Em meio a uma crise política, Luis XX, o chefe da Casa de Bourbon, Rei de jure e pretendente ao trono francês, lembra a todos de sua existência
Dado o caos que abateu-se sobre a França durante semanas, se não meses, todos procuram uma saída. Mas qual? O pretendente ao trono francês, Luís XX, Duque de Anjou e chefe do ramo mais antigo dos Bourbons, e como tal, Rei da França de jure, aproveitou a oportunidade para publicar um artigo de opinião na imprensa francesa. Uma alternativa à crise do regime?
Luis XX na Imprensa Francesa
Esta não é a primeira vez que Luís XX manifesta-se na imprensa francesa. Pois gosta de lembrar ao povo francês de sua existência de tempos em tempos, especialmente quando em períodos de crise. Na época da crise dos coletes amarelos (2018), Luis XX expressou publicamente seu apoio ao movimento. Por conseguinte, uma delegação de coletes amarelos visitou a Capela Expiatória, construída em memória de Luís XVI. E na qual celebra-se uma missa todos os anos na presença do herdeiro do trono para lembrar o Rei mártir da Revolução. Ademais, para agradecê-lo e, de certa forma, prestar-lhe homenagem.
Desde então, manifesta-se durante a crise da reforma da previdência e a mobilização de agricultores revoltados. Interessa-se particularmente por debates sociais, como a inclusão do aborto na Constituição e a introdução da eutanásia na França. Sendo assim, defende uma visão de humanidade baseada nos ensinamentos tradicionais da Igreja Católica. Isto é, comprometida com a dignidade da vida humana desde o seu início até a sua morte natural.
Os principais jornais franceses de todas as tendências políticas publicam as declarações ocasionais de Luís XX. Com exceção, é claro, da imprensa de extrema esquerda, que considera-se descendente direta dos fanáticos que decapitaram seu ancestral e orgulha-se disso. Seria uma paixão meio assumida pela monarquia? Ou uma forma desses meios de comunicação aumentarem sua circulação com umas publicações inusitadas que adicionam um toque de fantasia à melancolia predominante? Contanto, o jornal diário Le Figaro publicou de bom grado seus desejos para 2023. Enquanto a revista semanal Marianne deu-lhe uma plataforma para manifestar-se contra a eutanásia.
Desta vez, o Le Journal du Dimanche, de propriedade de Vincent Bolloré, publicou o artigo de opinião do Duque de Anjou.
A Mensagem do Monarca
A mensagem do Rei de jure é clara, espiritual e historicamente esclarecida. Assim como a observação é lúcida: “A Quinta República está à beira do colapso”. Luís XX reconhece, mais uma vez, o fracasso do sistema republicano, que encontra-se em crise desde que substituiu a monarquia na França. A conclusão é clara: “as instituições republicanas e a classe política não estão à altura dos desafios da época”. Luís XX certamente concordaria com De Gaulle, a quem atribui-se esta afirmação provavelmente apócrifa
“Devemos admitir que a República não convém à França se ela sente a necessidade de mudá-la com tanta frequência”.
Mas o Rei não é o único impaciente. Nas redes sociais, para quem consegue ler nas entrelinhas e entre as postagens, vozes reconhecidas da direita levantam-se para nos lembrar que, quando a república descarrila, sempre há saída. É o caso do ensaísta Julien Rochedy, levantando a ideia d’um “golpe de Estado monárquico”. Assim como do jornalista Régis Le Sommier, que trocaria de bom grado um “monarca republicano” por um “Rei de verdade”.
O Retorno do Rei
Luis XX explica que estamos “numa encruzilhada” e “cabe a nós aproveitar estas oportunidades para que a França redescubra o caminho ao seu destino glorioso e a prosperidade feliz”. Portanto, a herança monárquica deve ser tanto “uma inspiração” como “uma esperança”.
Tudo isso é muito bom. Mas os fãs de Tolkien e outros admiradores do retorno do Rei num cavalo branco certamente terão que esperar um pouco mais. As declarações de Louis são perspicazes, mas vagas. Conquanto reitera os princípios porque é para isso que está lá. Mas tomar o poder não parece participar de sua agenda imediata. Ele personifica a realeza legítima, que, por definição, não rebaixar-se-á a impor-se por meio d’um golpe de Estado.
Portanto, permitam-nos uma conclusão muito pessoal: uma restauração, sim, três vezes sim! Mas certamente teremos que dar uma ajudinha à Providência. Ou retornar àquelas eras um tanto vigorosas nas quais conquistava-se o poder pela espada. O Rei Clóvis não discordaria — e com ele que batizou-se a França.
Publicado originalmente em The European Conservative, intitulado “Instead of Macron, Why Not Try a King?“. Traduzido por Roberto Lacerda Barricelli