A revolta popular pode restaurar a Monarquia e levar o herdeiro do último Shah de volta ao ‘trono’? Só falta combinar com os russos…
Enquanto alguns brasileiros almejam a restauração da monarquia. Enquanto tantos sonham com os tempos de glória do Império do Brasil… O povo iraniano se encontra em posição de factualmente levar seu príncipe de direito de volta ao ‘trono’ de seu pai. A contrarrevolução iraniana pode estar em curso, e ocorrerá se depender da liderança de Reza Pahlavi, filho do último Shah do Irã.
Levante Popular e Restauração da Monarquia
Reza Pahlavi convocou o povo do Irã a derrubar a ditadura de Ali Khamenei. O príncipe culpou o ‘Supremo Líder’ pela guerra com Israel e chamou seu regime de “fraco e dividido”. Clamou às forças policiais, de segurança e militares, que apoiem e protejam o povo. Ainda chamou o regime de “terrorista e moribundo”, pedindo à Comunidade Internacional que não ajude a ditadura a se manter no poder.
Como eu disse aos meus compatriotas: o Irã é seu e vocês devem reconquistá-lo. Estou com vocês. Mantenham-se fortes e venceremos
Não declarou intenção de restauração da monarquia no Irã. Sendo assim, declarou apoio à democracia secular e restabelecimento d’um regime que mantenha boas relações com Israel e o Ocidente. A mesma linha de seu falecido pai, o Shah Mohammad Reza Pahlavi. Só falta combinar com os russos…
A Revolução Iraniana
Até 1979, o Irã era uma governado por um monarca, gozava de ótimas relações com o Ocidente, em especial os EUA, e Israel, e se modernizava em relação às liberdades civis. Todavia, sua localização geoestratégica e seu potencial petrolífero, faziam desse ‘parceiro do Ocidente’ uma ameaça às pretensões da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) na região. O péssimo serviço de inteligência da CIA, as trapalhadas geopolíticas do governo Carter e seu ‘cerco defensivo’ – sob os péssimos conselhos de Zbigniew Brzezinski -, e a crescente onda de antissemitismo-nacionalista, criaram o ambiente necessário aos objetivos da desinformação soviética.
Havia transmissões de rádios e circulação de jornais supostamente nacionalistas, mas controlados pela URSS. Também houve ações de agentes de seleção, recrutamento e desinformação, treinados pela KGB sob a gestão de Andropov, dentro d’um curso específico para ‘políticas no Oriente Médio’. Essa onda nacionalista, bombardeada com propaganda soviética que atiçava seu fervor antissemita e antiamericano, finalmente levou à Revolução de 1979.
De monarquia esclarecida, um regime democrático, próspero e com enorme potencial, o Irã tornou-se uma republiqueta fundamentalista islâmica. Mas, não qualquer ‘islamismo’, mas o revolucionário. Aquele infiltrado por revolucionário antissemitas como Hassan al-Banna, marxista-leninistas como Sayyid Qutb e agentes financiados pelo KGB, como o aiatolá Ruhollah Khomeini. Do terrorismo ideologizado, treinado e armado pela agência soviética, para ataques como o sequestro do Airbus A300 da Air France, em Entebe, Uganda.
Terrorismo e Islã Revolucionário
Não é por acaso que no sequestro do avião, de 27 de junho a 3 de julho de 1976, agentes do Exército Vermelho, da Alemanha Oriental, ajudaram os terroristas da Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP). Mantiveram reféns mais de 100 judeus e israelenses e o piloto (não-judeu), com apoio da ditadura de Idi Amin. Isso forçou Israel a lançar a Operação Thunderbolt, rebatizada Yonatan, mas que entrou à história como Operação Entebbe. Foram mortos os 7 terroristas, 45 soldados de Uganda, 2 reféns e 1 militar israelense (o tenente-coronel Yonatan Netanyahu, irmão do atual premiê). Vingativo, Idi Amin mandou assassinar uma refém que se encontrava hospitalizada.
A FPLP, assim como a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), e outros grupos terroristas islâmicos, originou-se d’uma subdivisão da Irmandade Muçulmana. Esta, fundada por al-Banna e ideologizada por Qutb. Esses grupos receberam apoio direto da KGB, principalmente através de seu comandante na região: Vadim Alekseyevich Kirpichenko. Responsável por manter boas relações com Egito e Iêmen, também atuou no comando da operação Tempestade-333, quando a URSS derrubou o governo do Afeganistão e instaurou um regime pró soviético, em 1979.
O terrorismo islâmico é criação revolucionária e se expandiu com muito financiamento soviético. Ter regimes aliados aos EUA e ao Ocidente no Irã e no Afeganistão, era para a URSS o mesmo que para os EUA ter os mísseis soviéticos em Cuba. Uma nação aliada do inimigo no seu ‘quintal’. Derrubar a monarquia iraniana era imperativo.
Monarquia no Irã após 46 anos?
A restauração da Monarquia no Irã não foi aventada por Pahlavi, mas a presença de iranianos pró-monarquia em manifestações pró-Israel recebe destaque. Principalmente por agitarem a antiga bandeira imperial! Porém, o Príncipe indicou que há alguma solução imediata para o pós-queda da ditadura. “Não se preocupem com o dia após a queda da República Islâmica. O Irã não entrará num período de instabilidade e guerra civil”, declarou.
Numa das manifestações pró-restauração da monarquia, diversos iranianos se reuniram nos principais marcos históricos dos impérios Persa e Aquemênida. Notabilizaram-se os cânticos patrióticos a favor do retorno da monarquia. Inclusive, muitos gritavam o nome de Reza Shah, fundador da Dinastia Pahlavi, segundo o Iran International. O regime tentou diminuir as manifestações, mas falhou. O hino Ey Iran ecoou por todo país, associado à oposição à ditadura.
Os principais gritos eram de “Reza Shah, descanse em paz” e “Shah, volte para casa”. Ouvidos especialmente em Tous, próximo a Mashhad, onde fica o túmulo do poeta pré-islâmico Ferdowsi (século X). Chamando pelo nome do príncipe Reza Pahlavi, os manifestantes compararam Khamenei ao tirano Zahhak, famoso pela corrupção e repressão.
Há indicadores de que oficiais militares do Irã tentam contato com Reza Pahlavi, para expressar sua lealdade ao príncipe, numa possível transição de regime. Talvez seja o motivo da certeza de Pahlavi quanto ao pós-derrubada da ditadura islâmica.
Apoio dos Americanos à Monarquia?
Em 28 de fevereiro deste ano, Reza Pahlavi clamou ao presidente americano, Donald Trump, para não cair na retórica da República Islâmica. Pois perpetuará o terrorismo no poder. “Nas próximas semanas e meses, vocês verão uma face diferente da República Islâmica. Ela não falará a linguagem da jihad, da tomada de reféns ou do caos. Falará de acordos, interesse mútuo e pragmatismo”, declarou o príncipe.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou que há abertura às negociações com a Casa Branca sobre o programa nuclear, de enriquecimento de urânio. Israel atacou pontos estratégicos, para cessar o programa, devido aos níveis próximos do necessário para a produção de bombas nucleares. Apesar da suposta abertura de Pezeshkian, os demais líderes do regime e o líder supremo mantém sua postura contrária às negociações, prometendo acelerar o programa como resposta ao ataque israelense.
Os Estados Unidos têm uma escolha: tentarão usar a influência e esta oportunidade histórica para alterar fundamentalmente a trajetória do Oriente Médio e do mundo, ou cairão nos flertes de um regime islâmico radical e devolverão o Oriente Médio aos seus representantes radicais e terroristas?
Reza Pahlavi
O príncipe defende uma política de pressão máxima, que isole a ditadura e derrube a República Islâmica, sem recorrer ao belicismo. Sendo assim, expressou seus conselhos a Trump, através de carta publicada em 10 de janeiro de 2025. Em momento algum pediu apoio americano à restauração da monarquia.
Interesse da Rússia
Todavia, não podemos esquecer do maior player da região: a Rússia. Se foi o regime soviético, com base em Moscou, que levou os terroristas do islã revolucionário ao poder no Irã, é a Rússia (sic) ‘democrática’ (sic) que os mantém. Num momento de pressão internacional pelo fim da injusta guerra russa contra a Ucrânia, de tensões sobre Vladimir Putin, é possível derrubar a ditadura iraniana? Putin iniciou a guerra contra a Ucrânia supostamente em defesa dos interesses da Rússia; assim como no Irã em 1979, não podem aceitar uma nação soberana aliada ao Ocidente e aos Americanos em seu ‘quintal’.
Em 1979, a Guerra Fria entrava num período crítico e a URSS buscou consolidar seu poder e influência numa região estratégica da Ásia Central. Tanto Lênin como Trotsky apontaram a tal necessidade décadas antes dessas revoluções. Logo, num novo período crítico, devido à guerra russa contra os ucranianos, Moscou ficará impassível frente à retomada da influência americana e ocidental no Irã? Principalmente se voltar ao poder o herdeiro do antigo aliado americano? Mas há outro player de olho na situação, que pode agravar a necessidade de reação da Rússia.
E a China?
Se o Irã está no ‘quintal’ da Rússia, está na antessala da China. E Teerã mantém acordo políticos e econômicos vantajosos com Moscou e Pequim. Entretanto, não há qualquer acordo formal (comprovado) de apoio militar mútuo em caso de ataque. O mercado chinês te absorvido vastas quantidades do petróleo iraniano, permitindo sobrevida ao regime do Aiatolá. A participação do Irã na ‘diplomacia’ antiocidental, ou seja, contrária às influências das principais nações ocidentais como EUA, Reino Unido e França, também é de interesse da China e da Rússia.
Todavia, os chineses têm necessidade de manter plenamente abertos os mercados americano e europeu. A exportação de inflação através da venda de produtos industrializados em quantidade a preços camaradas e aquisição de terras e negócios em outros países, diminui os riscos do colapso econômico interno. E apesar das tensões com Hong Kong e Taiwan, a China já tem em sua região importantes nações mais alinhadas aos EUA e União Europeia, como a Coreia do Sul e o Japão. Na primeira, há cooperação militar com os americanos.
Portanto, como nada impede que a China mantenha acordos comerciais vantajosos com o Irã, e qualquer governo terá que manter boas relações diplomáticas com ambos os lados, mesmo que mais alinhado a outro, para evitar um novo 1979, o máximo que a China perder é um parceiro na Frente citada. Uma perda aceitável, para evitar sanções secundárias e dirimir ameaças à sua economia.
Opções Russas
Mas não é o mesmo para a Rússia! Esta já se encontra numa guerra em sua região, para impedir a expansão da zona de influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da UE. Ou seja, é de seu total interesse também impedir essa expansão ao Irã. Contudo, terá que escolher onde alocará seus recursos bélicos, pois uma ajuda considerável a Teerã pode significar diminuição militar contra Kiev. A saída óbvia é engolir uma derrota agora, para tentar reverter no futuro próximo. Pois não é provável que o Irã abandone a parceria econômica com o país de Putin, mesmo num novo alinhamento pró-ocidental. Afinal, um novo regime precisará de estabilidade política e econômica para perdurar.
Se a Monarquia for restaurada no Irã, significará um giro completo na política em relação a Israel. Sem o suporte iraniano, grupos terroristas como Hamas e Hezbollah tendem a perder força, e podem ser extintos. Nações diretamente envolvidas como Egito e Líbano terão que rever suas diplomacias. Não acredito na união da região, afundada em disputas étnicas, religiosas e políticas há séculos, e em revoluções e guerras brancas entre potências há décadas. Mas é possível alcançar alguma estabilidade e abrir espaço para reformas que promovam os direitos naturais, as liberdades civis e a diminuição das tensões e perseguições religiosas pelo islã revolucionário.
Até onde a Moscou suportará essa situação? O resultado da Guerra contra Kiev pode ser a chave. Porém, qualquer tentativa de responder agora é mero exercício de futurologia. Observemos!
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