Em sua primeira entrevista desde sua libertação, Lucy Connolly insiste que a puniram por suas opiniões, não por suas palavras, e pede uma reforma do sistema de justiça britânico
Uma mãe britânica ficou 9 meses presa, por causa d’um tuíte sobre os assassinatos de crianças em Southport, acusou o primeiro-ministro Keir Starmer de torná-la “prisioneira política”. Lucy Connolly, babá de Northampton e mãe de dois filhos, disse que achou “bizarro” a prenderem por quase um ano, pelo que admitiu não ser seu “melhor momento”.
Prisioneira Política
Em sua primeira entrevista desde a libertação, a mulher de 42 anos disse ao The Telegraph estar “chateada e furiosa além da conta” quando escreveu a publicação pedindo “deportação em massa” e a queima de hotéis que abrigavam migrantes. “Claro, não era meu melhor momento e definitivamente não defendo a violência ou a queima de qualquer coisa”, disse. Connolly apagou o tuíte em poucas horas. Mas até então o visualizaram mais de 300.000 vezes.
Todavia, Connolly insiste que lhe negaram um julgamento justo devido à pressão política. Pois dias antes de sua prisão, Starmer condenou a “violência da extrema direita”” e”. Mas também prometeu que aqueles que “promovem” a desordem online “enfrentarão toda a força da lei”. Questionada se considerava-se prisioneira do primeiro-ministro, respondeu: “Com certeza. Eu e várias outras pessoas.”
E acrescentou:
Acho que Starmer precisa praticar o que prega. Ele é advogado de direitos humanos, então talvez precise analisar o que são os direitos humanos das pessoas, o que significa liberdade de expressão e quais são as leis neste país.
Seu julgamento e sentença foram alvo de críticas generalizadas. Apoiadores, incluindo a Free Speech Union, argumentaram que suas interpretaram mal e grosseiramente suas palavras. Pois não representavam qualquer perspectiva realista de incitação à violência. “Condenar alguém a mais de dois anos e meio de prisão por uma intenção maligna é manifestamente injusto”, disse Toby Young, fundador da FSU.
Sistema de Justiça de Dois Níveis
O caso tornou-se emblemático do que muitos veem como um sistema de justiça de dois níveis. Os apoiadores de Connolly apontam para a absolvição contrastante do vereador trabalhista Ricky Jones, que disse a multidão durante os distúrbios de Southport: “Precisamos cortar a garganta de todos e nos livrar deles”. (Nota do Editor: Jones referia-se aos conservadores, que pressionavam por medidas contra a crise migratória e de violência). A própria Connolly comentou:
Não defendo que devamos prender alguém por dizer algo… Pois isso realmente o torna um criminoso? Deveríamos prender pessoas como ele e eu? De jeito nenhum.
Por conseguinte, seu relato da vida na prisão revela-a como alvo de tratamento severo. “Eles esperam ter me quebrado enquanto estava lá. Mas estou aqui para dizer que não”, disse ela. Conquanto agora espera fazer campanha pela reforma penal, argumentando que a maioria das detentas não representava nenhuma ameaça à população.
Não quero ver mulheres afastadas dos filhos dessa forma… Que desperdício de tempo e dinheiro de todos.
Connolly, que perdeu seu primeiro filho, Harry, em 2011, por falhas no NHS (Serviço Nacional de Saúde), disse que essa dor intensificou sua reação visceral aos assassinatos de Southport. “Como três crianças foram para uma aula de dança e seus pais nunca mais conseguiram buscá-las? Eu sei como é isso, porque perdi um filho.”
Defesa de Lucy Connolly contra Acusações de Racismo
Apesar de rotulada de racista, Connolly afirma não ter problemas com imigrantes Ademais, enfatizou: “Uma criança é uma criança. Não importa a cor. É nosso dever como país proteger nossas crianças.” Também acusa a polícia de desonestidade por deturpar sua posição e agora considera tomar medidas legais.
Sua libertação impulsionou um movimento crescente preocupado com as restrições à liberdade de expressão no Reino Unido. Sendo assim, o líder do partido reformista britânico, Nigel Farage, a saudou como “um símbolo do Reino Unido autoritário, fragmentado e dividido de Keir Starmer”.
No entanto, para Lucy Connolly, a prioridade é reconstruir a vida familiar com a filha. “Continuarei lutando”, prometeu, “para, quem sabe, fazer as pessoas ouvirem… e ajudar a reformar o sistema — por alguém que já passou por isso e viveu. E sobreviveu para contar a história.”
Publicado originalmente por Nick Hallet no European Conservative, sob o título “British Mother Jailed for Tweet: ‘I Was Starmer’s Political Prisoner’“. Traduzido por Samara Barricelli.