A Imigração Ilegal ameaça os sistemas institucionais, a unidade europeia e a economia dos Estados-Membros, sendo o restabelecimento do controle fronteiriço pela Polônia uma resposta justificável
O recente restabelecimento dos controles de fronteira entre a Polônia, a Alemanha e a Lituânia gerou debates na União Europeia. Pois levantou preocupações sobre o futuro da livre circulação no Espaço Schengen. No entanto, a leitura atenta da medida destaca alguns elementos muito positivos e racionais no combate à imigração ilegal.
O Espaço Schengen, estabelecido em 1995, representa, sem dúvida, uma das conquistas mais significativas do projeto europeu, permitindo a livre circulação de pessoas entre os 27 países europeus. No entanto, a própria legislação inclui cláusulas de salvaguarda que autorizam o restabelecimento temporário dos controlos fronteiriços em caso de ameaça grave à ordem pública ou à segurança interna (artigos 25.º a 30.º do Código das Fronteiras Schengen). A decisão da Polónia, tomada a 7 de julho, de restabelecer os controlos fronteiriços com a Alemanha e a Lituânia enquadra-se neste contexto regulamentar. Esta medida, embora temporária e seletiva, representa um ato de autodefesa do Estado polaco contra o aumento do tráfico de pessoas e da entrada irregular de migrantes, fenómenos que podem ameaçar tanto a segurança interna como a coesão social.
Imigração Ilegal: Uma Ameaça Crescente
Não devemos considerar a imigração ilegal somente uma questão administrativa. Mas um fenômeno complexo, multidimensional e em constante evolução. Ademais, com profundas implicações econômicas, sociais e de saúde, sobretudo em termos de segurança nacional. A entrada não autorizada de cidadãos estrangeiros compromete a capacidade de gerenciar de forma eficaz e racional os fluxos migratórios legais. Portanto, altera o equilíbrio estabelecido pelos sistemas de planejamento e recepção dos Estados.
De fato, essa dinâmica, sobrecarrega os mecanismos nacionais de proteção internacional e assistência humanitária. Logo, dificulta a identificação de situações reais de vulnerabilidade e alimenta a exclusão e a marginalização. Além disso, a imigração ilegal frequentemente liga-se intimamente a redes criminosas transnacionais. Porém, particularmente aquelas envolvidas em tráfico de pessoas, contrabando e exploração laboral, que prosperam em controles frágeis e regulamentações desiguais entre os países europeus.
Esse fenômeno também impacta a economia legal, alimentando o trabalho não declarado e, n’alguns casos, o abuso dos sistemas de bem-estar social. Sendo assim, mina a sustentabilidade dos serviços públicos e gera ressentimento entre a população residente. Esse descontentamento traduz-se em tensões sociais, contribui à instabilidade política e arrisca uma fragmentação do consenso democrático.
Justificam-se medidas recentes adotadas pela Polônia, pelo aumento das atividades de tráfico ilícito de migrantes. Por exemplo, como a reintrodução de controles de fronteira. Pois, segundo relatos, autoridades alemãs e lituanas facilitam parcialmente a imigração ilegal, através de uma gestão menos rigorosa dos fluxos. Nessa perspectiva, a imigração ilegal surge não somente como desafio à governança nacional. Mas um teste à coesão e à solidariedade entre os Estados-Membros da União Europeia.
Proporcionalidade e Seletividade da Medida
Um dos principais elementos positivos da medida polonesa é a sua proporcionalidade. Conquanto ativaram os controles por um período inicial de 30 dias. Todavia, com possibilidade de prorrogação somente em caso de problemas persistentes. Além disso, a seletividade dos controles minimiza o impacto sobre os viajantes comuns e o comércio transfronteiriço. Mas, também, foca em veículos suspeitos, como ônibus, vans com vidros escuros e carros com muitos passageiros.
O Ministro do Interior, Tomasz Siemoniak, afirmou que o objetivo não é dificultar a mobilidade. Mas, sim, prevenir e combater atividades ilegais. Nesse sentido, a medida é perfeitamente consistente aos princípios da necessidade e da proporcionalidade consagrados no direito da UE.
Fortalecendo a Segurança Pública e a Confiança
A presença visível de agentes da lei nas fronteiras também tem efeito psicológico positivo na população. Numa era de crescente percepção de insegurança, o fortalecimento dos controles de fronteira tende a aumentar a sensação de proteção e a confiança nas instituições estatais. Os 1.800 agentes destacados são um sinal claro do compromisso do governo com a defesa da integridade territorial e da ordem pública.
