A França à beira do caos, mas a ministra da educação não tem nada melhor a fazer do que tentar reescrever a dedicatória do Panteão
Em poucos dias, a França arisca ficar sem governo. Pois um vento de revolta sopra pelas ruas, com mercados financeiros turbulentos, devido à crescente dívida pública que nada parece capaz de conter. Mas a questão urgente reside em outro lugar: o Panteão.
Prioridades da Ministra da Educação
Élisabeth Borne, ex-primeira-ministra, reciclada como Ministra da Educação Nacional, mantém senso de prioridades reais. Afinal, e se todos os nossos males atuais derivarem da dedicatória mal-definida que adorna o Panteão? O monumento erguido no coração de Paris, que homenageia os heróis da nação?
Factualmente, no Quartier Latin, no coração do 5º arrondissement, em Paris, ergue-se um imponente edifício neoclássico com colunas: o Panteão. Originalmente projetado pelo arquiteto Jacques-Germain Soufflot como igreja dedicada à padroeira de Paris, Santa Genoveva. Porém, desconsagrado desde a Revolução, abrigou as figuras mais proeminentes da França — sendo mais precisa, da França pós-1789 — por pouco mais de dois séculos. No frontão em estilo grego, lê-se a seguinte dedicatória: “Aos grandes homens, a pátria grata”. Admita que, em 2025, tal declaração parecerá de fato escandalosa.
Nos corredores de mármore gelado deste templo republicano, glórias literárias, generais famosos, cientistas e combatentes da resistência. Por conseguinte, os quais receberam seu diploma de respeitabilidade republicana, e convivem numa eternidade materialista e jacobina.
‘Desgenerificar’ o Panteão
Menos de uma semana antes do retorno dos alunos franceses às suas carteiras. Borne explicou, em sua coletiva de imprensa inaugural de lançamento do novo ano letivo, querer “abrir o debate” sobre “desgenerificar” a dedicação do Panteão, em prol da inclusão.
A ministra lamenta a sub-representação feminina no Panteão. De fato, sob a imponente cúpula, há 76 homens e 7 mulheres — alguns dos quais não tiveram outro mérito além de serem “esposas de”. Logo, dificilmente representa um equilíbrio de gênero. Mas a ambição de Borne é mais ampla: ao mudar o gênero da consagração do Panteão, o futuro destino de milhões de mulheres francesas transformar-se-is.
“Podemos abrir todas as portas dos campos científicos às jovens. Mas se quando olharem para cima não virem a sociedade reconhecendo plenamente seu lugar na história. Então, enviamos mensagem contraditória”, argumentou a ministra.
Pense nisso. Há pouco mais de dois séculos, mulheres sofreram bullying em toda a França em seus empreendimentos e aspirações. Mas tudo por causa d’uma frase gravada às pressas em mármore por defensor do patriarcado. Portanto, adicionar um pouco de escrita inclusiva a tudo isso, certamente mudará muitas vidas.
A propósito, a referência protofascista à “Pátria” será certamente removida e substituída por “República”, que é muito menos questionável.
Devolvam à Santa Genoveva
“Abrir o debate”, uma frase bem conhecida, significando que tomaram alguma decisão distorcida num obscuro gabinete ministerial. Mas também que fingiremos discuti-la na esfera pública antes de impô-la com a consciência tranquila.
Se quisesse ser um pouco contrarrevolucionária e travessa, eu concordaria com a Sra. Borne. Todavia, a lembraria de que esse lema infeliz não surpreende, vindo d’uns sans-culottes grosseiros conhecidos por serem tão machistas uns quanto os outros. Como a encantadora Élisabeth Vigée-Lebrun, confidente e retratista da Rainha Maria Antonieta, gostava de lembrar. Relembrando os bons e velhos tempos da monarquia. “As mulheres governavam então, a Revolução as destronou”.
Portanto, sugerimos, com todo o respeito, à Sra. Borne: economize seu precioso tempo. Pois seria melhor usado para reformar o ministério mais disfuncional da França, o seu. Ademais, defenda a causa das mulheres no Panteão por um meio muito simples: devolvendo-o à sua finalidade original. Ou seja, igreja dedicada a Santa Genoveva, jovem que desafiou Átila e organizou defesa de Paris contra o terrível invasor das estepes (século V).
Sendo assim, homenagem à juventude, à coragem e a uma figura feminina. Mas que, em seu ‘século obscurantista’, não teve medo de desafiar estereótipos. O que mais poder-se-ia pedir?
Publicado originalmente em Theo European Conservative, sob o título “