Se faz necessário conhecer as origens das ideias, ainda mais quando geram Revoluções, como a Revolução Científica pelo Darwinismo

O desenvolvimento da biologia não se deu por saltos, de modo que o surgimento do Darwinismo não é algo que se dá num vazio teórico e social. Há outros autores que, de alguma forma, contribuíram para construir o pensamento dele. Porém, mais importante, mesmo o evolucionismo não-Darwinista é exatamente original em suas teorias e a mitologia comparada e a filologia possuem teses que são análogas, se não idênticas a afirmações evolucionistas.

E, reforce-se, até o Darwinismo, essas ciências (mitologia comparada e a filologia) tinham predominância na pesquisa pelo passado da humanidade. Com a obra de Darwin, há uma virada para o campo da biologia quando se trata de procurar os antepassados humanos.

Porém, mesmo a origem humana na África não é uma ideia exatamente inovadora quando se conhece o que autores renascentistas pensavam de Hermes Trismegistus.

Darwinismo comparado com outros evolucionismos

Ernst Mayr, em O Desenvolvimento do Pensamento Biológico: Diversidade, Evolução e Herança, argumenta que o Darwinismo, na verdade, é a junção de cinco outras teorias. E organiza a seguinte tabela para resumir a explicação.

No campo humanista, retomando a mitologia comparada, há vários autores que aceitam a evolução do mito e, alguns, afirmam que as histórias em quadrinho e os super-heróis são os mitos modernos. Não sem motivo, Thor aparece como um alienígena e se une aos Vingadores para enfrentar Mefisto (não que se referencia algum quadrinho específico com esta frase).

Porém, não se pode afirmar que todos os autores concordam que os mitos possuem um ancestral comum. Mesmo autores que afirmam a originalidade do Gênesis e, consequentemente, que alguns derivam dele, podem discorrer que há mitos simplesmente baseados em tentativas de explicar os fenômenos naturais numa abordagem típica de Sir James Frazer.

E, para os que têm o mínimo conhecimento de helenismo, é fácil perceber que há uma gradualidade em que os mitos podem mudar de significado. Ainda mais se considerar-se a romanização. Evidente que alguns autores extrapolam para afirmar que os mitos gregos derivam de outros mitos e, factualmente, procuram um originário. Alguns, inclusive, afirmam a derivação do Gênesis de outros mitos supostamente mais antigos, mas essa é uma matéria para outro texto.

Por hora, basta destacar que o registro escrito mais antigo não significa que o mito seja, de fato, mais antigo. Basta conhecer a história da escrita para compreender o problema.

Mitos e Seleção Natural

O terceiro ponto é quase uma consequência dos outros, onde o argumento geral consiste em afirmar que os mitos são expressões diferentes de mesmas verdades. Porém, é possível afirmar que se tratam de mitos que não possuem uma verdade em comum e uma comparação entre mitos gregos e chineses é suficiente para perceber essa especiação.

A seleção natural consiste em afirmar que os melhores mitos fundam as melhores civilizações e estas são as mais aptas a sobreviverem.

Conclusão prática

Disso, é possível perceber que o darwinismo nada mais é que a aplicação de certos postulados teóricos ao campo da biologia. Dizendo de outra forma, não é uma tese revolucionária, mas conservadora. Porém, há um elemento que ainda vale ser discutido: a literatura fantástica e de ficção como que formam a mitologia contemporânea. Ou seja, elas existem para atualizar os mitos ou substituí-los?

Se elas existem para atualizar os mitos, o que se faz é adaptar a mitologia antiga aos novos conhecimentos científicos. Porém, por mais que se queira afirmar o contrário, o Thor dos nórdicos e o da Marvel não são simplesmente intercambiáveis. A diferença substancial entre eles faz com que, no máximo, haja elementos estéticos que os una.

Mantendo o argumento, talvez ainda seja uma situação transitória, ou experimental, onde se procura “experimentar” interpretações até que os acadêmicos realmente façam uma avaliação mais adequada e concluam se há como atualizar os mitos à nova cosmovisão ou não.

Supondo um segundo caso, onde tal literatura entre em substituição à mitologia antiga, é possível se perguntar se a mitologia antiga já não foi a substituição de outra mitologia mais verdadeira.

Substituições Mitológicas

Evidente que a substituição possui níveis, podendo ser total ou através da ressignificação, como o caso do estoicismo que esvazia a religião grega de seu conteúdo religioso procurando manter o conteúdo moral. Algo que não lhe é único. Tal substituição, na prática, não é absoluta porque há uma manutenção estética (considerando-se as palavras, principalmente). Porém, deve-se considerar que é uma substituição na medida em que o que se mantém dos mitos é subordinado a uma perspectiva moral diversa, exatamente porque esvazia o conteúdo propriamente religioso.

Por fim, se tal já aconteceu com os mitos clássicos, deve-se perguntar se tal não foi o caso do Renascimento ou da Revolução Científica para realmente entender o que se passou.

Agora, isso é matéria para outra discussão.


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By Henrique Inácio Weizenmann

Psicopedagogo, mestre em comunicação, estudante de cultura, imaginário e controle social.

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