Quem ganhou uma eleição primeiro precisou governar de alguma forma, seja pela sombra, ou pela presença
A famosa frase “nada está na realidade política d’um país se não estiver primeiro na sua literatura”, é de Hugo von Hofmannsthal. Porém, mui popularizada no Brasil, continua uma das coisas menos compreendidas e mais citadas por pseudo intelectuais da internet, que acham-se capazes de orientar como se ganha eleições e governar.
Todavia, muitos entendem que a literatura se refere tão somente aos livros escritos. Sejam eles ficção, fantasia e ou romances de época (e, considere-se também a época em que se vive). Porém, ignora-se que “literatura” também pode (e, sob certo aspecto, deve) englobar jornalismo, jogos (ou entretenimento em geral) e até piadas.
Algo muito bem retratado na quinta temporada de The Expanse.
E não é sem motivo que a geração que, hoje, tem seus trinta anos, é profundamente niilista e influenciada por Warhammer. Mas isso é pauta para outra hora.
Governar pela sombra
A expressão é menos maquiavélica do que parece e faz menção à capacidade que algumas lideranças possuem de governar pela pura presença. Ou seja, a sombra que projetam é tal sinal de sua presença que intimida os maus.
Ao mesmo tempo, só o pensamento nessas pessoas inspira. Por isso, é possível falar em literatura inspiracional e catártica e heróis dos dois tipos. E o Superman e o Batman são um bom dueto para explicar os dois tipos de personagens. Mesmo que alguns entendam melhor se trocar o segundo pelo Justiceiro.
Contudo, o mais importante é que esse tipo de governo através do exemplo faz parte da teoria clássica política de Aristóteles. Sendo a base do direito dos reis durante a Idade Média.
Inclusive, pela perda dessa relação de origem do direito dos reis e a ascensão dos regimes absolutistas (condenados pela Igreja Católica) que os reis perderam o trono. Claro que há outras razões! Mas os próprios reis contribuíram para a própria queda, e isso é bem documentado.
Adaptando para a modernidade
Uma das formas mais eficientes de se proteger d’um assalto e d’um assassinato é estar ao ar livre onde todos possam te ver (e ver o assaltante). Claro que excesso de pessoas causa o efeito contrário e uma planície rodeada de torres ajuda os inimigos. A menos que todas as torres sejam guarnecidas.
Porém, isso tem uma aplicação metafórica quase sempre ignorada: estar sempre nas notícias, ainda que negativamente, significa forma de governar pela própria sombra. Afinal, ser o mau exemplo ainda significa que todos vão governar sendo o seu oposto.
E isso é importante para entender porque tanto se fala de Bolsonaro. Por um lado, a esquerda quer que ele seja o “mau exemplo” para ser seguido em termos opostos. A direita quer colocá-lo como modelo. O problema é que, quanto mais a esquerda ataca Bolsonaro, mais forte ele fica para a direita. É um processo similar às críticas da direita ao Lula.
E isso não quer dizer que ignorar seja uma forma melhor de combate.
Bolsonaro superou o Lulismo
Sendo assim, a ascensão de Bolsonaro a líder da direita não é um fenômeno que simplesmente possa ser parado. Mesmo morto, continuará servindo de inspiração e, para o terror da esquerda, o efeito provavelmente será ter que lidar com vários tipos dele ao invés de um.
E não é o que acontece com o lulismo.
Isto é, sob certo aspecto, a direita, hoje, já governa mais que a esquerda. Só falta ganhar a eleição. Depois disso, ainda haverá a batalha contra parte do estamento burocrático, algo que Trump está empreendendo. Porém, a analogia está aí e os fatos se desenrolando.