Os Governos acostumaram-se a prometer almoço grátis, mas desenvolveram níveis de sofiticação elevados para que os cidadãos não percebam que isso é impossível
A Lei dos Mercados de Say defende a verdade evidente de que oferta e demanda são dois lados da mesma moeda. Ou seja, pode-se considerar a produção econômica tanto como oferta quanto como demanda. Sendo assim, mede-se a demanda pelo que os produtores produzem. Assim como mede-se a oferta pelo que os produtores produzem.
Em estado de natureza, a demanda econômica de cada um depende e é medida por sua produção. A sobrevivência exige que as pessoas trabalhem para esse fim. Com o surgimento da civilização, os produtores começaram a negociar entre si, trocando algo que tinham por algo que desejavam.
Algumas pessoas encaravam essa atividade e decidiam que poderiam conseguir o que queriam sem trabalhar. Assim, viam um “almoço grátis” disponível para quem quisesse. Thomas Paine os descreveu como “gangues inquietas” que “intimidavam os quietos e indefesos para comprar sua segurança por meio de contribuições frequentes”. Embora especulasse sobre a origem da “raça dos reis”, sua caracterização aplica-se a qualquer sociedade governada pela força.
Coerção e Roubo Institucionalizado
Sob o regime coercitivo, que caracteriza os Estados atuais, todo produtor sujeita-se ao confisco de parte da produção para sustentar a classe dominante. Conquanto os governantes geralmente garantam aos seus cidadãos que o confisco é necessário para seu benefício. Todavia, o fato de ser coercitivo significa que as pessoas não têm escolha. Ao contrário dos mercados, nos quais as pessoas negociam como iguais, os Estados estabeleceram um sistema de obediência a elite dominante para obter o que desejavam. No entanto, para ocultar a natureza dessa relação, as gangues inquietas adotaram nomes que soavam civilizados. Por exemplo, “contribuições” e “governo”.
Dizer que a recompensa que o governo recebe é “gratuita” é um tanto enganoso, visto que a criminalidade exige um esforço sustentado, muitas vezes complexo, na forma de propaganda, burocracia, polícia e relações estreitas com os principais atores econômicos, como o presidente Trump faz. Independentemente do que possa fluir do governo para seus cidadãos, o arranjo é tal que o fluxo de receita do governo só cessará se matar a galinha dos ovos de ouro .
Com o tempo, as economias adotaram o dinheiro para facilitar as trocas. Mas aí que o roubo atingiu níveis extremamente sofisticados.
Dinheiro e Almoço Grátis
O dinheiro é a mercadoria mais comercializável, e pode-se produzir mercadorias para enganar. Ademais, quando o dinheiro surgiu do mercado, as pessoas gradualmente passaram a negociar moedas de metais preciosos. Por exemplo, uma moeda de prata de uma onça podia parecer igual a outras, mas se a casa da moeda a diluísse com metais comuns, refletiria-se em seu peso. O imperador Nero iniciou a desvalorização grosseira do denário romano dessa maneira. As moedas cunhadas antes da fraude eram geralmente acumuladas de acordo com a Lei de Gresham (“dinheiro ruim expulsa o bom”).
No entanto, observe que num livre mercado — sem o decreto de César — o dinheiro bom expulsa o ruim, e a Lei, como declarada, está errada. Como Gary North aponta, “O livre mercado recompensa os produtores de produtos e serviços que satisfazem o cliente. A definição de dinheiro ruim é dinheiro que o livre mercado recusa-se a usar”. Mas a natureza coercitiva do governo viola o livre mercado.
César estava obtendo algo em troca de nada por meio d’uma forma sutil de roubo, apoiada pela ameaça de morte. Novamente, o saque roubado exigiu um esforço significativo por parte dos ladrões e diminui a acusação de um “almoço grátis”.
Os ladrões de Hoje
A ideia de César amadureceu e tormou os líderes de terno de hoje. A desvalorização da moeda não é mais vista como fraude, mas gestão inteligente do dinheiro. Bancos, como depósitos de dinheiro ou instituições de poupança, há muito praticam o sistema bancário de reservas fracionárias como uma conduta empresarial ética.
Desfalque? Dificilmente. Quando os bancos não conseguiam atender às demandas d’uma corrida bancária, o governo frequentemente permitia que continuassem operando sem resgatar as moedas de ouro ou prata dos depositantes. Se as pessoas não levarem as pessoas a duvidar da solvência de seus bancos, um argumento é válido, não haveria crise.
Para a maioria das pessoas hoje em dia, a ideia de papel-moeda como recibo de moedas com valor de mercado é extremamente estranha. Para o governo, é assim que eles querem. Quando FDR emitiu a Ordem Executiva 6102 em 5 de abril de 1933, proibindo os americanos de acumular ouro, a separação do dinheiro de seus recibos começou. Logo, os recibos tornaram-se o próprio dinheiro. Mas o ouro não perdeu o valor repentinamente. Somente o governo poderia acumulá-lo, o que fez em Fort Knox, onde derreteu as moedas em barras. Como pode-se inflar o papel à vontade, os especialistas decidiram que a inflação monetária era necessária para acabar com a Grande Depressão.
Inflação e Monetarismo
Desde pelo menos 1755, quando Richard Cantillon publicou “Um Ensaio sobre Teoria Econômica”, sabe-se que o dinheiro novo entra na economia em pontos específicos. Isto é, não em todos os lugares ao mesmo tempo. Aqueles que recebem o dinheiro novo primeiro, como funcionários do governo, conseguem gastá-lo antes que os preços subam. Aqueles que o recebem mais tarde são prejudicados com preços mais altos.
Assim, a Era da Inflação começou com as elites beneficiando-se do novo dinheiro, enquanto o restante da população permanecia alheio ao motivo pelo qual os preços sempre sobem,. Ademais, muitas vezes culpando capitalistas gananciosos com uma sede insaciável por lucros. Para aqueles que recebiam o dinheiro assim que saía da gráfica, isso tornou-se o Santo Graal do governo. Ou seja, o “almoço grátis” que finalmente encontrou.
A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda de John Maynard Keynes, publicada em 1936, que forneceu a cobertura intelectual para o mandato do governo para a inflação. Talvez mais do que o próprio Keynes, seus muitos discípulos influentes, elevaram seu livro a um status quase religioso. Por exemplo, o rei dos livros didáticos Paul A. Samuelson, Alvin H. Hansen de Harvard e o biógrafo de Keynes, RF Harrod.
O Almoço Grátis em Keynes
A declaração de palha de Keynes sobre a Lei de Say — a oferta cria automaticamente demanda suficiente para o pleno emprego — mostrou-se através dos formuladores de políticas como ideia falha numa era de alto desemprego. Era hora de descartar Say para resolver o desemprego pelo aumento da demanda. Mas especificamente os gastos do governo alimentados pela imprensa. Se as pessoas estivessem desempregadas, faça-as cavar buracos e pagá-las com dinheiro que não pudessem resgatar.
Na formulação de Say, como observado no início, oferta e demanda denotavam a mesma coisa: produção. Portanto, a produção era a base tanto da oferta quanto da demanda. O governo, munido de moeda fiduciária, podia ignorar a produção. Assim como, essencialmente, reivindicar a produção de terceiros. Alguns chamariam isso de almoço grátis, outros de roubo.
Publicado originalmente em Mises Wire, via Mises Institute, intitulado “Government’s Eternal Hunger for a Free Lunch“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.
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