FRANÇA | Macron se prepara para um Setembro em Chamas

Medidas de austeridade, aumento da criminalidade e raiva da elite política podem transformar 10 de setembro na próxima crise de Macron

O retorno à temporada política pode transformar-se num verdadeiro barril de pólvora na França de Macron. Desde meados de julho, o slogan Bloquons tout! (“Bloqueiem tudo!”) espalhou-se como fogo nas redes sociais, convocando lockdown total do país em 10 de setembro. A faísca: os cortes drásticos anunciados pelo primeiro-ministro François Bayrou, que incluem um ajuste de € 43,8 bilhões, o congelamento dos gastos sociais, a eliminação de dois feriados e outras medidas de austeridade que acenderam o pavio do descontentamento público, abastecido há anos.

Não se trata apenas de números orçamentários. Muitos cidadãos franceses veem esses cortes como a confirmação de que estão sendo solicitados a fazer mais sacrifícios. Ao mesmo tempo, o Estado gastou somas enormes em políticas de imigração em massa e subsídios que raramente beneficiam a população nativa. Para amplos setores da sociedade, especialmente nas áreas mais afetadas pela criminalidade e pela agitação, a islamização do país não saiu barata: foi financiada por seus impostos, levando à deterioração de bairros inteiros e aumentando a sensação de abandono.

A situação lembra a de 2018, quando os “gilets jaunes” (coletes amarelos) paralisaram o país em protesto contra o aumento dos preços dos combustíveis. Pois, o coquetel é semelhante, mas ainda mais explosivo: crise econômica, perda de poder de compra, aumento da criminalidade, imigração descontrolada e uma classe política percebida como distante e arrogante. Todavia, o 10 de setembro pretende ir além da greve geral: boicotes de consumidores, retirada de fundos de bancos “cúmplices” e ocupação de prédios públicos.

Clima político não ajuda

Após as eleições antecipadas de 2024, Emmanuel Macron perdeu a maioria, e sua coalizão sobreviveu apenas graças a acordos ad hoc. Sendo assim, Bayrou, um dos políticos menos populares da Quinta República, sobreviveu ao seu oitavo voto de desconfiança em julho. Mas graças à abstenção do Rassemblement National (RN), de Marine Le Pen, alertando não apoiar o governo se continuarem “atacando os trabalhadores e aposentados franceses”.

Nesse contexto, Le Pen e o RN poderiam emergir fortalecidos, apresentando-se como a única alternativa real ao Executivo enfraquecido e esquerda dividida. Ademais, a agenda de Macron, já impopular, agora enfrenta o poder das ruas — um “terceiro poder” na França capaz de derrubar governos.

As centrais sindicais convocaram protestos de 1º de setembro até o final de novembro, denunciando medidas que descrevem como “brutais e injustas”. Contudo, a questão é se os chamados Bloquons tout! unirão os descontentes de todo o espectro político num movimento tão amplo quanto incontrolável.

Outono Francês

Se o protesto de 10 de setembro concretizar-se, o outono francês anunciará um novo terremoto político e, novamente, os tremores virão não só da economia. Mas também da profunda sensação de que quebraram o contrato social e Paris ouve mais Bruxelas e os lobbies migratórios do que seus próprios cidadãos.

Entretanto, a situação não difere muito nos países vizinhos, políticos alemães e espanhóis já “flertaram” com a mesma ideia. Portanto, efeito francês pode muito bem espalhar-se para além das suas fronteiras.

Publicado originalmente em European Conservative, sob o título “‘Block Everything’: France Braces for a September in Flames”. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli. Título adaptado.



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