armadilhas e prepará-las.

Ou seja, antes de ser capaz de aprender, uma pessoa deve ser capaz de se atentar às coisas. E guardar as coisas que percebe em sua memória.

De volta à humildade

A humildade da qual fala Hugo de São Victor não consiste numa obediência a pessoas, mas à verdade. Se uma pessoa é verdadeira, então deve-se obediência à verdade que ela porta, independente de quem seja. E a atenção também se dirige à verdade, não simplesmente à memorizar o que qualquer palhaço fala.

O alerta da humildade existe para que as paixões não atrapalhem a atenção do aluno (como atrapalham). E esse é um dos grandes problemas com as tecnologias contemporâneas: elas atiçam as paixões e, portanto, são antes dissipadoras de atenção que promotoras.

Não que a situação esteja fácil com o entendimento de “paixão” ser o sentido romântico, não o clássico, mesmo em ambientes de estudo das artes liberais.

Dito isso, basta destacar que reeducar a atenção e a memória é suficiente para elevar o nível intelectual médio da população. Alguns dos maiores charlatões da internet não são inteligentes, só memorizaram (ainda que mal) algumas obras desconhecidas do público. Tendo o mínimo de atenção, percebe-se como os discursos são moldados exatamente porque “colam” e, facilmente, perceberia contradições ou problemas.

E é evidente que tal problema de falta de atenção seja só presente na internet ou em ambientes tecnológicos. Mesmo ambientes acadêmicos estão preenchidos por pessoas que não são capazes de uma verdadeira produção intelectual, mas de uma cópia. E, ainda que esta exija alguma atenção e memória, a qualidade da “produção intelectual” mostra a qualidade dos produtores.

Resumidamente, o problema é simples: ainda que uma pessoa inteligente consiga repetir o conteúdo de um livro, a repetição do conteúdo não consiste em inteligência. E alguém que esteja atento sabe perceber a diferença porque sua atenção está dirigida ao conceito, não à palavra.

Exercícios de Atenção para Educar a Inteligência

Não é difícil educar a atenção de uma criança. Basta dar um problema para ela resolver. Claro que o problema de um adulto pode ser como desenvolver um motor que suporte a velocidade de mach 5. Logo, nunca que uma criança de 4 anos poderá ter esse problema. Porém, uma criança pode ter como problema de vida experimentar com cores de tinta.

Dê-se uma medida (uma colher de chá) e peça-se para a criança experimentar as várias combinações possíveis, criando vários tons das combinações possíveis. Dobraduras são outro exemplo e até mesmo levar uma criança a um supermercado e fazê-la guiar as compras procurando os itens será algo estimulante.

Tente fazer uma criança identificar a localização dela num mapa e os caminhos que ela faz para ir para a escola. Faça a identificar quais os passarinhos estão cantando. E sempre há o desafio final de ensinar-lhe música e fazê-la distinguir os instrumentos numa orquestra.

Com o estímulo certo, uma criança poderá desenvolver até habilidades de falsificação de caligrafia. O que não significa que ela tornar-se-á criminosa, mas poderá ser uma boa investigadora.

Leituras de obras mais complexas também ajudam no desenvolvimento de atenção e memória. Porque exigem do leitor que guarde informações para serem ressignificadas. Esse é um dos segredos de sucesso de bons romances policiais. E há muito disponível online, seja de Poirot, seja do padre Brown. Sherlock Holmes tende a não ser tão bom na parte de investigação porque a obra é mais divulgação científica, ainda que haja méritos dedutivos.

Jogos como Stop e Forca também possuem suas vantagens, além de serem úteis para o letramento. Quebra-cabeças e brincar de esconder objetos pela casa também. Com a educação adequada, as crianças desenvolvem memória para procurar as coisas em lugares por similaridade de outros já utilizados. E esconder em plena vista é útil para treinar a atenção.

A educação correta faz um jovem identificar quais as questões que um professor colocará na prova.

Conclusão

É preciso um intenso estímulo para os adultos das últimas duas gerações fazerem algo. Mas, para as crianças, ainda não viciadas pela tecnologia, basta direcionar minimamente para se desenvolverem. E não serão enganadas pelos mesmos charlatães que roubam os pais prometendo fama, poder ou dinheiro.

Há atividades de atenção e memória para desenvolvermos com celulares, tablets e computadores. Pode-se jogar Forca online, por exemplo, e a internet está repleta de livros em domínio público e de boa qualidade. Mesmo uma tabela de Excel permite um bom estudo de história.

Porém, é evidente que o direcionamento que se faz não é esse.

Tik-toks de ciência não farão os jovens ficarem mais inteligentes. Podem criar a ilusão de inteligência, mas esta só vem com o silêncio, porque ele é o sinal excelente daquele que está concentrado. Os atentos percebem que, quando a educação contemporânea educa, só faz o aluno repetir como um papagaio aquilo que outro papagaio disse.

By Henrique Inácio Weizenmann

Psicopedagogo, mestre em comunicação, estudante de cultura, imaginário e controle social.

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