Charlie Kirk não reverenciava a Lei de Direitos Civis e seu assassinato evidencia que não era uma visão equivocada
Os defensores da Lei de Direitos Civis sempre se esforçam para apresentar como eminentemente razoáveis. Mas principalmente se argumentam que o princípio da não discriminação reflete as melhores intenções de criar um mundo mais justo.
De fato, a Lei de direitos civis parece, à primeira vista, não representar algo além de dar a todos chance justa de participar da educação ou do emprego. O que haveria de errado em permitir que alunos negros frequentassem escolas antes restritas a brancos, ou impedir empregadores de demitirem qualquer pessoa com base só na cor da pele? Não seriam ideais liberais básicos com os quais todos concordamos?
Com base nisso, os defensores da Lei de Direitos Civis levantaram acusações contra Charlie Kirk. Descrito pelo New York Times como “voz de destaque entre um grupo de jovens ativistas conservadores que emergiram durante a era Trump”. Mas por ser um “extremista”, por ousar criticar tanto Martin Luther King Jr. como a Lei dos Direitos Civis. O Sr. Kirk disse no America Fest:
“Tenho uma visão muito, muito radical sobre isso. Mas eu posso defendê-la e já pensei nisso. Pois cometemos erro enorme ao aprovarmos a Lei dos Direitos Civis, na década de 1960.”
Extremistas?
A implicação, ao referir-s3 a essa visão como “extrema”, é que situa-se fora do espectro de visões políticas encontradas entre ‘pessoas razoáveis’. Ou seja, tão inaceitável que a boa-fé de qualquer que expresse tais opiniões será seriamente questionada. Entretanto, à medida que os limites da opinião política aceitável tornam-se cada vez mais estreitos. Parece agora generalizada a opinião de que certamente todos admiram Martin Luther King Jr. e seu movimento pelos direitos civis. Isto é, todos, exceto os “extremistas”.
A primeira resposta àqueles que consideram “extremista” criticar a Lei de Direitos Civis é apontar que, na verdade, nem todos “concordamos” com os ideais igualitários. Por exemplo, a centralidade da política identitária no projeto de construção de uma “boa democracia”,. Assim como a crença quase religiosa de que os EUA são irremediavelmente racistas, ou qualquer versão da visão de mundo progressista. Não é “extremista” discordar dos progressistas, que se estabeleceram como o padrão-ouro da opinião pública. E agora consideram todos os seus oponentes ideológicos como renegados.
Debater é Preciso
A maioria dos debates políticos são tentativas de abordar precisamente esses tipos de questões. Por exemplo, como devemos organizar a sociedade, quais valores salvaguardaremos e o papel apropriado do Estado. Diferentes partidos políticos expressam suas opiniões sobre os princípios que regerão a sociedade. Ademais, os participantes do debate público podem favorecer quaisquer das perspectivas contestadas.
Supor que conservadores e progressistas “concordam” com a visão de mundo igualitária, ou que compartilham visões comuns sobre o papel da legislação na engenharia social e na construção racial. É impedir o debate público e, em última análise, tornar a liberdade política nula.
Afinal, qual seria o sentido de ter diferentes partidos políticos se todos concordassem sobre o que o governo deveria fazer? Factualmente, siciedades livres têm mais de um partido político precisamente porque nem todos concordamos nessas questões.
A Leis de Direitos Civis: Unanimidade?
Pode-se argumentar que hoje, na era do partido único, existem algumas questões centrais sobre as quais os principais partidos concordam. Conquanto retrata-se frequentemente a Lei de Direitos Civis como uma dessas questões, já que muitos no Partido Republicano juntam-se aos seus colegas Democratas em concordar que programas de diversidade, equidade e inclusão são ótima ideia.
Desde que sejam implementados “corretamente” e usados para complementar, em vez de minar, o mérito. Ou assim afirmam. No entanto, para compreender a natureza superficial e precária desse aparente consenso sobre direitos civis, precisamos examinar o contexto político no qual a Lei de Direitos Civis.
Alcance da Lei de Direitos Civis
Na década de 1960, como hoje, havia pouca clareza sobre o que exatamente a lei pretendia alcançar. Se houvesse algum consenso, era sobre a ideia de que as leis de Jim Crow eram abomináveis e deveríamos revogar. Sendo assim, e posto dessa forma, parece um princípio com o qual a maioria das pessoas concordaria. Mas, como Christopher Caldwell demonstra em seu livro “Age of Entitlement” (A Era do Direito), a lei nunca teve a intenção só de revogar as leis de Jim Crow. Logo, após o lançamento, a lei rapidamente estabeleceu-se como modelo para a visão progressista da sociedade ideal – em essência, uma nova Constituição.
David Gordon destaca tal ponto em sua análise, abordando o argumento de Caldwell de que a Lei dos Direitos Civis funciona como uma constituição de fato. Logo, é “uma constituição rival, com a qual a original era frequentemente incompatível – e a incompatibilidade pioraria à medida que construíssem o regime de direitos civis”. Conforme observado por Helen Andrews em sua análise, Caldwell argumentou que a Lei de Direitos Civis não funciona só como uma constituição rival, mas também como uma que tem status quase reverenciado:
“Um dos observadores mais astutos da nossa política contemporânea, Caldwell argumenta que os Estados Unidos agora têm duas constituições. A primeira é a que está nos livros. A segunda surgiu na década de 1960 e substituiu as antigas liberdades por novas e incompatíveis, baseadas em identidades de grupo. “Grande parte do que chamamos de ‘polarização’ ou ‘incivilidade’ nos últimos anos é algo mais grave”, escreve ele. “É o desacordo sobre qual das duas constituições prevalecerá.” Mais estimulante ainda, ele atribui a culpa por esta crise ao totem mais sagrado da política americana: nossa legislação de direitos civis”.
Violência Política
Essa polarização e incivilidade resultaram agora numa situação na qual algumas pessoas consideram razoável responder com violência a qualquer um que considerem proferido “palavras de ódio”. Como observado na homenagem do New York Times a Charlie Kirk, esse tipo de violência em disputas políticas é mundo de horrores para todos, independentemente de opiniões políticas:
“…não existe mundo em que a violência política se intensifique, mas esteja contida só entre os seus inimigos. Mesmo que isso fosse possível, ainda seria um mundo de horrores, uma sociedade que teria colapsado na forma mais irreversível de falta de liberdade… deveria ser uma discussão, não uma guerra; deveria ser vencida com palavras, não encerrada com balas”.
Publicado originalmente no Mises Wire, do Mises Institute, sob o título “Charlie Kirk and the Sacred Totem of Civil Rights“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.