O Reino Unido planeja implantar a identificação digital (ID) – BritCard – obrigatória para qualquer um que queira trabalhar na região, mas sob dois argumentos fraudulentos
Finalmente aconteceu. O governo britânico anunciou planos para introduzir a identificação digital (ID) obrigatória. Portanto, o novo “BritCard” será obrigatório para qualquer pessoa que trabalhe no Reino Unido. Sendo assim, o Primeiro Ministro Sir Keir Starmer afirmou:
Sei que os trabalhadores preocupam-se com o nível de migração ilegal… A identidade digital é uma oportunidade enorme para o Reino Unido. Pois tornará mais difícil trabalhar ilegalmente neste país, fazendo nossas fronteiras mais seguras. Mas também oferecerá aos cidadãos comuns inúmeros benefícios, como poder comprovar sua identidade para acessar serviços essenciais rapidamente. Em vez de procurar uma conta de luz antiga.
Migração Ilegal
O Governo vende a ideia com base em dois argumentos principais. Primeiro, que reduzirá a migração ilegal, dificultando o trabalho dos migrantes ilegais. Portanto, reduzindo o “fator de atração”. Segundo, que tornará a vida mais conveniente para aqueles que precisam de provar o seu direito ao trabalho.
O problema com as pessoas que migram ilegalmente é que elas a lei não as dissuade. Os empregadores já têm a obrigação de verificar se seus funcionários têm o direito de trabalhar no Reino Unido. Ademais, há multas caso não o façam. Porém, os migrantes ilegais não candidatam-se a empregos da maneira “normal”. Frequentemente, trabalham na economia informal, onde já subvertem as atuais verificações do direito ao trabalho. Conquanto alguns empregadores ignoram a lei e pagam esses funcionários em dinheiro.
Se alguns empregadores já não verificam a situação legal de seus funcionários, por que verificariam sua identidade digital? Logo, a resposta é “não”. Quem infringe a lei continuará a infringi-la. O “BritCard” não impactará significativamente na imigração ilegal, se é que impactará.
Conveniência para quem?
E quanto à conveniência? Bem, as identidades digitais podem facilitar a verificação. Mas se é uma questão de conveniência, por que será obrigatória? Já temos os passaportes, carteiras de habilitação e outras formas de identificação.
Fundamentalmente, se o objetivo é tornar a vida mais conveniente, então não deveriam obrigar as pessoas que opõem-se a tê-los. Há uma infinidade de razões pelas quais alguém pode opor-se razoavelmente à Identificação Digital. Pois as identidades digitais não são simplesmente uma versão online dos sistemas de identidade existentes.
Muitas funcionalidades da vida moderna envolvem verificação online. Seja para compras online ou reserva de passagens de trem, telas de login e solicitações para fornecer informações pessoais são comuns. Mas, embora a identificação digital seja uma parte comum da vida cotidiana, os sistemas centralizados obrigatórios de identificação digital não o são.
BritCard e os Sistemas de Identificação Digital
Fundamentalmente, os sistemas de identificação digital vinculam-se a bancos de dados centralizados do governo. Por conseguinte, criam um identificador único para cada usuário, vinculando dados pessoais entre os departamentos governamentais.
Cada vez que uma pessoa usa seu documento de identidade digital, cria um mapa registrado de seus movimentos, atualizado em tempo real. Seja para candidatar-se a um emprego, alugar uma casa ou ir a um bar. Ou seja, este sistema rastreará seus movimentos.
Quem, o quê, onde, quando? Todas essas informações, armazenadas em um banco de dados central do governo, são agregadas, categorizadas e pesquisáveis. Isso representaria uma quantidade sem precedentes de informações pessoais coletadas sobre cada pessoa no país. Informação que, no futuro,podem usar contra você.
A questão então é: você confia esses dados ao governo? Mesmo que o Governo não tenha objetivos maliciosos, você confia que ele manterá seus dados seguros?
Vazamento de Informações
Há alguns meses, o governo envolveu-se num grande escândalo, quando vazou acidentalmente informações pessoais de quase 19.000 pessoas, Contudo, que ajudavam o governo do Reino Unido no Afeganistão. Isot é, tratava-se de pessoas que fugiam do Talibã, e o vazamento colocou suas vidas em risco.
Se não podemos confiar ao Ministério da Defesa dados sensíveis, como alguém confiaremos ao Governo a proteção de informações pessoais detalhadas da população do Reino Unido? Mesmo sem incompetência ou má intenção, os dados tornam-se um chamariz para hackers e adversários estrangeiros.
Esta ameaça não é especulativa. O NHS sofreu uma violação de dados, permitindo que hackers acessassem milhares de dados de pacientes. Incluindo como acessar algumas de suas casas (para aqueles que recebem cuidados domiciliares).
Quase 3 milhões de pessoas assinaram uma petição contra a introdução da Identificação Digital. Mas a resposta do Governo ignorou tais preocupações e começou com: “Introduziremos uma Identificação Digital neste Parlamento…”.
Talvez devessemo levar Orwell mais a sério.
Publicado originalmente na FEE, intitulado “Checkpoint Britain“. Traduzido por João Pedro Moscatti.