Mary Shelley não resume-se ao clássico do horror (Frankenstein), tampouco às mentiras do Movimento Feminista para tentar capturar a memória dessa gigante da literatura universal
Mary Shelley é reconhecida por “Frankentein”, um clássico do Horror, e seus eforços de propaganda do trabalho do marido, o poeta Percy Bysshe Shelley. Todavia, poucos sabem que sua mãe era a escritora e propagandista feminista Mary Wollstonecraft, e seu pai, o radical William Godwin. Portanto, era-se de esperar que Mary Shelley, nascida Mary Wollstonecraft Godwin, seguisse os passos da mãe, tornando-se uma feminista, com agravantes de radicalismo do pai. Entretanto, tornou-se uma Universal da Literatura.
Mary Shelley – A Universal
Por um desses ditames do destino – amparado pela Divina Providência -, Mary Wollstonecraft faleceu apenas 10 dias após dar à luz à segunda filha. Aliás, a primeira fora d’um relacionamento adúltero, com homem casado, o especualdor americano Gilbert Imlay. Contudo, Godwin assume ambas, devotando-se à criação e educação das moças. E ainda assim erperar-se-ia que o autor de Memoirs of teh Autor of A Vindication of the Rights of Woman (1798) cria-se as filhas dentro da filosofia da mãe… Algo que escolheu não realizar!
Ao contrário, a futura Universal recebeu educação acima do comum para uma moça de sua época, mas apenas a filosofia política do radicalismo de seu pai inseriu-se na ‘grade’. E por esses etudos, desenvolveu o que Godwin chamou “uma mente ativa, um tanto imperativa e singularmente brilhante”. N’alguns pontos seguiria os passos da mãe, para o bem e para o mal, mas não em sua filosofia, tampouco na literatura.
Estadia dos “Shelley” com Byron
Durante sua estadia com o futuro marido em casa de Lord Byron, e por uma disputa proposta pelo anfitirão para produzirem contos de terror… Nasceu um clássico do Horror: Frankenstein ou O Prometeu Moderno. Porém, contanva apenas 16 anos, já engravidara do amante, e passou a ser esposa de Percy B. Shelley só aos 19 anos. Nesse meio tempo, publicou Frankenstein, primeiro por uma pequena editora, sem os créditos a seu nome, em 1818, depois, por duas maiores, sendo a 3ª edição (1931) a definitiva.
O leitor percebeu que não é um artigo para falar de Frankenstein? Não abordarei profundamente a obra, pois o interesse é na biografia da autora. No máximo, destaco sua preocupação genuína com os excessos que tornavam a ciência de sua época num fanatismo ideológico preocupante. Princiálmente por aqueles centistas que queria ‘destronar Deus’; e qual a melhor forma do que descobrir como criar a Vida, como Victor Frankenstein? E como melhor demonstrar a rejeição a tudo, do que fazendo o personagem sofrer as piores perdas e provação, acabando num final trágico?
Mary Shelley – A Esposa Dedicada
Então Mary Godwin, já em sua estadia com Percy em casa de Byron, chama a si mesma de “Sra. Shelley”. E apesar de ser a amante, grávida, enquanto a esposa original também estava grávida. Neste ponto, repetira o erro de sua mãe, mas se dizia apoiar a ideia de ‘amor livre’, demonstrava repulsa ao recusar-se à prática E se seu pai e amante eram defensores da ideia do casamento como uma ‘instituição opressora’, mostrou vocação e vontade de ser esposa. A “Sra. Shelley” entregou seu coração ao Sr. Shelley, e assim permaneceu, casando-se após o suicídio da primeira esposa dele: Harriet.
E tanto dedicou-se a apoiar e divulgar os esforços literários do marido, que a conhecemos por seu clássico, mas há pouco a redescobrimos por outras obras, contos, romances etc. Uma parceira incansável de Percy B. Shelley, mesmo quando este gastava mais do que produzia, e via-se envolto e dívidas. Tendo até que fugir de casa por alguns períodos, evitando os credores. Ainda suportou os interesses amorosos do marido fora do casamento – o que pode tê-la influenciado a declarar apoio à ‘não crença’ de Shelley na exclusividade do casamento. Apesar de juntar casais em seu próprio cícrulo de amigos, e não praticar o ‘amor livre’.
Logo, seu pecado coube a Deus julgar, e rezo para que Ele a tenha perdoado e recebido. Afinal, demonstrou em vida aquelas virtudes exigidas d’uma boa esposa cristã. Algo que jamais encontraríamos numa feminista, como sua mãe, Mary Wollstonecraft. Mas, nem mesmo em seu pai, que casou pela segunda vez para que as meninas tivessem uma mãe, e à segunda esposa mostrou-se devotado. Porém, continuou a defender o ‘amor livre’ (não como concebido depois por Karl Radek) e o radicalismo político, a revolução.
Morte do Marido
Percy a deixou ‘de lado’ enquanto dedicava poemas a atenção a outra, num dos momentos mais delicados da vida de Mary Shelley. Entretanto, o marido faleceu voltando a Lerici, Itália, durante uma tempestado que também vitimou o amigo Edward Williams, e um marinheiro de 18 anos, Charles Vivian. Sua morte prematura levou Mary Shelley de volta à Inglaterra no ano seguinte, por problemas financeiros.
Após a morte de Percy Shelley, Mary dedicou-se esxclusivamenta à duas ‘coisas’: cuidar e educar o filho e ao trabalho literário, principalmente a divulgação póstuma do marido (biografias, organização das obras etc.). Jamais voltou a casar, recusando o pedido do ator americano John Howard Payne. Mas, faltam dois aspectos muito importantes da vida de Mary Shelley. Vamos ao primeiro.
Mãe Vocacionada
De seu casamento, teve Mary Shelley quatro filhos, mas a tragédia abateu-se sobre essa mãe em três oportunidades. Primeiro, sua bebê de dois meses, em 1815, depois, a filha Clara (1818), e o filho William (1819), na Itália. Somente o quarto filho, Percy, sobreviveu à mãe. Tais perdas lhe foram tão devastadoras, que teve períodos de profunda depressão, ao ponto de escrever ao amigo Thomas Jefferson Hogg, em 1815:
Meu querido Hogg, meu bebê está morto – venha me ver logo que puder. Quero te ver – Ele estava perfeitamente bem, fui para a cama – acordei no meio da noite para amamentá-lo e parecia estar dormindo tão tranquilo que eu não quis acordá-lo. Ele morreu em seguida, mas não encontrámos “a causa” até de manhã – sua aparência mostra, evidentemente, que morreu de convulsões – Você pode vir – Shelley tem medo da febre do leite – para mim eu não sou mais uma mãe agora.
“Não sou mais uma mãe agora” são palavras brutais, que afligem a alma de qualquer indivíduo com um pingo de piedade e amor ao próximo. Conquanto somente o nascimento e sobrevivência do filho Percy a salvaram d’um destino pior; talvez o mesmo de Harriet? Já ao final da vida, passearia com o filho e alguns seus colegas pela Europa, escrevendo uma coleção de cartas. Aliás, o romantismo em Mary Shelley aflorava sempre que descrevia a natureza, as mais belas paisagens, em suas obras.
Também recusou entregar o filho a um tutor, como porposto pelo sogro, Sir Timothy Shelley, que sempre desaprovou seu relacionamento com o filho. Ademais, Sir Shelley ameaçou não ajudar sequer o neto, se ela se envolvesse em publivação da biografia do marido. Só com a morte do irmão, filho do primeiro casamento de seu pai, com Harriet, Percy tornou-se herdeiro da propriedade Shelley. Mas seu avô deu pequeno aumento na ajuda anual.
Agora, voltarei um pouco no tempo, antes da morte de Percy, para tratar d’um assunto delicado, mas essencial.
O Momento mais Sombrio de Mary Shelley
Recorda-se o leitor de que citei a ausêncua de Percy num momento sombrio (talvez o pior) na vida de Mary Shelley? Pois ocorreu em 1822, quando grávida do quinto filho, sofreu um aborto, que só não a matou porque o marido a mergulho em gelo para estancar o sangramento. Essa perda doeu tanto em Mary, ou mais do que as anteriores, dos filhos já nascidos.
Tanto dor, que recusou-se às investidas do marido, caindo em profunda depressão – o que explica a mudança de atitude de Percy, que dedicou-se mais à eposa do amigo Edward, Jane Smith. Ainda que tivesse outros interesses amorosos ‘por fora’, n’outros momentos, não encontrei registros de que tratou-as com qualquer prioridade em relação à segunda esposa. O aborto não matou a matéria, mas quase levou a alma de Mary embora; que recuperar-se-ia somente na provação da morte do marido e a promessa de cuidar e educar o filho, que cumpriu.
Reformista e Conservadora
Na obra pós-apocalíptica “The Last Man”, Mary Shelley expõe profunda desilusão com os ideiais revolucionários, as ideias de progresso coletivo do iluminismo e mesmo uma crítica ao humanismo. Alude às opiniçoes do pai e da mãe sobre a Revolução em França, contudo, encontra represetante principal de sua opinião em Edmund Burke. Mas também explícita não crer nas propostas literárias do romantismo às questões sociais e políticas.
Por toda sua vida, Mary preferiu a abordagem gradual, reformista, cautelosa, com profundas preocupações com as questões da vida doméstica, das exigências sociais de decoro etc. Ora, somos todos indivíduos de nosso tempo, e a Universal soube ser de seu tempo, e avançada ao mesmo tempo, sem cair na armadilha revolucionária. Há críticos que desejam impor uma visão política radical, talvez para agradar a si mesmos ideologicamente. No entanto, se algumas posições eram ‘revolucionárias’, os meios escolhidos destoavam; até omitiu alusões ateístas em edições das obras do falecido marido.
Houve suavização do caráter reformista da escritora, e negar tal fato seria muy desonesto. Todavia, afirmar um radicalismo nas ações, quando podemos encontrar somente nas opiniões, e em menor grau em comparação ao pai, à mãe e ao marido, seria mais desonesto. Portanto, nesse sentido, Mary Shelley enquandrar-se-ia melhor na definição de conservadora inglesa. Ou seja, que deseja reformar a casa, mas não demolir e construir outra do zero, com uma arquitetura ‘inovadora’, idealista, combativa das tradições etc.
Crítica Contemporânea e Anacronismo
Críticos contemporâneos chamam-na frequentemente de “liberal”, sei lá porque cargas d’água. Por que ajudou duas amigas romanticamente envolvidas a fugirem à França? Ora, quem não ajudaria duas inocentes e escaparem da morte por ostracismo, ou pior, mesmo discordando de sua sexualidade? Isso não torna qualquer um liberal, ou revolucionário, mas uma pessoa decente. Etendo o que essa potura é avançada para a época, e nos perigo de cair em anacronismo. Mas, no geral, parece-me que Mary Shelley tinha justamente o espírito conservador de sua época, o mesmo de Edmund Burke. Inclusive, resumido nas palavras de Sir Roger Scruton
O conservadorismo é a filosofia do vínculo afetivo. Estamos sentimentalmente ligados às coisas que amamos e que desejamos proteger contra a decadência.
O conservadorismo advém de um sentimento que toda pessoa madura compartilha com facilidade: a consciência de que as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas. Isso é verdade, sobretudo, em relação às boas coisas que nos chegam como bens coletivos: paz, liberdade, lei, civilidade, espírito público, a segurança da propriedade e da vida familiar, tudo o que depende da cooperação com os demais, visto não termos meios de obtê-las isoladamente. Em relação a tais coisas, o trabalho de destruição é rápido, fácil e recreativo; o labor da criação é lento, árduo e maçante. Esta é uma das lições do século XX. Também é uma razão pela qual os conservadores sofrem desvantagem quando se trata da opinião pública. Sua posição é verdadeira, mas enfadonha; a de seus oponentes é excitante, mas falsa.
Mary Shelley feminista?
Bem! Mary Shelley dedicou-se com igual intensidade à ser esposa, mãe e suas atividades literárias. Porém, sofreu com a perda dos filhos e, soa óbvio, mais ainda com o que perdeu através de aborto. Manteve postura reformista, um espírito conservador de sua época, como o de Burke: radical no recurso e na defesa da Verdade, prudente nas ações. Mas seria anacrônico afirmar que não era feminista olhando para século XXI. Pois nem as feministas como sua mãe talvez concordassem com as feministras do séculpo XX, quiçá do XXI.
Todavia, dentro do espírito da Inglaterra Vitoriana, da agitação social e revolucionária de final do século XVIII e princípios, até metade, do XIX. Não encontramos na prática qualquer indício de feminismo, no máximo erros de juventude, como ser amante de Percy. Porém, sequer defendeu publicamente pautas caras ao movimento feminista de sua época, como o direito ao voto.
Quem afirma que esta Universal trouxe visões feministas à sua atividade literária, geralmente, julga que a inadequação da Criatura de sua magnum opus relaciona-se à opressão sobre as mulheres. Contudo, soa absurdo sequer supor que uma crítica demonstrável aos excessos da ‘ciência’ e das ideias revolucionárias de sua época, ao próprio radicalismo de Godwin e Percy, tem algo de feminista. Ou de simbólico com ‘opressão às mulheres’. Tanto, que encontramos mais a tentativa de equilíbrio da mulher entre as obrigações domésticas, no cuidado com a família, e sua valorização social. Ou seja, o desejo cuja prudência consiste em querer reformar a instituição da Família e as relações das mulheres com o poder, para preservar ambos e proteger da degradação.
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Ida ao Criador
Mary Shelley, nascida em Somers Town, Londres, a 30 de agosto de 1797, caminhou ao encontro com o Criador emChester, na mesma Londres, a 01 de fevereiro de 1851. Contava seus 53 anos, tendo vivido mais que sua mãe, mas menos que seu pai, que faleceu anos antes aos 80, e que o sogro, falecido aos 90. Porém, a mãe dedicada, viu-se cuidada por um filho e uma nora igualmente dedicados, em seus últimos anos. Os quais lutaram por sua memória e reconhecimento pr’além de “esposa de Percy Shelley”.
No aniversário da morte da Universal, Percy Florence e a eposa Jane Gibson St John, agora Lady Shelley, abriram sua escrivaninha. E nela encontraram mechas de cabelos de todos os queridos filhos que cedo partiram, e partes das cinzas e do coração de Percy Shelley, envoltos num pedaço de papel. Ademais, seda dentro de uma página dobrada do poema Adonais.
Referências (Principais)
- Bennett, Betty T. Mary Wollstonecraft Shelley: An Introduction. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1998;
- Carlson, J. A. England’s First Family of Writers: Mary Wollstonecraft, William Godwin, Mary Shelley. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2007;
- Shelley, Mary. Selected Letters of Mary Wollstonecraft Shelley. Ed. Betty T. Bennett. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1995;
- Shelley, Mary. Collected Tales and Stories. Ed. Charles E. Robinson. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1976;
- Shelley, Mary. Mary Shelley’s Literary Lives and Other Writings. 4 vols. Ed. Tilar J. Mazzeo. London: Pickering & Chatto, 2002;
- Shelley, Mary. Frankenstein, Or The Modern Prometheus (1831), Barnes & Noble Incorporated, 2017, ISBN: 9781542616492;
- Shelley, Mary. The Last Man, Paley, Morton D., Oxford World Classics, First Edition, 2008, ISBN: 9780199552351;
- Clemit, Pamela. “From The Fields of Fancy to Matilda.” Mary Shelley in her Times. Ed. Betty T. Bennett. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2003;
- Shelley, Mary, ed. The Poetical Works of Percy Bysshe Shelley. London: Edward Moxon, 1840. Google Books;
- Shelley, Mary. The Journals of Mary Shelley, 1814–44. Ed. Paula R. Feldman and Diana Scott-Kilvert. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1995.