Grande Imprensa e setores da esquerda comemoram derrota apertada de Milei como uma ‘vitória avassaladora’, colaborando com desinformação sobre a legislativas da Província de Buenos Aires
A vitória do partido Fuerza Patria nas eleições legislativas da Província de Buenos Aires não alcançou um resultando estrondoso e butal, como comemora a esquerda brasileira. Ademais, comemoração que encontra eco em redações como da CNN, colaborando para confusões e desinformação. A começar por falharem em esclarecer que a Província de Buenos Aires é um estado, enquanto a cidade de Buenos Aires é a Capital Federal. Ou seja, têm eleições separadas, sendo que na capital, Milei venceu as legislativas de maio. Mas vamos aos números e aos fatos atuais.
Por que Milei reconheceu a derrota?
Ora, se o partido ficou em segundo, com o Fuerza Patria, de Cristina Kirchner, em primeiro, como Milei reconheceria algo diferente? Perdeu nas legislativas da Província de Buenos Aires, logo, só podia reconhecer isso. Afinal, qual indivíduo honesto e com a saúde mental em dia diria que venceu quando o placar mostra claramente que perdeu? Mesmo uma derrota por 1×0, ou nos pênaltis, é uma derrota. Milei só reconheceu um fato, como deveria, não sendo motivo para concluir sobre proporções.
Mas também precisou reconhecer a necessidade de ajustar sua estratégia para as eleições nacionais em outubro deste ano. Pois acreditava que venceria e por boa margem nestas de setembro. Obviamente, não aconteceu como acreditava, apesar de não surpreender, dado o histórico de vitórias peronistas na província. E há mais para os peronistas e a esquerda argentina – e a brasileira – ligarem o alerta máximo, do que comemorarem, principalmente com tanto entusiasmo.
Números Demonstram Cenário Diferente
Diz-se que o partido peronista obteve vitória avassaladora em seis dos oito distritos eleitorais. Contudo, isso é realidade apenas na Terceira Seção Eleitoral (53,97% contra só 28,43% do La Libertad Avanza). Nas demais, a maior diferença não ancançou 11%, enquanto no resultado geral, o peronitas impuseram diferença de 13,1% (avassaladora?). Também precisamos informar que renovaram-se 46 das 92 cadeiras na Câmara dos Deputados e 23 das 46 no Senado Provincial. Ou seja, não houve disputa por todas as cadeiras existentes; e por que isso importa?
Das 46 cadeiras em disputa na Câmara dos Deputados da Província de Buenos Aires, o Fuerza Patria conquistou 21, enquanto o LLA (coligação liderada pelo Partido Libertário, de Milei) alcançou 18. Sim, diferença de apenas 3 cadeiras… Vitória avassaladora? Essa narrativa concentra-se em percentuais (como demonstrado, nãp absurdos) e número de seções. No caso da Câmara, os peronistas venceram em 3 das 4 seções. Mas a realidade geral parece ignorada.
Além disso, as composições das Casas Legisltivas sofreram alterações, mas o cenário não é ‘avassalador’, sequer muito animador, para os peronistas. Que precisam urgentemente ligar o alerta nessa situação.
Composição da Câmara e do Senado
Na composição da Câmara, o LLA subiu de 24 para 31 cadeiras, consolidando-se como a segunda força. Enquanto o Fuerza Patria aumentou apenas de 38 para 39, mantendo-se como a primeira. Portanto, a coligação dos libertários aumento em 7 cadeiras, frente a somente 1 dos peronistas. O centro (Somos/UCR) pedeu 4 cadeiras, e ao partido da esquerda socialista manteve 2.



Por fim, das 23 cadeiras disputadas ao Senado, o Fuerza Patria levou 13 e o LLA 8, com crescimento de 3 assentos para cada na casa. Os peronistas foram de 21 a 24 e os Libertários de 12 a 15, mantendo o mesmo equilíbrio de forças. Por mais que 13 a 8 seja uma diferença já razoável, de fato, ocorreu uma ‘vitória avasaladora’? A ‘grande vitória’ dos peronistas no Senado: alcançar maioria (por cadeira), tendo 24 de 46 assentos. O centro perdeu 9 cadeiras e a esquerda socialista ficou no zero.



Após décadas de ‘domínio’ peronista, com aparelhamento do estado, bases e frentes diversas, o resultado da composição do Legislativo numa província com histórico de boas vitórias peronistas, podemos chamar de ‘avassalador’? Ganhar uma cadeira na Câmara dos Deputados, enquanto os libertários conquistam sete, e empatar em três a três no Senado… Porém, com histórico de ser a força dominante. Parece algo a comemorar entusiasticamente?
Declarações de Javier Milei
Milei admitiu a derrota nas eleições provinciais: “Os resultados não foram positivos, tivemos um revés eleitoral e temos que aceitar isso”, declarou. “Não recuaremos um mílimetro nas políticas do governo. Mas aceleraremos e aprofundaremos mais”. O canal France 24 aponta que apesar da vitória que o alçou à presidência com o que chamam de ‘programa ultraliberal’, recentemente membros de seu governos viram-se envoltos em acusações por corrupção.
Todavia, as acusações levantadas são por ‘possível caso de corrupção’, não confirmado, como informou até a progressista CNN. O governo denunciou suposta operação de ilegal de ‘inteligência’ para gravar conversas privadas de funcionários, inclusive da irmão do presidente, Karina Milei, secretária-geral da presidência. Ademais, acusam as gravações de manipuladas, ou seja, alteradas para que deem a entender algo diferente do que factualmente significariam.
Foram gravadas conversas privadas de Karina Milei e outros funcionários, que foram manipuladas e divulgadas para pressionar o Poder Executivo, declarou o porta-voz presidencial, Manuel Adorni.
A CNN confirma que as acusações criminais contra Karina e aliados ocorreram após matéria jornalística divulgando áudios que supostamente pertenceriam à irmã do presidente e outros funcionários. Áudios que constam no processo, mas não houve permissão para auditoria independente da CNN. O governo de Javier Milei não confirma, nem nega, os casos de corrupção, mas acusa o ‘escândalo’ tão próximo às eleições de “operação política”.
Porém, o jornal progressista também admite que não há “nformações particularmente delicadas”. Mas “deles se conclui algo alarmante: a gravação de reuniões do círculo mais poderoso do Executivo dentro da casa de governo”. Que tão próximas das legislativas, provavelmente afetaram o desempenho do LLA, assim como talvez influenciaram a participação pífia dos eleitores. Conforme o canal Ancapsu, metade dos eleitores não compareceram às urnas.






Excelente análise! Achei muito interessante como o texto desmistifica a narrativa de vitória avassaladora peronista, destacando a realidade da Câmara e do Senado. A forma como contextualiza o crescimento do LLA e a dinâmica eleitoral é muito clara. A inclusão das declarações de Milei e as acusações de corrupção adicionam ainda mais camadas para entender o cenário. Ótimo trabalho!
Muito obrigado pela sua crítica. É muito importante para ajustarmos o trabalho de forma profissional e ética. Sempre à disposição. Roberto.