Para os ativistas do aborto, os fatos de casos como de Izabela não são relevantes — o que importa é como ‘apresentar’ e usar esses fatos em causa própria
A justiça considerou três médicos poloneses culpados em conexão com a morte de uma mulher grávida de 30 anos chamada Izabela. A mulher morreu de sepse e tornou-se um símbolo dos grandes protestos contra pró-aborto em todo o país.
O Caso Izabela
Em setembro de 2021, internaram Izabela no hospital em Pszyncyna, no sul da Polônia, com 22 semanas de gravidez. Ademais, seu filho ainda não nascido apresentava graves defeitos de desenvolvimento. Por isso, ela solicitou um aborto, mas negraram o pedido devido às leis pró-vida da Polônia. Como noticiou a BBC, “sua família disse que adiraram o atendimento para salvar sua vida porque os médicos temiam violar as leis do aborto. Uma investigação concluiu que não era o caso, mas foram considerados culpados de colocar diretamente em risco a vida dela”. Em resumo: as leis pró-vida da Polônia não tiveram relevância para sua morte.
No entanto, ativistas pró-aborto apresentaram a morte de Izabela como uma consequência direta das leis pró-vida, e usaram o caso para alimentar mais os protestos. Ademais, começados em 22 de outubro de 2020, depois que o Tribunal Constitucional decidiu pela inconstitucionalidade do aborto em caso de deficiência como a Síndrome de Down. Por consequinte, um protesto em Varsóvia reuniu 100.000 pessoas. Mas vários transformaram-se em tumultos, com ataques e vandalismo contra igrejas. A alegação dos manifestantes era simples e contundente: leis pró-vida matam mulheres.
Manual de Ativistas Pró-Aborto
Os protestos poloneses seguiram à risca o manual de ativistas pró-aborto. Em 28 de outubro de 2012, Savita Halappanavar morreu de choque séptico causado por infecção bacteriana num hospital na Irlanda. Diversas investigações — incluindo um inquérito do legista — concluíram que morreu por causa d’um “infortúnio médico”. Porém, ativistas pró-aborto insistiram falsamente que faleceu porque negaram-lhe o o aborto, lançando campanha nacional com seu rosto como símbolo.
Como detalhei em meu livro de 2020, “Patriots: The Untold Story of Ireland’s Pro-Life Movement”, ativistas usaram com sucesso o caso Halappanavar para vencer o referendo sobre o aborto de 2018. Portanto, persuadindo a Irlanda Central de que a 8ª Emenda à Constituição Irlandesa, que protegia as crianças no útero, precisava ser revogada, para proteger outras mulheres como ela. Todavia, quando as pesquisas pareciam voltar-se à causa pró-vida, ativistas do aborto espalharam fotos do rosto de Halappanavar por Dublin, nas últimas semanas da campanha.
Halappanavar não morreu porque negaram-lhe o aborto, mas morreu depois de negarem-lhe o aborto. Entretanto, jornalistas e ativistas concluíram que deveriam ignorar tal distinção. Conquanto a falsa narrativa de que Halappanavar — e Izabela — morreram por causa de leis pró-vida seria propagada. Logo, forçando o público à falsa escolha entre a vida das mulheres e a vida dos bebês em gestação. Quando as investigações médicas provaram que as mulheres morreram por incompetência ou erro médico, a narrativa ativista do aborto havia enraizado profundamente. Portanto, a verdade tornou-se irrelevante.
Investigações, Fatos e Condenações são Irrelevantes para Ativistas
Os três médicos envolvidos na morte de Izabela pagaram por sua incompetência. Um deles, identificado como Andrzej P., acusado de homicídio culposo. Mas também condenado a 18 meses de prisão e proibido de exercer a medicina por seis anos. Um segundo, Michael M., condenado a 15 meses de prisão e igualmente proibido de exercer a medicina por seis anos. O terceiro, Krzysztof P., recebeu pena suspensa de um ano e proibição de exercer a medicina por quatro anos.
No entanto, ativistas pró-aborto permanecem determinados a garantir que a morte de Izabella continue sendo útil. “Nenhuma decisão trará Izabela de volta”, disse Antonina Lewandowska, coordenadora nacional de advocacy do grupo feminista Federa, à BBC. “É ultrajante que a decisão seja tão branda, dado o crime apresentado ao tribunal… A decisão é positiva, mas a justiça feita apenas parcialmente. Tal veredito não repercutirá na comunidade médica, que hesita em realizar abortos, para dizer o mínimo”.
Como a investigação concluiu que negligência médica, e não a negação do aborto, levou à trágica morte de Izabela, a decisão descontentou os ativistas. Pois desejam que Izabela seja sua Savita Halappanavar e os fatos do caso são irrelevantes — importa só como apresentar e usar esses fatos. É uma estratégia de propaganda incrivelmente eficaz e poderosa; por isso que até artigos jornalísticos objetivos citam as conclusões da investigação. Porém, apressam-se em enfatizar o aspecto do aborto na história.
Mais Izabelas para o Manual?
O mesmo manual usam atualmente nos Estados Unidos, onde ativistas apresentam a mesma falsa escolha. Porém, n’alguns casos, alegam que mulheres mortas por aborto, na verdade, morreram por causa de leis pró-vida. Ativistas tentaram a mesma tática em Malta, onde uma turista a quem negou-se um aborto, posteriormente voou à Espanha para obtê-lo. Logo, apresentaram como o caso d’uma mulher que talvez morresse devido às leis pró-vida de Malta. Todavia, e felizmente, reação massiva pró-vida forçou o governo a recuar e abandonar os planos de legalizar o aborto. Portanto, Malta continua sendo o único país da UE onde os fetos são totalmente protegidos no útero.
De fato, a Polônia pró-vida tem uma taxa de mortalidade materna significativamente menor do que a de países europeus com aborto legal (uma das mais baixas do continente). Mas também, antes de 2018, a Irlanda tinha taxa de mortalidade materna menor do que Inglaterra, Escócia e País de Gales, onde o aborto era legal. Os regimes pró-vida europeus provaram definitivamente que é possível proteger a mãe e a criança perante a lei sem sacrificar os cuidados maternos. Contudo, esses fatos são irrelevantes para os ativistas do aborto, porque suas campanhas não são sobre saúde materna — mas sobre aborto. Porém, objetivamente, os fatos importam, e proteger mulheres e crianças é possível — e essencial.
Originalmente publicado em European Conservative, sob o título “Pro-Life Laws Didn’t Kill Izabela —Medical Incompetence Did“. Tradução: Roberto Lacerda Barricelli. Título adaptado para a compreensão em língua portuguesa.