Perseguição e Censura de Graham Linehan deveria nos Aterrorizar

Enviar cinco policiais armados para prender um comediante, Graham Linehan, por causa de três tuítes é um novo recorde, até mesmo para o Reino Unido, um país com grande poder de censura

Na época medieval, os bobos da corte normalmente recebiam uma espécie de imunidade especial. Muitas vezes, eram os únicos que podiam criticar o rei livremente, de forma mordaz e humorística. Todavia, os bobos da corte de hoje não têm essa proteção, como demonstrado pela prisão do comediante Graham Linehan, na segunda-feira. 

Abordagem Excessiva

Graham Linehan — roteirista de comédia mais conhecido por “Father Ted”, “The IT Crowd” e, recentemente, por sua postura particularmente aberta no debate transgênero — acabava de desembarcar d’um avião do Arizona. Logo, voltava ao Reino Unido quando cinco policiais armados o prenderam no Aeroporto de Heathrow. Mas ainda o jogaram numa cela e interrogaram-no, em suas palavras, “como terrorista”. Depois, libertaram-no sob fiança, com a condição de não publicar no X. Por quê? Porque Linehan cometeu o “crime” de criticar a ideologia transgênero.

O prenderam — e levaram ao hospital com pressão arterial altíssima — por causa de três tweets irrisórios. Em abril, Graham Linehan publicou uma série de tuítes no X, zombando de ativistas trans. Contudo, numa das supostas comunicações ofensivas, escreveu:

“Se um homem que identifica-se como trans está num espaço exclusivo para mulheres, comete um ato violento e abusivo. Façam uma cena, chamem a polícia e, se tudo mais falhar, dêem um soco no saco dele.”

N’outra, descreveu uma foto d’uma manifestação trans como “foto que dá para sentir o cheiro”. Mas seguiu com a seguinte postagem: “Odeie-os. Misóginos e homofóbicos. Fodam-se eles.” 

De novo o Sistema de Dois Níveis

Nem é preciso dizer que todos esses tuítes são relativamente inofensivos. Mas também não é preciso gastar muito tempo pesquisando no site para encontrar coisas muito, muito piores. Desde antissemitas raivosos desejando a morte de judeus até ativistas trans incitando mulheres que criticam gênero a matarem-se. Presumivelmente, pouquíssimos ou nenhum desses postadores recebe visita de policiais armados. Ainda assim, consideram Linehan suspeito de “incitação”, confirmado pela Polícia Metropolitana. Embora não esteja claro se enfrentará acusações por essa acusação ridícula.

O comediante já envolveu-se num processo criminal, no qual é acusado de assediar uma mulher trans no ano passado. Entretanto, por causa desse caso, Linehan retornou dos EUA ao Reino Unido, para comparecer ao tribunal. 

O chefe da Polícia Metropolitana, Mark Rowley, reclamou desde então que a polícia está numa “posição impossível” em termos de clareza da lei. Assim como os policiais não devem envolver-se em “guerras culturais tóxicas”. Por conseguinte, Rowley prometeu introduzir “um processo de triagem mais rigoroso”, a fim de evitar a prisão de pessoas como Linehan. Ou seja, que claramente não representam ameaça e provavelmente não cometeram crime real algum. Todavia, Linehan planeja processar a Polícia Metropolitana por prisão injusta. 

Graham Linehan: Prisão Desproporcional

Há muita discussão sobre a “proporcionalidade” da prisão de Linehan. É claro que todos os suspeitos de sempre saíram de suas cavernas. Logo, apressaram-se em condenar seus tuítes e gritar sobre o suposto perigo que “transfóbicos” como Linehan representam às pessoas trans. Zack Polanski — o recém-eleito líder do Partido Verde, que acredita ter a capacidade de aumentar os seios das mulheres por meio do poder da hipnoterapia — chamou as postagens de Linehan de “totalmente inaceitáveis”. Também chamou enviar cinco policiais armados para prendê-lo de “proporcional”. 

A também trabalhista Shami Chakrabarti sugeriu que precisamos d’uma “revisão abrangente” das infrações de discurso. Embora não para garantir que as pessoas não sejam enfiadas na traseira de uma viatura policial por tuítes. Em vez disso, Chakrabarti acredita que “incitar a violência, mesmo que alegue intenção cômica, falando sobre agredir grupo de pessoas de quem não gosta, vale a pena analisar agora”. 

