Como definir Cultura e qual seu Valor Social?

Cultura é o que se cultiva, não é outro uso da palavra, pois é como se cultivam costumes, mentalidades e valores

Cultura é o que se cultiva. Pense em cultura do algodão, da cana-de-açúcar, cultura do café ou da soja. Não é outro uso da palavra cultura, mas o mesmo uso. Cultura é o que se cultiva, como se cultivam costumes, mentalidades, valores. Porém, o que se chama cultura, muitas vezes é confinado ao campo da dita produção cultural, voltada às artes, à literatura, ao entretenimento. É um campo amplo e em expansão. Não estou falando de iniciativas de vanguarda patrocinadas direta ou indiretamente pelo Estado. Daquela gente que parece que não trabalha, tem projeto.

Área imensamente maior e muito mais influente da produção cultural é ocupada pela música de massas, pelo cinema, pelas redes sociais, pela televisão, convencional, streaming ou youtube, pela literatura de best-sellers, pela mídia afinal. Mesmo essa ampla atividade não dá conta de tudo que se cultiva, sobretudo do que se cultiva no recôndito da alma do indivíduo por processos insondáveis em sua totalidade.

Formação Cultural

Como há a cultura do algodão, há a cultura dos teares, da indústria têxtil, das roupas de algodão, de quem as veste, como e por quê. Tudo isso se cultiva, como se cultiva a música de concerto e a também chamada alta cultura.

O Estado se inclina a patrocinar a vanguarda e a decadência, aquilo que perdeu relevância, perdeu público, e vem ao Estado chorar o trágico destino, e aquilo que está por conquistar um público, a novidade sem sorte para viralizar, mas quem sabe um dia… É natural que os envolvidos em produção cultural se voluntariem para amparar essas iniciativas em troca de dinheiro público.

Historicamente, são notáveis os efeitos sobre as sociedades da literatura, do exercício de ler, e tanto faz que a leitura seja espontânea ou imposta. Quando imposta, chamamos educação, ensino. Funciona igual. Ou quase. Os efeitos são tanto maiores quanto mais disseminado o hábito. Cultura, nesse ponto, é determinante para a economia, embora se costume colher resultados concretos muito depois do semear. Depende também do que se lê, pois ideias habitam entrelinhas e, ao fazê-lo, determinam comportamentos e valores. Se o maior patrimônio de um indivíduo é sua reputação, o maior patrimônio de uma família ou de um povo são seus valores. É o que se cultiva.

Cultivo

Pensemos na influência do Evangelho por séculos e séculos. É uma coleção de quatro livros-biografias com ideias disruptivas para seu tempo, hoje menos, graças à disseminação da leitura do próprio Evangelho e das ideias moldadas por ele. Literatura de vanguarda, como reconheceu Nietzsche, quando observou a novidade no “não poder ser inimigo”. O amar o outro indistinto, não apenas o outro eleito, familiar, mas todo e qualquer outro, que efeitos teve sobre a confiança, por sua vez indispensável ao erguimento de economias sólidas, por amalgamar cadeias complexas?

A cultura da soja, como do milho, do arroz e do trigo, avançou enormemente a partir de seus primórdios. A ponto de tornar a fome anormal, quando antes fora normal. Ausente a fome, se pode melhor cultivar o espírito. A produção cultural age especificamente sobre esse cultivo, sobretudo a produção cultural ditada pelo consumo de massas dos ditos bens culturais: filmes, músicas e livros populares. É o mecenato de iniciativa do consumidor. Se o mecenato de filantropos ou do Estado não podem competir com o mecenato do consumo, não significa que seja de todo irrelevante.

Até é irrelevante quando pontual, não gestado como uma estratégia voltada à disseminação de bens culturais alternativos que possam, por exemplo, aproximar novos públicos da literatura. Não há magia na literatura, mas os povos que a cultivaram como hábito são os mesmos que patrocinaram avanços técnicos na cultura do algodão, da indústria têxtil, das roupas, da moda. Não é coincidência. Se colhe o que se planta, embora, como está no Evangelho, nem todas as sementes encontrem solo propício.

Cultura é o que se cultiva. Mas, se quiser chamar de arte, de folclore, de expressão, vinculando à produção cultural, bem, a cultura do algodão começa pela semeadura.



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