Papa Leão XIV e a Missão em França

Desde sua eleição, o Papa Leão XIV reservou um lugar especial para a França

Desde a sua eleição, o Papa Leão XIV, nascido Robert Prévost, de ascendência franco-canadense, demonstrou especial afeição pelos católicos franceses e pela filha mais velha da Igreja. Sendo assim, uma atitude que contrasta com a de seu antecessor, que descartou a reabertura de Notre-Dame. Mas também considerou que, ao ir a Marselha, não viria à França. Em contraste, o Papa Leão XIV transmite uma mensagem da maior importância. Que a terra da França, rica em santos do mais alto calibre, ainda tem uma mensagem específica a transmitir ao mundo.

Simbolismo do Papa Leão XIV

Pouco depois de sua eleição, o Papa Leão XIV revelou seu brasão papal. Na magnífica linguagem da heráldica, descrito da seguinte forma: “Por curva sinistra azul e argêntea, na primeira, uma flor-de-lis argêntea, na segunda, um coração inflamado trespassado por uma flecha curva sinistra, toda gules, sobre um livro propriamente dito.” Para os mortais comuns, a flor-de-lis à esquerda é um símbolo mariano, enquanto à direita, o coração trespassado em um livro se refere à ordem agostiniana. Portanto, de qual o pontífice vem, sendo que tomou este emblema em memória da conversão de Santo Agostinho. Ademais, explicou com as seguintes palavras “Vulnerasti cor meum verbo tuo“; “Tu trespassaste meu coração com a tua Palavra.” 

Mas para os franceses, este brasão assume um significado especial. A flor-de-lis, naturalmente, é o emblema da monarquia. Mas também de Québec, uma província outrora a terra mais católica da Nova França. Quanto ao coração trespassado, evoca inevitavelmente o Sagrado Coração de Jesus, tal como apareceu no século XVII a Santa Margarida Maria Alacoque. Uma freira da Visitação da Borgonha, com a missão de instar Luís XIV a adicioná-lo ao brasão do Reino da França — sem sucesso.

Iniciativas do Papa Leão XIV em França

Não se trata de uma extrapolação vã e gratuita de nossa parte, destinada a bajular o orgulho — incomensurável, como todos sabem — do espírito gaulês. É um fato: o Papa Leão XIV claramente tem uma relação especial com a França. Conquanto ele fez questão de mencionar em dois dos primeiros atos de seu pontificado.

Em 24 de maio, nomeou dois cardeais, o Cardeal Sarah e o Cardeal Bustillo, como enviados especiais do Vaticano à França. O Cardeal Sarah  é responsável por presidir as celebrações litúrgicas que realizarão no grande santuário bretão de Sainte-Anne-d’Auray. Por ocasião do 400º aniversário das aparições de Santa Ana ao camponês bretão Yvon Nicolazic. Conquanto o Cardeal Bustillo representará o Papa no 350º aniversário da aparição do Sagrado Coração a Santa Margarida Maria em Paray-le-Monial.

A escolha dessas duas figuras — cardeais bem conhecidos do público e dotados de grande carisma — atesta a importância que o Papa atribui a essas celebrações públicas.

Inspiração Santa

Todavia, além desses dois eventos, em 28 de maio, o Papa publicou uma carta dirigida aos católicos da França. Num texto de grande profundidade histórica e espiritual, os convidou a redescobrir o sentido de sua missão. Para tanto, recordou a memória de três grandes santos:

  • São João Eudes (1601-1680), que trabalhou para difundir a devoção ao Sagrado Coração;
  • São João Maria Vianney (1786-1859), que dedicou-se ao reavivamento da fé após o tumulto da Revolução; e
  • Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face (1873-1897), que celebramos o centenário de canonização neste ano. 

Missão em França

O Papa Leão XIV conhece sua história: a França é talvez um dos países que, juntamente com a Espanha, forneceu o maior número de missionários à Igreja Católica em todo o mundo. Hoje, convida o país a seguir os passos desses três missionários de um tipo especial, que não precisaram cruzar oceanos para conquistar corações. Pois Santa Teresa de Lisieux, padroeira secundária da França, também é a padroeira das missões da Igreja universal. Porém, sem nunca ter saído de seu pequeno convento do Carmelo em Lisieux.

Hoje, missão tornou-se um palavrão. Pois não devemos mais converter, mas oferecer a fé à distância, sem insistir. Contudo, o novo pontífice parece discordar. Ademais, não será a missão a mais bela resposta à crise de identidade das sociedades ocidentais, que não sabem fazer-se amar pelos que acolhem indiscriminadamente?

O Papa Leão XIV sabe bem por que se dirige à Igreja da França. A França, terra de missionários, tornou-se uma terra de missão, e seus filhos são os primeiros à (re)conversão. Entretanto, há muito a fazer no país de Joana d’Arc e da Declaração dos Direitos Humanos, de Santa Teresa de Lisieux e da Revolução Francesa. 

As Palavras do Papa Leão XIV

Leão XIV usa palavras que se pensava banidas desde o Papa Francisco I: cultura, comunidade, herança. Assim, lembra-nos que o universalismo da fé não é uma negação de identidade. A França tem, inscrito em seu DNA, os ingredientes de um verdadeiro despertar espiritual:

Tais palavras lembram o vibrante apelo feito por João Paulo II ao povo francês durante sua primeira visita à França em 1980 , dois anos após sua eleição. Com seu inimitável sotaque polonês, ele repreendeu a multidão de fiéis reunida diante dele, chamando-os com firmeza e ternura a despertar:

Uma Terra Santa

No domingo, 27 de julho, durante as celebrações do jubileu de Santa Ana de Auray, o Cardeal Robert Sarah transmitiu tal apelo aos fiéis que se reuniram em massa neste importante local de fé popular bretã. Aliás, trinta mil fiéis reuniram-se para reviver a tradição secular conhecida como “Grande Perdão”.

Mesmo que, “aparentemente, Deus não esteja mais lá. E para a Europa, Deus está morto”. Mas o enviado do Papa Leão XIV apelou à França e, através dela, à Europa, para um despertar espiritual. Pois nesta época elevaram o aborto e a eutanásia a uma causa nacional:

Denunciou a obsessão humanitária com a qual a Europa tenta comprar uma consciência tranquila acolhendo os migrantes de braços abertos. Mas também lembrou que a resposta social não é a chave à felicidade humana: 

Religião não é uma questão de comida ou ação humanitária. No deserto, esta foi a primeira tentação que Jesus rejeitou: para redimir a humanidade, precisamos superar a miséria da fome e toda a miséria da pobreza, que é o que o diabo oferece ao Senhor. Mas Jesus respondeu: este não é o caminho para a redenção. Devemos compreender que, mesmo que todos os homens tivessem o suficiente para comer e a prosperidade se estendesse a todos, a humanidade não seria redimida.

O Chamado do Papa Leão XIV

Para o Cardeal Sarah, que proferiu seu sermão com rara intensidade, não significa ceder ao desespero. Pois a adoração a Deus continua como a resposta mais poderosa aos ataques do mal. Portanto, imenso legado espiritual da França ainda transmite sua mensagem de esperança ao mundo.

Em junho, em Chartres e em Paray-le-Monial, e em julho, em Sainte-Anne-d’Auray, dezenas de milhares de fiéis provaram ao mundo que ouviram a mensagem de João Paulo II. Mas também que não deixariam o chamado de Leão XIV sem resposta.

Artigo publicado originalmente no European Conservative, sob o título “Pope Leo and the French Mission“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.



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