Profissões são mais do que ofícios e empregos de entrada com salários mais baixos têm grande importância que a cultura empresarial precisa mensurar
Não é estranha a história onde um jovem, o caçula, após sair de casa, ao invés de buscar por um dos empregos de entrada, decide iniciar um negócio. Sendo assim, usa o antigo quarto descoupado na casa dos pais como depósito. Porém, acontece algo e um dos irmãos mais velhos precisa voltar a morar com os pais. Logo, não usará mais o quarto como estoque, e, não raro, o negócio simplesmente acaba. Porque, a partir daquele momento, os custos com o estoque são mensurados e inviabilizaram a empreitada.
Custos Não Mensuráveis
“Custos não mensuráveis” inexistem, na prática. O que existe é situação de difícil mensuração ou na qual não é feita. Ou seja, sempre é possível saber o quanto tais custos pesam. Contudo, em geral, o cálculo é muito mais preciso só depois que um investimento vira prejuízo.
Outro exemplo, os amigos que criam uma empresa e, n’algum momento, brigam e a encerram. Enquanto a empresa (tomando como nome genérico para “CNPJ”) existia, todos prosperavam e a matemática era fácil. Todavia, assim que parou de operar, estão com um custo elevadíssimo e ninguém sabe a origem de tantas dívidas. Porque, ao fim, a empresa valia mais que a soma dos nomes dos amigos. E não há uma equação que reflita essa regra da filosofia.
Inclusive, é o motivo de “negócios de família” manterem-se. Isto é, filho de advogado de sucesso tem muito mais chance de ser um bom advogado por dois motivos:
- 1) porque cresce ouvindo histórias e aprendendo;
- 2) porque tem mais incentivos, afinal, os filhos dos clientes do pai tendem a ser clientes do filho.
Porém, o nome da família vale mais que o nome do filho e do pai juntos. E, ao destruir o nome da família, um filho consegue destruir mais que o próprio futuro. Ademais, essa situação é a base da defesa da monarquia pelo direito natural.
Automação
Ninguém nega os benefícios da automação. No entanto, com o tempo, alguns inconvenientes começam a aparecer. Por exemplo, ir numa confeitaria e não pode tomar um cappuccino porque, literalmente, o botão “cappuccino” da máquina estragou. E, ao mesmo tempo, todos os ingredientes para um cappuccino até melhor que o feito pela máquina estão lá. Aliás, às vezes, só para a ironia ser completa, os ingredientes para fazer pela máquina estão lá.
A quase onipresença dos totens de atendimento também começa a gerar problemas. Entretanto, de fato, em termos de franquia, até ajudam. E não há porquê dizer que alguém terá a carreira prejudicada por não trabalhar como atendente.
Não há algo a se aprender de profissão como atendente para além de matemática para dar o troco. Porém, como todos andam usando cartão, não há troco para ser dado. O problema, na verdade, é a queda dos empregos de entrada.
Contudo, o mesmo não se aplica para a profissão de barista. Numa rápida pesquisa na Amazon, é possível encontrar 300 receitas com café. E aprender essas receitas é mais que aprender porções, mas aprender técnicas. É o que separa o garçom do barman. Há um show que precisa ser efetuado para a entrega do drink. Pizzaiolos também têm disso.
Claro que parte dessas profissões pode ser aprendida em casa e sozinho. Porém, o custo individual é mais caro que para uma empresa disposta a ensinar. E, se as empresas esperarem as pessoas aprenderem sozinhas para contratarem, ficarão sem empregados.
Por isso, os empregos de entrada são necessários.
Cursos Técnicos e Empregos de Entrada
Em tese, cursos técnicos deveriam suprir, ao menos parcialmente, as necessidades de um emprego de entrada. Porém, elementos como cultura empresarial e a quase infinidade de softwares de gestão de tarefas tornaram algumas profissões mais difíceis do que seriam.
Para alguns casos, existem poucas opções. Arquitetos, em geral, usarão o autocad. Enquanto diagramadores de livros, em geral, usarão o Canva ou o Adobe Indesign. Ademais, as faculdades podem ensinar essas ferramentas. Porém, uma coisa é a faculdade ensinar as ferramentas. Outra é a pessoa adquirir a experiência com ela para produzir arte e ganhar habilidade para fazer algo com velocidade.
Outro problema, maior, é quando as empresas mudam tão rapidamente que os cursos não têm tempo de adaptar os currículos. Assim sendo, no intervalo de uma pessoa entrar no curso e procurar emprego, já precisa de um novo curso.
Portanto, a importância dos empregos de entrada é pagar um baixo salário que não só incentive, mas justifique a pessoa investir tempo em aprimorar as habilidades. Mas isso é um problema sério! Porque muitos conhecem histórias de “profissões do futuro” e, hoje, conhecem desempregados que apostaram na faculdade que dar-lhes-ia a profissão que não veio.
E não adianta só culpar as leis trabalhistas. Pois a Faria Lima também votou no Lula.
Ninguém Nasce Pronto
E o futuro, apesar de incerto, dificilmente será tão diferente do presente. Mas também significa que uma pessoa precisa de um emprego de entrada, onde só começe a fazer dinheiro com o próprio trabalho, mas aprenda a trabalhar.
Afinal, uma profissão é mais que um ofício, envolvendo as tais habilidades interpessoais que, em geral, só se aprendem com bons gestores. Pois alguém pode aprender tudo referente ao ofício sozinho, mas é difícil aprender as tais habilidades sociais por conta.
Alternativas? Uma delas são os contrários temporários e a PJotização. O ponto é que as empresas precisam de uma mentalidade maior que simplesmente “melhor ganho, com o menor custo”. Isto é, precisam aprender a construir um patrimônio imaterial que manifesta-se no relacionamento que os funcionários têm com a empresa.
Lealdade não tem preço. A máfia sabe disso. Conquanto, quando as empresas aprenderem, perceberão que os empregos de entrada, com salários mais baixos, podem atrair certos bons profissionais.
