Seis candidatos da AfD, partido de direita odiado pelo ‘sistema’, morreram pouco antes das eleições locais, num estado alemão. Coincidência?
Qual é a probabilidade de que quatro candidatos efetivos e dois reservas do mesmo partido político, na mesma região, morrerem de repente, com 13 dias de diferença? Ademais, pouco antes das eleições locais? Pois aconteceu na Renânia do Norte-Vestfália com candidatos do partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), do pleito de 14 de setembro.
Candidatos ‘Morreram de Repente’
Os quatro candidatos eram Ralph Lange (66); Wolfgang Klinger (71); Stefan Berendes (59); e Wolfgang Seitz (59). Todos concorriam a cargos locais no estado do noroeste da Alemanha, onde eleitores irão às urnas em menos de duas semanas. Autoridades eleitorais alemãs invalidaram cédulas de votação anteriores por correio devido às mortes.
Não sugeriram qualquer suspeita de crime, e as autoridades locais declararam que duas das mortes foram de causas naturais. Ainda assim, parece muito estranho que seis homens d’um partido desprezado pelo establishment alemão — especialmente pelo Escritório Federal para Proteção da Constituição, que rotulou o partido de “extremista de direita” — morram nessas circunstâncias.
Sem dúvida, a AfD não representa ameaça à vitória nas próximas eleições locais. Pois na Renânia do Norte-Vestfália, os candidatos democratas-cristãos permanecem confortavelmente à frente. Conquanto têm 36% nas pesquisas, seguidos pelos sociais-democratas, com 23%. MasaA AfD conquista o terceiro lugar, com pouco menos de 16%.
Porém, o partido triplicou seu apoio desde a última eleição, e os partidos tradicionais parecem assustados.
‘Pacto de Justiça’ aos Migrantes
Na semana passada, os partidos políticos (exceto a AfD) em Colônia, cidade da Renânia do Norte-Vestfália com 1,1 milhão de habitantes, prometeram não criticar migrantes ou migração durante a campanha. Segundo o chamado “pacto de justiça”, os partidos prometeam “não realizar campanha às custas de pessoas com origem migrante que vivem entre nós”. Mas também não culparão os migrantes “por desenvolvimentos sociais negativos, como desemprego ou ameaças à segurança interna”.
Todavia, um desenvolvimento especialmente bizarro. Afina, em Colônia houve agressões sexuais em massa contra mulheres alemãs por homens árabes e africanos na véspera do Ano Novo de 2015-2016. Segundo a polícia alemã, dos 153 suspeitos identificados, 2/3 vieram do Marrocos ou da Argélia, 44% requerentes de asilo e 12% provavelmente migrantes ilegais.
No entanto, as elites políticas da própria cidade onde tai atrocidades ocorreram calaram-se ‘pelo bem maior’ da Alemanha. Logo, deixa a AfD como o único partido disposto a falar sobre a migração como problema — se seus candidatos sobreviverem às próximas duas semanas.
Crise de Migrantes
Desde 2022, quando a guerra entre Rússia e Ucrânia começou, a Alemanha acolheu dois milhões de refugiados. Ou seja, o suficiente para encher duas cidades do tamanho de Colônia. Desde a crise da guerra na Síria em 2015, quando a então chanceler Angela Merkel abriu as fronteiras da Alemanha para aqueles que fugiam da guerra, a Alemanha acolheu entre 10 milhões e 15 milhões de migrantes, refugiados e requerentes de asilo. A população total da Alemanha é de cerca de 84 milhões. Porém, conforme estatísticas oficiais, quase 20% da população alemã nasceu no exterior ou nasceu na Alemanha de pais estrangeiros.
Uma pesquisa nacional realizada em janeiro mostrou que dois em cada três alemães acreditam que o país deveria ter controles permanentes de fronteira. Mas também 57% querem recusar todos os estrangeiros sem os documentos adequados, até mesmo os requerentes de asilo.
Após a última eleição nacional, a AfD tornou-se o segundo maior partido no Bundestag. Mas todos os outros partidos recusam-se a cooperar com seus membros. Enquanto isso, as últimas pesquisas nacionais mostram a AfD em disputa acirrada com a coalizão em declínio Democratas Cristãos/União Social Cristã. O partido do chanceler Merz está com 26% nas pesquisas, enquanto a AfD está com 25%. Os sociais-democratas estão num distante terceiro lugar, com 15%.
Críticas da AfD ao Establishment alemão
Na CPAC Hungria, em maio passado, a líder da AfD, Alice Weidel, criticou duramente o establishment político alemão. “Agarrar-se desesperadamente ao poder por todos os meios tornou-se a principal preocupação dos nossos políticos do establishment”, declarou.
“Motivados pelo pânico, eles distorcem as leis, manipulam a nossa Constituição e eliminam os direitos fundamentais da oposição parlamentar para impedir transferência democrática de poder. O atual governo dá continuidade à guerra contra a liberdade de expressão, iniciada por seus antecessores.”
E agora, em uma grande cidade alemã, o mesmo establishment decidiu que, se não falarem sobre a questão que mais preocupa os eleitores alemães, ela desaparecerá. Essa parece ser a estratégia de políticos do establishment em outras partes da Europa.
Tensão Anti-Migração no Reino Unido
Na Grã-Bretanha, o governo trabalhista reprime duramente os britânicos que opõem-se à migração em massa, enquanto ignora o radicalismo islâmico. No domingo, a polícia britânica prendeu uma mulher por pendurar a bandeira do Reino Unido numa sacada durante protesto anti-imigrante. No mesmo dia, a secretária de educação do Partido Trabalhista, Bridget Phillipson, afirmou em rede nacional: o governo se preocupa mais com os direitos dos requerentes de asilo ao bem-estar dos britânicos. Mais preocupados em tê-los em seus bairros.
É como se toda a elite política de muitos países europeus tivesse enlouquecido. Todavia, num momento de perda generalizada de confiança nas instituições públicas. Os políticos como os confederados de Colônia e o ministro trabalhista, levam pessoas sensatas a desprezar suas classes dominantes. Por exemplo, pesquisa da OCDE de 2024 revelou: quase metade dos alemães tinha pouca ou nenhuma confiança em seu governo. Mas também 56,9% dos britânicos compartilhavam dessa visão negativa de seu próprio governo. E os resultados são igualmente desastrosos em muitos países europeus.
É de esperar-se que as mortes infelizes e estatisticamente improváveis de quatro políticos d’um partido que o governo alemão considera proibir, sejam acaso. Pois a alternativa é assustadora demais para considermos seriamente.
Vitória da AfD ameaçada por Intervenção Estrangeira
Mas Thierry Breton, ex-membro da poderosa Comissão Europeia, ousou dizer a televisão em janeiro passado que a UE preparava-se para anular a eleição se os eleitores alemães escolhessem mal. Ou seja, elegessem maioria da AfD no Bundestag. Como quem diz “Fizemos na Romênia e, obviamente, faremos na Alemanha”. Bem, a diferença entre pessoas paranoicas e aquelas que simplesmente prestam atenção, confunde-se.
Publicada originalmente em European Conservative, sob o título “AfD: Appointed for Death?“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.
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