Por sorte nossos reis tiveram o mesmo reflexo de Trump hoje, ou viveríamos em tendas francas ou visigóticas, após destruído o esplendor do Império Romano
Após um acordo alfandegário e negociações sobre a guerra na Ucrânia, o presidente dos EUA, Donald Trump, surpreedendeu com um anúncio. Ele planeja equipar a Casa Branca em Washington com um suntuoso salão de baile para sediar festas presidenciais dos EUA.
O Salão de Baile da Casa Branca
O empresário que virou presidente não é conhecido por pensar pequeno. Portanto, o salão de baile será enorme (8.360 m²) e acomodará até 650 pessoas. Em entrevista à NBC News, Trump explicou em detalhes o que tinha em mente; em termos de decoração, imaginamos muitas colunas, dourados, lustres e espelhos. Logo, no estilo dos mais belos salões de baile que adornam os palácios reais e imperiais da velha Europa. “Será lindo, de primeira linha”, prometeu Trump.

O projeto será consonante com a estética clássica que prevalece atualmente no complexo arquitetônico da Casa Branca. Não há fantasias estéticas planejadas: neste caso, a verdadeira sabedoria reside em imitar, em vez de inovar, contra todas as probabilidades.
Confiarão a construção ao escritório de arquitetura McCrery; que sediado em Washington, é um fervoroso promotor da redescoberta da arquitetura clássica. Ademais, atualmente professor associado da Universidade Católica da América, James McCrery leciona num programa que busca dialogar entre arquitetura tradicional e contemporânea. Conciliando arquitetura e beleza: um programa que certamente causará tosse n’algumas pessoas.
Ideia Antiga
A ideia de um salão de baile para a Casa Branca não é nova. Inclusive, Trump sonha com isso há anos e, em 2016, ofereceu US$ 100 milhões a Barack Obama para torná-lo realidade.
Por enquanto, é verdade que a residência presidencial dos EUA está mal equipada. Pois quando espera-se grandes multidões, erguem-se tendas, por natureza estruturas temporárias, sno gramado sul. “Quando chove ou neva, é um desastre”, diz o presidente, mas não sem razão.
Construir uma estrutura permanente também é uma questão de consistência. Afinal, se os convidados vestem-se com suas melhores roupas de domingo, usam ternos elegantes, penteados sofisticados, vestidos longos e saltos altos… Não é para andar na lama ou se abrigar sob polietileno. Portanto, por trás desse projeto arquitetônico aparentemente maluco, há uma certa dose de bom senso.
Zombaria com a Casa Branca
Mas deste lado do Atlântico, recebeu-se o anúncio com sorrisos irônicos. Para um francês ou austríaco, ouvir que a Casa Branca é um dos monumentos mais belos e históricos do mundo é risível. Que audácia, por parte deste empresário durão! Ousar imaginar em rivalizar com o Salão dos Espelhos de Versalhes, a Redoutensäle de Hofburg ou o salão de baile do Palácio de Catarina em Tsarskoye Selo?
Mas esse não é o ponto. Em vez de desencadear sarcasmo presunçoso, a abordagem de Trump deveria interessar-nos profundamente. Com seu salão de baile e seus adornos, o presidente americano revive uma concepção secular de poder: construir para durar. “Vamos deixá-lo e será um grande projeto de legado”, comemora Donald Trump. O polietileno não tem futuro e não atrairá multidões daqui a duzentos anos, isso é fato.
É uma sorte que nossos reis tivessem o mesmo reflexo que Trump hoje, ou ainda viveríamos em tendas francas ou visigóticas, apois destruído o esplendor do Império Romano. Mas a arquitetura do poder é construída para durar. Os palácios permitem que as pequenas repúblicas de hoje ainda brilhem graças aos investimentos em pedra e mármore pelos monarcas de outrora.
Construir para Durar
Levaremos essa ideia adiante, pois construir para durar é ótimo. Mas um salão de baile? Os pessimistas — à esquerda, é claro, mas também há pessoas de bem na direita zombando das iniciativas imprudentes de Trump para garantir boa reputação em jantares — dizem-nos que desperdçar-se-á dinheiro. Mais uma vez, não conseguiram entender o verdadeiro significado do poder.
O poder da França na época de Luís XIV construiu-se nas festividades de Versalhes tanto quanto, se não mais, nos campos de batalha. O Rei Sol travou tantas guerras, mas sua memória perdeu-se: quem ainda lembra-se do Marechal Villars e da vitória em Denain? Todavia, tantas vitórias artísticas ainda brilham intensamente hoje: Mansart, Le Vau, Le Nôtre, Le Brun e Lully impuseram seu estilo em todas as cortes da Europa. O próprio rei subiu primeiro ao palco para dançar e fazer a corte dançar. Logo, em seu rastro, todos os soberanos voltaram seus olhares à residência real de Versalhes, o local dos entretenimentos mais sofisticados.
Voltar os Olhos à Casa Branca?
Aarte da celebração é uma das áreas de atuação do governo, e construir um salão de baile não é um luxo desnecessário. Conquanto o baile tornou-se o lugar onde a excelência da nossa civilização ocidental expressa-se e exibimos a amabilidade dos nossos costumes. Em 1815, o Congresso de Viena dançou desenfreadamente, o que não o impediu de decidir o destino da Europa após a turbulência da revolução. Assim como de estabelecer a ordem que perdurou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Em 1919, diplomatas muito sérios e austeros reuniram-se na Conferência de Paris para tentar encontrar a paz. No entanto, não houve muita dança, e o Tratado de Versalhes que daí emergiu, terminou em catástrofe global vinte anos depois. Trump quer construir um salão de baile? Ele está absolutamente certo, e outros facertariam em seguir seu exemplo.
A cereja do bolo é que financiará o salão de baile inteiramente com recursos privados. O custo da construção, estimado em US$ 200 milhões, a fortuna do próprio Trump e doadores privados cobrirão. Mais um motivo para comemorar. Na França, substituímos Luís XIV por Emmanuel Macron, que usa descaradamente dinheiro público para construir horrores, que em breve ninguém mais desejará. Snedo assim, é facil escolher.
Publicado originalmente em European Conservative, sob o título “Trump’s Ballroom: What a Great Idea!“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.