É pertinente abordar uma polêmica recente que reforça a postura tradicionalista de Carlos Nougué: sua defesa do Centro Dom Bosco (CDB). Inclui refutação do Pe. José Eduardo
Estou finalizando uma análise detalhada das críticas de Carlos Nougué ao Concílio Vaticano II e ao Catecismo da Igreja Católica de 1992. As críticas ocorreram numa série de três entrevistas e que ele desafiou que fosse refutada). Mas é pertinente abordar uma polêmica recente que reforça sua postura tradicionalista: sua defesa do Centro Dom Bosco (CDB).
O CDB
O CDB é uma associação leiga brasileira que publicou o livro “Os Erros do Catecismo Moderno“, de Michael Haynes, em 2025. Este livro, promovido pelo CDB e endossado por Nougué, ataca diretamente o CIC, apontando supostos erros doutrinais em parágrafos específicos (CIC 816, 839, 598, 819, 841) e acusando-o de relativismo, universalismo e desvio da tradição católica. A controvérsia gerou reações, incluindo uma crítica contundente do Padre José Eduardo, que refuta as alegações do livro e expõe as fragilidades de suas bases teológicas e históricas.
O Centro Dom Bosco, fundado em 2016, é conhecido por sua linha tradicionalista. Se inspira em figuras como Dom Marcel Lefebvre e demonstra rejeição de aspectos do Concílio Vaticano II. A publicação de “Os Erros do Catecismo Moderno” intensificou as tensões com setores da Igreja no Brasil. Mas, e especialmente, após o CDB promover o livro como uma exposição de “erros e imprecisões” no CIC.
Porém, aprofundam, apelidando-o de “Catecismo Amarelo”, afirmando que o CIC contém erros e sugerindo a volta aos Catecismos de Trento e São Pio X. Questionando se muçulmanos adoram o mesmo Deus dos católicos, citam o CIC 841 de forma descontextualizada. Carlos Nougué, em sua defesa do CDB, reitera essas críticas, alinhando-se à visão de que o CIC compromete a fé tradicional.
A Resposta do Padre José Eduardo
A controvérsia ganhou destaque com críticas de católicos, incluindo o Padre José Eduardo, que acusara o CDB de disseminar confusão e desrespeitar a autoridade magisterial. O Padre José Eduardo, em particular, desmontou a narrativa tradicionalista sobre o termo “subsistit in” (CIC 816), usado em Lumen Gentium. Pois, o livro de Haynes interpreta como relativismo eclesiástico.
Todavia, sua crítica ridiculariza a ideia de que a expressão teria origem em um pastor luterano, Wilhelm Schmidt. Assim sendo, demonstra com base nas atas do Concílio: foi proposta pelo teólogo jesuíta Sebastian Tromp. Tromp era um tomista ortodoxo.
Acusações Refutadas
As acusações de Os Erros do Catecismo Moderno contra o CIC, conforme resumidas, refletem uma abordagem típica de setores tradicionalistas que veem o Vaticano II como uma ruptura. Refutada cada alegação, mas vale reiterar os pontos principais:
– CIC 816 (“subsistit in”): A acusação de relativismo é infundada
Como esclarecido pelo Padre José Eduardo, a expressão, proposta por Sebastian Tromp, reafirma que a Igreja de Cristo subsiste plenamente na Igreja Católica. Logo, com todos os elementos fundados por Cristo. A Dominus Iesus (2000) e a Nota da Congregação para a Doutrina da Fé (2007) confirmam essa interpretação. Pois rejeitam qualquer leitura que sugira equivalência com outras comunidades cristãs.
– CIC 839 (salvação universal): A ideia de universalismo é uma distorção
O CIC, baseado em Lumen Gentium (n. 16), ensina: a graça de Deus é oferecida a todos, mas a salvação ordinária é por meio da Igreja (CIC 846). A possibilidade de salvação para os que, sem culpa, não conhecem Cristo é uma doutrina tradicional, presente desde Pio IX (Quanto Conficiamur Moerore, 1863).
– CIC 598 (responsabilidade na Paixão)
A crítica de que o CIC culpa os cristãos indevidamente ignora Nostra Aetate (n. 4), que condena o antissemitismo e esclarece que a culpa pela morte de Cristo recai sobre indivíduos históricos, não sobre os judeus como povo (CIC 597).