Felizmente, outros condenaram o tratamento dado a Linehan pelo que realmente é: uma tentativa aterrorizante de silenciar dissidentes. Até o Primeiro-Ministro Keir Starmer expressou preocupação, com porta-voz oficial declarando que o deixou “claras” suas prioridades policiais. Ou seja, que as forças concentrem-se no crime no mundo real, não em gerenciar os sentimentos das pessoas nas redes sociais. O Secretário de Saúde, Wes Streeting, comentou de forma semelhante que a polícia deveria direcionar recursos para “as ruas, não para os tuítes“.

Ademais, mesmo o jornalista do Guardian e notório defensor dos direitos trans, Owen Jones, (de certa forma) manifestou-se em apoio a Linehan. No X, escreveu que, embora ache que “Graham Linehan é mais do que horrível”, “não deveríamos prender pessoas por coisas odiosas que dizem online”. Não é exatamente uma defesa entusiasmada da liberdade de expressão, mas um começo. 

Perseguição às Crenças

Podemos discutir sobre proporcionalidade ou a falta dela. No entanto, é impossível falar sobre essa terrível demonstração de totalitarismo sem reconhecer que são as crenças de Linehan realmente questionadas aqui. Sim, alguém, n’algum lugar, achou o que ele escreveu ofensivo. Contudo, não há uma vítima real neste caso. Mas uma oportunidade para o Estado exercitar seus músculos censores.

Graham Linehan escreveu no Substack que, durante seu confronto com a lei, questionaram suas opiniões sobre “pessoas trans”. Quando Linehan perguntou ao policial o que exatamente queria dizer com esse termo, ele respondeu: “Pessoas que sentem que seu gênero é diferente daquele atribuído ao nascer”.

Linehan, muito corretamente, rebateu a expressão “atribuído ao nascer”, apontando que tratava-se de linguagem ativista. O policial descartou como “semântica”, mas está claro que trata-se disso a perseguição a Linehan. Ou seja, ao fato de recusar-se a dizer as palavras mágicas “mulheres trans são mulheres“.

Graham Linehan e o Bom-Senso

Todavia, tudo torna-se ainda mais absurdo quando consideramos o fato de que Graham Linehan acredita não numa posição marginal e extremista. Mas visão defendida pela maioria das pessoas.normais. A maioria dos britânicos não quer homens em banheiros, prisões ou enfermarias de hospitais femininos. Aliás, é uma crença, teoricamente, respaldada por lei.

Esquecemos que, em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu que gênero defini-se pela biologia, para os fins da Lei da Igualdade (2010)? E que visões críticas de gênero deveriam — novamente, teoricamente — ser crença protegida por essa mesma lei? Não importa as muitas, muitas falhas da Suprema Corte e da Lei da Igualdade, esta ainda é a lei. Então, por que parece ser aplicada de forma tão seletiva? 

Assim sendo, deve-se em parte, ao fato de Graham Linehan ter tornado-se um alvo fácil. Pois manifesta-se abertamente em defesa dos direitos das mulheres e contra a crescente influência da ideologia trans. Mas custou-lhe muito — sua carreira, seus amigos e até seu casamento.

Entretanto, o status de celebridade também torna-o um aviso útil. Afinal, se podem prender Linehan por expressar essas opiniões, podem prender qualquer outra pessoa. Atualmente, os britânicos acostumaram-se a ver pessoas algemadas por terem opiniões “erradas” . 

O Absurdo

O próprio Linehan resume o absurdo dessa situação em seu Substack: 

Num país onde os pedófilos escapam à pena, onde os crimes com armas brancas saíram do controlo. Onde agridem e assediam mulheres sempre que reúnem-se para falar. O Estado mobilizou cinco agentes armados para prender um escritor de comédia por um tweet.

Pois nisso que o Reino Unido tornou-se. Uma nação que originou a liberdade de expressão e o liberalismo. Mas transformou-se num Estado que trata pessoas como terroristas por recusarem-se a professar a crença de que homens podem tornar-se mulheres. A perseguição a Graham Linehan deveria alarmar até mesmo seus críticos mais ferozes. Conquanto quando tratam ser ofensivo como criminoso, nenhum de nós está seguro. 

Publicado originalmente em The European Conservative, sob o título “”The Persecution of Graham Linehan Should Terrify Us“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.



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