Essas ações contribuem para a prevenção de crimes transfronteiriços. Portanto, inclui o tráfico de drogas, tráfico de armas, prostituição e contrabando. N’outras palavras, controlar as fronteiras externas e internas da União Europeia não é somente um dever legal. Mas um componente essencial de qualquer política de segurança moderna.
Responsabilidade e Cooperação Internacional contra a Imigração Ilegal
A reintrodução dos controlos fronteiriços ainda insere-se num contexto mais amplo de responsabilização mútua entre os Estados-Membros. Entretanto, especialmente pela falta de coordenação entre alguns países vizinhos. Para funcionar corretamente, o sistema Schengen exige que cada Estado controle eficazmente as suas fronteiras e coopere com os seus vizinhos. Sem este princípio de reciprocidade, a solidariedade europeia arrisca-se transformar em assimetria e desequilíbrio. Portanto, podemos interpretar o gesto da Polónia não como um encerramento unilateral. Mas um apelo ao diálogo e ao respeito pelas regras comuns.
A Proteção das Fronteiras como Pré-Requisito para a Integração
A integração europeia assenta em pilares essenciais: o mercado único, a livre circulação, a solidariedade e a segurança. No entanto, a proteção da ordem interna e o controlo fronteiriço constituem a base sobre a qual tai valores concretizam-se. Sem controlos eficazes, a liberdade de circulação tornar-se-á vulnerável. Portanto, sem critérios de entrada rígidos, a gestão da inclusão social torna-se mais difícil. Nesta perspectiva, as políticas de combate à imigração ilegal devem ser vistas como um instrumento para equilibrar a aceitação e a legalidade, Mas não como um conflito com os direitos humanos.
Implicações Econômicas da Imigração Ilegal
Também devemos avaliar os protestos levantados por algumas associações empresariais, preocupadas com os atrasos nas fronteiras. Porém, à luz dos benefícios a longo prazo. Embora os controles temporários nas fronteiras possam causar pequenos atrasos no transporte ou inconvenientes aos passageiros, o fortalecimento da legalidade representa um investimento em estabilidade e previsibilidade. De fato, uma economia legal prospera somente em ambientes nos quais há regras claras. Sendo assim, as fronteiras são seguras e as empresas operam sem medo da concorrência desleal de agentes ilegais. Ou seja, a liberdade de movimento não pode existir sem uma aplicação rigorosa da lei.
Controles Temporários como Ferramenta de Resiliência Institucional
A reintrodução de controles de fronteira na Polônia representa um claro exemplo de resiliência institucional diante de múltiplas crises. Embora criticada por alguns observadores e partes interessadas internacionais. Num contexto geopolítico cada vez mais instável, a União Europeia enfrenta ameaças complexas e interconectadas. Por exemplo, o terrorismo internacional, guerra híbrida, pressão de fluxos migratórios não regulamentados e tensões crescentes em suas fronteiras orientais. Assim sendo, o fortalecimento das capacidades de controle soberano parece mais do que justificável em termos de legitimidade democrática. Mas necessário à eficácia e proteção da segurança coletiva.
Podemos interpretar a medida adotada por Varsóvia como uma resposta pragmática e multinível. Conquanto visa defender a integridade territorial do país, combater eficazmente o crime organizado e as redes transfronteiriças de tráfico de pessoas e preservar a ordem pública e o Estado de Direito num momento de vulnerabilidade. Além disso, contribui para fortalecer a confiança dos cidadãos nas instituições estatais. Pois demonstra capacidade concreta de reação diante de situações potencialmente desestabilizadoras.
Nova Abordagem à Imigração Ilegal
Todavia, a decisão polonesa também destaca a necessidade de promover uma abordagem mais simétrica e responsável entre os Estados-Membros. Na qual distribua-se com justiça e coordenação o ônus da segurança. Do ponto de vista econômico, a adoção de controles temporários tende a ajudar a garantir condições mais transparentes e competitivas à atividade econômica legal. Por isso, evita que a interrupção dos fluxos transfronteiriços fomente práticas ilícitas ou distorcidas.
No entanto, a adoção de tais medidas também levanta questões significativas acerca do futuro do Espaço Schengen e o risco de que soluções de emergência tornem-se permanentes. O que comprometeria um dos pilares fundamentais da integração europeia. Portanto, consolidar mecanismos eficazes de cooperação, coordenação e solidariedade entre os Estados-Membros, é o verdadeiro desafio para a União. Assim, possibilitará integrar iniciativas como a polaca num quadro estratégico partilhado para a gestão das fronteiras externas. Mas inspirado em critérios de racionalidade, proporcionalidade e sustentabilidade.
Artigo publicado originalmente em The Conservative, sob o título “Poland: Border Controls as a Strategic Response to Illegal Immigration“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli. Imagem somente ilustrativa.