– CIC 819 (elementos fora da Igreja)
A acusação de sincretismo desconsidera que o reconhecimento de elementos de verdade em outras comunidades cristãs, como o batismo válido, é tradicional (cf. Santo Agostinho, De Baptismo, I, 14, 22). Portanto, esses elementos são ordenados à plenitude da Igreja Católica (Unitatis Redintegratio, n. 3).
– CIC 841 (muçulmanos e o plano de salvação)
A sugestão de pluralismo religioso é refutada pelo CIC 846 e pela Redemptoris Missio (n. 5), pois mantêm a centralidade de Cristo. O reconhecimento de que muçulmanos adoram o Criador reflete Nostra Aetate (n. 3), mas não implica igualdade doutrinal.
O Livro de Haynes e o CDB
O livro de Haynes, portanto, baseia-se em interpretações descontextualizadas, ignorando a continuidade doutrinal explicitada pelo magistério pós-conciliar. Sua metodologia espelha a de Nougué: uma leitura literalista que projeta intenções modernistas não presentes nos textos.
A crítica do Padre José Eduardo ao mito do “subsistit in” é um exemplo de resposta teológica rigorosa. Pois desmascara a narrativa de que a expressão é de origem protestante. Afinal foi proposta por Tromp. Logo, por um defensor da ortodoxia. Também foi aprovada pela Comissão Teológica do Concílio.

Sua ironia ao chamar a crença tradicionalista de “ignorância” destaca a fragilidade de fontes como a carta de Wilhelm Schmidt, pois carece de respaldo nas atas conciliares (Acta Synodalia). Essa refutação não apenas desmonta uma das acusações centrais do livro, mas expõe a tendência de setores tradicionalistas, incluindo Nougué e o CDB, de priorizar testemunhos duvidosos sobre o magistério oficial.
A postura do Padre José Eduardo reforça a necessidade de interpretar o Vaticano II e o CIC à luz da “hermenêutica da continuidade”. Assim como proposto por Bento XVI. Não obstante, ele também alerta para o risco de divisão eclesial causado por iniciativas como a do CDB. Pois, ao atacar um documento magisterial como o CIC, desafiam a autoridade da Igreja que dizem defender.
A Defesa de Nougué: Agravamento
A defesa de Nougué ao CDB e ao livro de Haynes agrava sua posição já problemática. Ao endossar uma obra que ataca o CIC – um documento promulgado por João Paulo II como “referência segura e autêntica” (Fidei Depositum, 1992) – Nougué se coloca em oposição direta ao magistério ordinário, aproximando-se de uma postura cismática.
Sua insistência em chamar o CIC de “amarelinho” e em promover catecismos anteriores, como o de Trento, amplifica a estratégia do CDB de criar confusão entre os fiéis. Essa atitude não apenas mina a unidade da Igreja, mas desrespeita a autoridade do Papa e dos bispos. Pois eles que aprovaram o CIC como norma para a catequese.
Além disso, a polêmica revela uma agenda ideológica mais ampla do CDB, que, conforme artigos acadêmicos, combina tradicionalismo católico com neoconservadorismo político.
Agenda Ideológica e Política do CDB
Ações como a interrupção de uma missa afro em 2019 e o boicote a grupos católicos progressistas indicam que o CDB, apoiado por Nougué, não se limita a questões teológicas, mas busca influenciar a cultura e a política brasileiras com uma visão antimoderna. Essa postura contrasta com a missão da Igreja de dialogar com o mundo, como ensina Gaudium et Spes (n. 4).
A defesa de Carlos Nougué ao Centro Dom Bosco e ao livro “Os Erros do Catecismo Moderno” reforça sua rejeição ao Concílio Vaticano II e ao magistério contemporâneo, aprofundando sua postura tradicionalista. As acusações do livro contra o CIC, refutadas tanto nesta análise quanto pelo Padre José Eduardo, carecem de fundamento teológico e histórico. Baseiam-se e em leituras descontextualizadas e fontes questionáveis.
A polêmica evidencia o risco de divisões na Igreja causado por iniciativas que, sob o pretexto de defender a tradição, desafiam a autoridade magisterial e promovem confusão entre os fiéis. A Igreja, guiada pelo Espírito Santo, continua a oferecer no CIC de 1992 um guia seguro para a fé. Logo, sua validade é reafirmada por sua coerência com a Escritura, a Tradição e o Magistério.
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