Conheça as principais lições sobre liberdade individual de um antigo filósofo chinês: Yang Zhu
Yang Zhu (440–360 a.C.), um filósofo chinês, teve as ideias consideadas ousadas e transgressoras para a sua época. Todavia, ideias que impressionam como ‘modernas’ por seu foco na liberdade individual. Compartilhou-se suas lições em textos antigos; depois, referenciadas por estudiosos, nos séculos seguintes.
Ele viveu durante o período dos “Estados Combatentes”, a fase de confrontos entre potências regionais no que mais tarde seria unificado como a China. Ademais, uma época não somente de conflitos militares, mas também de batalhas intelectuais. Conquanto o taoísmo emergia como força religiosa dominante na China (o budismo chegaria dois séculos depois), e a filosofia de Yang Zhu reflete visão taoísta. O Zhuangzi, um texto taoísta escrito entre os séculos IV e III a.C., descreve a proliferação de ideias naquela época:
O império está em completa confusão, a sabedoria e a excelência não estão esclarecidas, não temos o único Caminho e Poder… Há uma analogia nos ouvidos, olhos, nariz e boca; todos têm algo que iluminam, mas não podem trocar suas funções, assim como as diversas especialidades das Cem Escolas têm seus pontos fortes e, às vezes, se mostram úteis. No entanto, elas não são inclusivas, não são abrangentes; são homens, cada um com seu próprio cantinho.
‘Contemporâneo’ de Confúcio
Em meio a esse turbilhão de ideias, a filosofia de Yang Zhu tomou forma. Para contextualizar sua vida com a filosofia chinesa: nasceu cerca de 40 anos após a morte de Confúcio, o mais famoso filósofo chinês. Assim como Mêncio nasceu durante a última década de vida de Yang Zhu.
Inclusive, seria Mêncio quem mais tarde comentaria sua obra e declararia sua importância. Por conseguinte, chamando a influência de Yang e da escola rival de Mo Zi (Moísmo) de “enchentes de animais selvagens que devastaram a terra”.
Conforme o sinólogo Liu Wu-Chi, “Representou nova tendência filosófica em direção ao naturalismo como o melhor meio de preservar a vida num mundo decadente e turbulento”.
Liberdade Individual em Yang Zhu
Yang Zhu está entre os primeiros defensores do “egoísmo ético”, ou o valor de agir de acordo com o próprio interesse. Pois sustentava como errado prejudicar os outros, mas que sacrificar-se por si só não era uma virtude. Contrariando outras grandes filosofias da época — o Moísmo, defensor do altruísmo geral, e o Confucionismo, enfatizando uma ordem social hierárquica, ordenada pelo céu. Porém, realizou trabalho significativo para a compreensão do xing: a natureza inata ou o caráter essencial de cada um.
Segundo a historiadora Erica Brindley:
Yang Zhu, assim como Mêncio, parece considerar o eu e o corpo humano como um recurso importante para formas universais e objetivas de autoridade por meio do xing. Vemos isso na seguinte citação de Mêncio: “Mesmo que beneficiasse o mundo arrancando um único fio de cabelo, ele não o faria.”
Essas eram ideias revolucionárias na época. Sendo assim, Yang Zhu desafiava as ideias de dever e de ordem prescrita em sua defesa da liberdade de escolha.
Egoísmo e Equilíbrio
Yang via os humanos como indivíduos egoístas e acreditava que essa era a maneira correta de viver. Mas somado à ideia crescente do egoísmo de Yang Zhu no Taoísmo, visto como antecipação da busca taoísta pela imortalidade individual. E embora Zhu argumentasse que deveríamos aceitar o tempo nos concedido na Terra e não procurar encurtá-lo, nem prolongá-lo.
Não devemos privar-nos do prazer nem nos entregar aos excessos. Não prejudique ninguém. Cuide da sua vida e esteja em paz com o mundo.
Leitura Adicional
- Erica Brindley, “Individualismo no pensamento clássico chinês”, Internet Encyclopedia of Philosophy .
- AC Graham, Chuang-Tzu (Hackett, 2001).
- Karyn Lai, Uma introdução à filosofia chinesa (Cambridge University Press, 2017). – 20% off na Amazon (Clique aqui)
- Liu Wu-Chi, “Yang Zhu”, Enciclopédia de Filosofia, Vol. 8 (Nova York: Macmillan, 1967).
Publicado originalmente na FEE, intitulado “Yang Zhu and the Freedom of the Self“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli
