A greve pró-Palestina, que visava “dar ao conflito uma dimensão trabalhista”, enfrentou críticas por ser convocada quase imediatamente após o anúncio de um acordo de paz em Gaza
Segundo os dados da Comunidade de Madri, também de administrações regionais, a participação nas greves foi “praticamente inexistente” na maioria dos setores. Na educação, por exemplo, as Ilhas Baleares relataram menos de 4% de participação, enquanto o transporte — um setor com requisitos mínimos de serviço garantidos — operou com 50% a 75% da capacidade normal. Apenas na Catalunha e em algumas universidades houve relatos de bloqueios de trânsito e piquetes, com incidentes isolados de tensão na Universidade do País Basco.
Greve promovida pela Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) como uma paralisação geral de 24 horas. Porém, parcialmente apoiada pelas Comissões Operárias (CCOO) e pela União Geral dos Trabalhadores (UGT). Mais de 500 filiais sindicais e cerca de cinquenta associações pró-Palestina e estudantis aderiram ao chamado.
Os organizadores denunciaram “a ocupação ilegal de territórios palestinos” e exigiram um cessar-fogo permanente. Assim como acesso imediato à ajuda humanitária, a suspensão dos acordos comerciais com Israel e a criação d’um Estado Palestino soberano. “O mundo do trabalho também deve se posicionar contra o genocídio”, declarou o secretário-geral da UGT, Pepe Álvarez. Unai Sordo, seu homólogo na CCOO, acrescentou que o objetivo era “dar ao conflito uma dimensão trabalhista”.
Apesar dessas explicações, diversos setores criticaram a decisão de convocar a greve imediatamente após o anúncio do acordo de paz em Gaza. Para seus detratores, o dia teve um caráter político e não trabalhista e serviu para reforçar o alinhamento entre o governo e os principais sindicatos — algo cada vez mais comum na política espanhola.
Coincidências políticas e contexto nacional
O dia do protesto coincidiu com a audiência do ex-ministro socialista José Luis Ábalos perante a Suprema Corte em casos de corrupção ligados ao Partido Socialista — uma coincidência que não passou despercebida na mídia e nas redes sociais. Alguns analistas interpretaram a greve como “uma manobra de distração” que forneceu ao governo uma agenda alternativa para dominar o ciclo de notícias.
Ao mesmo tempo, a greve ocorre em meio a um crescente descontentamento econômico. Associações comerciais descreveram o novo sistema de contribuição para os trabalhadores autônomos, em vigor desde 2023, juntamente com as últimas medidas anunciadas pelo Ministério da Inclusão para 2029, como “um fardo insustentável” para a rede de pequenas empresas da Espanha. Nesse contexto, percebeu-se o chamado sindical pela comunidade empresarial como “desconectado das reais preocupações dos trabalhadores”.
Fontes do Ministério do Trabalho observaram que greves “internacionais ou políticas” não são proibidas na Espanha, desde que estejam vinculadas à defesa dos direitos humanos. No entanto, a baixa participação e a falta de impacto econômico colocaram em dúvida a utilidade de uma mobilização que, além do seu simbolismo, teve alcance limitado.
Os sindicatos descreveram isso como um “sucesso moral” por ter “colocado a causa palestina na agenda social”. No entanto, seus críticos veem isso como evidência da perda de independência do movimento trabalhista espanhol. Pois cada vez mais próximo do poder político e mais distante dos problemas internos do país.
Publicado originalmente em The European Conservative, intitulado “Spanish Unions’ Strike for Palestine: Poor Timing, Limited Participation“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli.